sábado, dezembro 23, 2006

AINDA PRECISAMOS DE JESUS?



“625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
R. “Jesus.”
(Questão 625, do Livro dos Espíritos)


Apesar do vertiginoso avanço tecnológico, não temos conseguido ser mais felizes que nossos antepassados. Facilidades, futilidades e utilidades sim. Nem por isso somos mais felizes. Já não se anda descalço, se senta à porta, nem se faz casas de muros baixos, já não se respira ar puro, não se come alimentos frescos, não se nada em praias imaculadas. Na medida que a medicina avança, nos sentimos mais doentes e viciados em remédios, muitos dos quais são inócuos a vírus super-resistentes, mutantes. Doenças dadas como erradicadas, agora estão voltando e o risco de guerra bacteriológica não está afastado. Apesar das diversões e descanso, cada vez estamos mais cansados e sobrecarregados. Apesar dos planos de final de ano, cada vez menos metas são alcançadas e um monte de coisa se inicia sem se acabar. Compromissos são marcados e não são cumpridos. O progresso em tantas áreas, não nos garantiu uma convivência melhor. As guerras e as guerrilhas se espalham. Cada vez menos conversamos. Agora tudo é por e-mail ou mensagens. Já não se faz visita a amigos e, no próprio lar, a família só se encontra, no intervalo comercial da TV, às pressas na cozinha. Estamos mais sozinhos, apesar de rodeados de pessoas. A Internet que serve para aliviar a solidão e ampliar o conhecimento, serve também para espalhar e fomentar o preconceito, o racismo, a violência, a promiscuidade, a invasão da vida pessoal, as novas modalidades de crimes, a que preço? Não há senhas invioláveis, privacidade indevassável ou paz duradoura. No trânsito há uma guerra declarada, com direito a decalques agressivos nos carros. Cortes letais, freios bruscos, gestos grosseiros e esperteza fazem parte do cotidiano de nossas ruas. A cultura da deslealdade, da intolerância na convivência, do consumismo sexual e dos interesses escusos tem feito prosperar a indústria do divórcio, do aborto casual, das doenças sexualmente transmissíveis, das mães solteiras, da prostituição da classe média, dos filhos que não conhecem seus pais, dos pais que não reconhecem seus filhos, das mães que usam crianças para chantagear ex-maridos. E nisso tudo, a família – instituição que nos diferencia dos outros animais – tem se tornado apenas um amontoado de pessoas que não se suportam. A cada vez menos lares e mais casas. Ainda se paga para que o garçom sirva melhor, mesmo que em detrimento de outros convidados. Ainda se paga propina para que o guarda não registre o transporte irregular de crianças, a direção alcoolizada, a contramão, o estacionamento na calçada, o avanço ao sinal vermelho ou para se apagar a multa. Não, a corrupção não está apenas no alto escalão político, dói constatar que é uma endemia mundial, que exige o preço de muitas vidas, notadamente dos mais pobres que seriam beneficiados com dinheiro público desviado. Aliás, a pobreza avança. São mais de 800 milhões de pessoas que passam fome no planeta e, na contramão desta tragédia, cresce a incidência de doenças ligadas a distúrbios alimentares, como a obesidade, anorexia e bulimia. As periferias crescem numa velocidade seis vezes mais rápida que os centros urbanos. Muitos são os latifúndios, não maiores que os sem lar. Não obstante isso, quem tem posses – não raro e guardadas honrosas exceções - desperdiça, abusa, esnoba. Ainda prevalece a cultura do achado não é roubado, do fazer escondido e do negar até morrer. Apenas a vingança fria foi revogada. Agora o troco é na hora, imediato, servido quente. Afinal, ser honesto, hoje, é ser “otário”. Sob o argumento de que o custo, o lucro ou o ônus é exagerado, programas de computador são copiados, sem a devida permissão. Ainda se sonegam impostos, se declaram dependentes inexistentes, compram-se DVD’s, CD’s piratas, fazem-se gatos para desviar energia e água, falsificam-se documentos para ter acesso gratuito ou mais barato no teatro, no cinema, no campo de futebol, em transportes coletivos ou para se obter aposentadorias, pensões e benefícios indevidos. Ainda sob o mesmo argumento, compram-se objetos roubados para repor o seu próprio que foi roubado. O que está valendo é a máxima: faço porque todo mundo faz. Depois, quando surgem leis exigindo mais documentos, mais burocracias, mais impostos para o exercício de algum direito, logo os mesmos que praticam tais condutas se apressam a criticar acidamente o Estado, como se eles não tivessem nada haver com as causas dessas mazelas. Já não se criam músicas de duplo sentido. Tudo é explicito. Cantam-se apologias ao crime e à decadência moral com a mesma alegria inocente que se cantam bobagens inofensivas. Estes são os ídolos que adoramos. Aliás, já não há qualquer inibição em declarar publicamente que se faz isto ou aquilo, porque estas declarações, não raro, são seguidas de novas confissões de outros ou risadas acumpliciadas com tal estado de coisas. Já se foi o tempo que lobos precisavam de peles de cordeiros. Constrangidos – veja-se que ironia – estão os que não fazem, os que tentam ser honestos, ter bom senso e coerência, os “otários”. Atualmente, os autores de novela estão tendo de dar grande espaço aos vilões, ser mocinho é démodé. A versão americana de herói exige muitas trapaças, balas, explosões e mortes. Alguém desconfia por que tantos jovens se espelham em criminosos perigosos? Cada vez mais se vê pais gargalhando com os primeiros, segundos e centésimos palavrões dos filhinhos, os mesmos que são incentivados a não trazerem desaforos para casa. Atualmente, temos de andar alertas. Olhar desavisado, falar algo dúbio, esbarrar noutrem ou simplesmente ter alguém que não simpatiza conosco, pode render um ou muitos socos e pontapés, como que tivéssemos acabado de abandonar as cavernas. Aliás, brigas atraem atenção das massas, mas se alguém cai na rua, há mais gente para gargalhar que para ajudar. Mata-se por nada, banalmente, talvez porque temos desvalorizado tanto a vida e o seu sentido sagrado. Aliás, matar agora dá status e até medalhas. Bala perdida já é tão comum que não vende mais jornal. Agora estamos na era dos crimes cibernéticos, hediondos, dos horrores coletivos, das mutilações chocantes, dos filhos que matam pais, dos homens, mulheres, avós e crianças bomba. Ainda no século da física quântica, da biotecnologia, das viagens à Marte, dos arranha-céus gigantescos, da nanotecnologia, do genoma humano, cresce o trabalho escravo, o suicídio, o tráfico de órgãos, a exploração sexual em cativeiro, o roubo, a prostituição e a drogadição de crianças, que na primeira infância exigem celulares modernos e na pré-adolescência a liberdade total. Bate-se em mulheres como nunca se bateu e crianças são exploradas como domésticas, em condições deploráveis. Velhos são maltratados em casa, nos ônibus, nas ruas e nas repartições públicas. Cresce a pedofilia, os maltratos a infantes e os adolescentes infratores, algo mais perversos e desamparados. Enquanto isso, livros bons vendem pouco, mas proliferam as revistas e sites de fofocas e para espiar e mal dizer a vida alheia. Na grande mídia, a pauta é ditada pelo interesse político e econômico e o que garante os grandes índices de audiência são os shows de bobagens, o sensacionalismo barato e as notícias ruins. Programa educativo ninguém vê, nem ouve e nem quer ouvir falar. Usa-se como desculpa para não doar para instituições de caridade o desconhecimento da aplicação dos recursos, cuidado este que não é usado para se escolher onde comer, dançar ou comprar futilidades. Os verdadeiros heróis continuam anônimos, mas qualquer modismo passageiro faz heróis nacionais, quiçá mundiais, descartáveis tão logo surja outro modismo. Sem pudor, ainda se joga lixo nas ruas, nos rios, nas praias, em qualquer lugar. Não procure um culpado. Ninguém assume responsabilidades e muito menos “culpa”, mas procure saber quem é o bonzão, muitos se acham. Para visitar uma creche, um asilo ou fazer parte de um trabalho social sempre falta tempo, o mesmo que não falta para tantas coisas sem significado, ocas e efêmeras em si mesmas. Fala-se muito do que não se sabe e calados ficamos quando deveríamos falar. Confunde-se beleza com corpo. Antes se confundíssemos feiúra com indiferença, egoísmo e orgulho. Seria mais exato. Quer-se vencer na vida, mas pela lei do menor esforço, da renúncia zero, do vale-tudo. Amizade hoje tem ganhado a conotação de conivência. As regras mais elementares de boa convivência foram esquecidas. Já não se diz bom dia (que o diga o elevador), obrigado e com licença. Desculpa é uma palavra a beira do desuso. Perdão, para alguns e em tempo breve, existirá apenas como registro arqueológico. Criou-se uma técnica toda especial para fingir que nunca existiu o que existe. Já não se dá retorno a e-mails, nem a telefonemas e tampouco a gentilezas. Devolver o que pegou emprestado então nem pensar. A onda agora é ser subversivo, tosco e aproveitador. Ser do contra apenas para não ser a favor. Alguns começam furando filas de banco para no futuro furarem filas para transplantes de órgãos. Nossos cientistas criticam a religião, mas exigem fé cega nas explicações mais absurdas. E por falar em fé, esta se tornou interesseira, só se ora para pedir, pedir e pedir, quase sempre em benefício próprio. A indústria farmacêutica investe mais em marketing do que em pesquisa. No esporte, os resultados são manipulados. Na educação, os professores não se preparam para ensinar o que não está em livros e os alunos ameaçam cada vez mais agressivamente seus mestres. Já não se pensa em ser mais e sim em ter mais. Muitos vivem de aparências, comprando o que não precisam e esnobando o que não podem pagar a custo do trabalho e da falência dos outros. Esse é nosso mundo. Agimos como se nossas ações não repercutissem na eternidade. E assim erramos e nos habituamos a repetir, anos a fora, atitudes que reconhecemos equivocadas. Mais que isso, quando a oportunidade para refletir e mudar surge, logo se finge que não é consigo, que isto ou aquilo serviria para o amigo, a esposa, o colega de trabalho, não para si próprio ou, pior, saímos com a velha e paralítica desculpa: sou assim e pronto.
Estamos com medo de sair de casa, desconfiados uns com os outros, receosos de amar.
Estamos reticentes em fazer o que deve ser feito, sobressaltados com nosso futuro e de nossos filhos, descrentes.
Estamos sem referência do bem e do mal.
Jesus é a referência. É o caminho, a verdade, a vida.
Não escrevo este texto na condição de ser angelical, de espírito superior, moralizador ou, de outro lado, como pessimista. Longe, muito longe disso. Escrevo para mim também. Poderia simplesmente desejar feliz natal e próspero ano novo, mas prefiro cutucar nossas feridas para não esquecermos que elas existem em nós, porque acredito que podemos sim melhorar o mundo, melhorando como pessoa. Ele não precisa ser como está. Nem nós.
O Cristo veio e deixou um roteiro seguro que é o Evangelho, conhecedor de nossa ignorância e indigência espiritual.
Sim. Ainda precisamos de Jesus.
Precisamos de seu amor, da esperança ativa de dias melhores.
Vinde a mim, disse o Rabi.
O convite ainda é atual e se renova a cada dia, ecoa em cada Natal.


















quinta-feira, dezembro 21, 2006

O HOMEM DE BEM

“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.
Tem fé no futuro, razão por que coloca os bem espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.
Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.
O homem de bem é do bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.
Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecados.”
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.
Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.
Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.
Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.
Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.
O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, n. 9)
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.
Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz.”

(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item 3)

segunda-feira, dezembro 11, 2006

RADAR






NOVOS TEMPOS


Esteve em Belém, o Presidente da Federação Espírita Brasileira – FEB, Nestor Mazotti. Homem sóbrio, inteligente e de largas experiências no Movimento Espírita nacional e mundial. Fez no dia 1º de dezembro palestra sobre a importância do Livro Espírita para Humanidade, ocasião na qual ofertou belo panorama do momento evolutivo pelo qual passamos o que a espiritualidade espera de cada um de nós. No dia 2, conversou com os trabalhadores espíritas sobre temas atuais e no dia 03 viajou para conhecer Centros Espíritas no interior do Estado.



FEIRA DO LIVRO ESPÍRITA


Foi realizada com grande sucesso a XVII Feira do Livro Espírita de Belém, na Praça da República. A Feira contou com a presença do Presidente da FEB, Nestor Mazotti e durou de 02 a 10 de dezembro, com grande público, diversas novidades editoriais e preços baixos.



150 ANOS DE DOUTRINA ESPÍRITA


A Federação Espírita Brasileira (FEB) lançou uma edição especial de O Livro dos Espíritos, com nova tradução e notas de rodapé inéditas para dar início às comemorações dos 150 anos da Doutrina Espírita. O Livro dos Espíritos – o marco inicial do Espiritismo – foi lançado por Allan Kardec no dia 18 de abril de 1857, em Paris, França. Até hoje, a FEB publicava apenas a tradução de O Livro dos Espíritos feita pelo seu ex-presidente, Guillon Ribeiro. A nova tradução de O Livro dos Espíritos é assinada por Evandro Noleto. Secretário-Geral da FEB, ele já traduziu os doze volumes da Revista Espírita editados por Allan Kardec, Viagem Espírita em 1862, O Espiritismo na sua Expressão Mais Simples, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas e Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita. Mais informações sobre a nova edição em
www.febnet.org.br





POR UM MUNDO MELHOR




Aconteceu neste último final de semana o Fórum Espiritual Mundial, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília (DF), encerrado dia 10 de dezembro. Dezoito painéis, dez conferências e dezenas de oficinas, vivências e shows ligados à espiritualidade uniram adeptos de várias religiões e crenças, como forma de valorizar a diversidade no caminho de uma solidariedade planetária e de dinamizar a construção de um mundo melhor. Durante o Fórum ocorreu a exposição “Chico Xavier: Um Homem Chamado Amor”, composta de objetos que pertenceram ao médium mineiro, fotos inéditas, cartas psicografadas originais, livros e documentos históricos, vídeos e obras de arte. O material exposto foi cedido pela Fundação Chico Xavier, pelo Centro Espírita Luís Gonzaga e pela FEB. Durante a exposição foram exibidos documentários produzidos pela Assessoria de Comunicação da FEB, o programa de TV "Pinga Fogo 1971", da antiga TV Tupi e uma entrevista de Chico Xavier ao Programa da Hebe Camargo.
Afinal, Chico é um ícone de um mundo efetivamente melhor.

terça-feira, dezembro 05, 2006

DIA INTERNACIONAL DO VOLUNTARIADO

Todos querem ser felizes. Isto é fato.
Esperamos do universo que ele conspire em prol de nossos sonhos.
Oramos a Deus, dirigindo-lhe pedidos de bênçãos diversas.
Criamos um mundo próprio, de necessidades e projetos pessoais.
Chega hora, contudo, que a infelicidade bate nossa porta.
Desprevenidos, muitos são os que caem.
É do chão, do piso do poço, que só então muitos percebem irmãos em sofrimento.
Eles são milhares e ostentam problemas que nos sensibilizam.
É daí que erguemos os gritos de revolta, as palavras de ordem, os discursos inflamados.
É daí que surgem os protestos, as convulsões sociais, as mudanças cotidianas.
É no seio dessas refregas que os governos são culpados, que este ou aquele deveria ter feito isso ou aquilo, que tal ou tal idéia é hostilizada.
Isso acontece há séculos.
Poucos, ainda são, os que superam o palavrório e o surto opiniático e saem do seu mundo pessoal para colocarem mãos na massa. Ação!
No dia do voluntário, cumpre homenagear todos aqueles que já cumprem o preceito cristico da fé atuante, confirmado por milhares de vozes do espaço que cruzam as fronteiras da morte para exortar-nos ao trabalho edificante: é a caridade que nos salva, é pelo amor ao próximo que evoluímos, é pelo trabalho desinteressado que receberemos as mais preciosas bênçãos.
Feliz daquele que já compreendeu que investir algumas horas em prol de uma boa causa é mais que bondade, é sabedoria.
Que o médico consulte de graça.
Que o advogado oriente o pobre.
Que a costureira ensine sua arte.
Que o palhaço faça um órfão sorrir.
Que a dançarina baile com um cego.
Que o empresário invista no talento desconhecido.
Que o artesão modele uma esperança.
Que o professor ensine os que ignoram o futuro.
Que o estudante divida os livros.
Que o jovem doe sua energia.
Que o velho partilhe sua experiência.
Que o tímido aprenda abraçar.
Que o extrovertido oferte o riso.
Que o egoísta aprenda que existe algo mais que seu próprio interesse.
Viva o trabalho voluntário, força motriz da caridade cristã.

terça-feira, novembro 21, 2006

RADAR




PENA OU COMPAIXÃO


Na Revista Universo Espírita deste mês, edição n. 35, foi publicado o artigo Pena ou Compaixão, deste articulista, onde é abordada a diferença entre as duas propostas e respectivas conseqüências. Vale conferir.


3º ENCONTRO AME CEARÁ: “Bioética e Epiritismo”

Nos dias 17, 18 e 19 de novembro próximo, acontecerá, em Fortaleza, o 4º Encontro das AMEs Nordeste e o 3º Encontro da AME Ceará, com o tema "Bioética e Epiritismo".
O evento contará com a presença da Dra. Marlene Nobre(AME Brasil) e do Dr. Gilson Luís Roberto (AME-RS), além dos dirigentes das AMEs Nordeste.Saiba mais:Telefone: (85) 3243-7735 E-mail:
www.amesaopaulo.org.brE-mail: jornada@amesaopaulo.org.br






POR UM MUNDO MELHOR


10 ANOS DE SOCIEDADE ALTERNATIVA

Este final de semana a ONG Sociedade Alternativa comemora 10 anos de muitas histórias belas. Como voluntário, tive a honra de vê-la crescer e ganhar respeitabilidade. A Sociedade Alternativa já trabalhou com portadores de HIV, com idosos, hansenianos, com crianças, com moradores de lixão e de rua e agora investe em adolescentes de Ananindeua através do Projeto Sementes de Cidadania, onde são ministradas palestras, esporte e curso de informática. Tudo é gratuito e todos os trabalhadores são voluntários. A ONG não recebe verba pública, não tem vinculação política, ideológica ou religiosa, mas é muito abençoada por Deus. Abaixo está transcrita na íntegra uma das cartas, de uma jovem (Thayanna) que participa do projeto Sementes de Cidadania, que fala sobre o trabalho.

Carta da jovem Thayanna

“Caros bem feitores da S.A é com grande alegria que escrevo para dá parabéns pelos 10 anos de esforços de todos vocês, pelo trabalho maravilhoso que fizeram e fazem durante esses 10 anos. Participo desse projeto faz 1 ano mas nesse pequeno período pode perceber o quanto o coração de todos vocês é imenso. Tenho muita sorte de poder participar desse projeto que vem mudando a minha vida cada vez mais e para melhor, aprendi muito, tanto para minha carreira profissional, quanto na minha vida pessoal. Não conheço todos vocês da ONG, mas os que conheço, tenho carinho e respeito por todos, desejo que a S.A dure por muitos e muitos anos, que continue ajudando crianças e adolescentes carentes, carentes não só de dinheiro, mas de amor, de carinho. Porque é isso que vocês repassam para gente, é por isso que não pensamos duas vezes antes de desistir de um programa ao domingo, de uma viagem. Pra poder estar firme e forte no projeto. Vocês dão esperança que nós precisamos para acreditar que o mundo pode ser melhor, que ainda existem pessoas que se importam e se preocupam com os outros, que ainda existe solidariedade e que ainda podemos acreditar no amanhã. Obrigado a todos, tenham a certeza de que vocês não vão se arrepender de ter tido tanto trabalho, tenham a certeza de que não foi em vão. Quando vocês mais na frente se depararem com alguns de nós, com homens e mulheres de bem, sentirão um enorme orgulho de ter tido participação nessa formação. Serei eternamente grata a todos vocês. Sinceros agradecimentos. Carinhosamente.
Thayanna.”



Parabéns a todos os que construíram a história da Sociedade Alternativa!






















quarta-feira, novembro 15, 2006

A CIÊNCIA VAI MATAR DEUS?

“Um pouco de filosofia inclina o homem ao ateísmo. Profunda filosofia retorna o homem à religião.”
(Voltaire)

Quando o mundo presenciou a onda de espiritualidade que varreu paises comunistas após o declínio deste modelo político, que considerava a religião o ópio do povo e combatia a idéia de Deus, logo se percebeu que o brilhante filósofo Friedrich Nietzsche – que decretou a morte de Deus – estava equivocado. Mas, em breve tempo, também logo se percebeu que este assunto seria ciclicamente requentado, noutras palavras e proposições. É o que está acontecendo agora, pelas vozes do zoólogo britânico Richard Dawkins, do neurocientista americano Sam Harris e do pesquisador Daniel C. Dennett que, sem argumentos inovadores, seguem os rastros de Carl Sagan.
A revista Época desta semana, edição nº 443, de 13 de novembro de 2006, traz como matéria de capa a pergunta A Ciência vai Matar Deus? A matéria – muito boa – trata do que se convencionou chamar de Novo Ateísmo. São cientistas prestigiados no meio acadêmico que estão tentando dar fôlego à velha discussão Ciência versus Religião, tendo como discussão de fundo a tese de inexistência de Deus.
Alegam, principalmente, que a crença em Deus é uma herança retrógrada e que os religiosos atrasam a evolução científica e tornaram-se perigosos, na última década, face uma reaproximação do Estado, em várias partes do mundo. Aduzem, ainda, que não há provas concretas da existência de Deus e que o acaso dá a explicação, onde as leis naturais não podem explicar.
Questões como essas são por natureza polêmicas. Futebol e política também são, mas não envolvem a própria visão de mundo e, de tabela, a atitude que cada ser humano adota em vários aspectos de sua vida pública e privada. Portanto, a discussão é mais apaixonada, já que envolve não apenas crença – como somos tentados a achar -, mas sim e principalmente o que somos. Ver negada sua visão de mundo, nesta perspectiva, é ver julgada a própria condução de sua vida, é ver ameaçada sua própria identidade, a essência de si próprio.
Ciência e Religião já atravessaram pungentes crises existenciais – ao preço de muito sofrimento e conflitos -, como a que a física quântica provocou nos físicos clássicos e como a causada no âmbito da Igreja pela queda do sistema geocêntrico.
Nada mais razoável, dessarte, do que buscar respeitar cada visão de mundo na condição de verdade relativa, postura que, não raro, ambos os lados ignoram para dar vazão a extremismos e agressões tão apaixonadas quanto dispensáveis.
Duas inserções preliminares se impõem, antes de analisar a pergunta proposta pela revista. Primeiro é deixar claro que não existe o ente individual chamado Ciência, assim como também não existe Religião, neste enfoque restrito. Há várias Ciências, da mesma forma como existem diversas Religiões. Portanto, quando um grupo de cientistas – por mais respeitável que seja – resolve alardear a sua verdade, esta, a rigor, não é a verdade da Ciência, a menos que seja algo objetivo e consensual, coisa que está longe, muito longe de ser o caso em questão. Aceitar isso, seria o mesmo que aceitar que o Papa falasse em nome do Budismo, do Espiritismo, do Islamismo e do Hinduísmo.
Portanto, não se pode dizer que a Ciência está tentando matar Deus. Não é bem assim. Uma linha de cientistas defende sim idéias atéias, mas geralmente são de campos ligados ao evolucionismo, seja na área biológica, psicológica ou social. Aliás, fina ironia essa, já que Alfred Russel Wallace, o naturalista britânico que estabeleceu as bases do evolucionismo depois aperfeiçoado por Charles Darwin, acreditava em Deus e era simpatizante da doutrina espírita.
Em verdade, deve-se ter claro que nunca as universidades aceitaram tantas teses e pesquisas ligadas a fenômenos espirituais. Os cursos de graduação e pós-graduação em universidades tradicionais já têm na grade curricular disciplinas que abordam tais temáticas com responsabilidade e respeito e já se contam aos milhares os cientistas de renome, como alguns citados na reportagem da revista Época, que defendem com racionalidade tais fenômenos e, em especial, a existência de Deus. Portanto, é inadequada a afirmação de que a Ciência tenta matar Deus. Atualmente, as parcerias e frentes de conciliação entre Ciência e Religião são muito mais amplas e crescentes do que os front de batalha.
A segunda inserção é que não é exato associar rigidamente Deus à Religião, não obstante isso seja quase inevitável. Em verdade, há religião sem Deus e há Deus sem religião. No Budismo não existe a figura de Deus e, no segundo caso, cada vez mais cresce o número de pessoas que – sem religião – acreditam apenas em Deus. Noutro giro, importa dizer que embora a crença monoteísta seja a mais popular no planeta, ainda existem centenas de Deuses cultuados mundo a fora, sob os mais variados títulos e perfis. Então, convém perguntar: Qual Deus tais cientistas querem matar?
Melhor focando pode-se afirmar que é a visão antropomórfica de Deus, cheio de características e tendências humanas, que está nitidamente em declínio e a Ciência, realmente, a combaterá, com justas razões. Essa, aliás, era a visão da qual Albert Einstein se esquivava, não da idéia de um Criador, de uma Inteligência ordenadora do Universo.
À propósito, a primeira questão do Livro dos Espíritos é dedicada ao tema. Kardec inaugura a grande obra perguntando: “Que é Deus?”. Note-se que Kardec não pergunta “Quem é Deus?”, visão antropomórfica, nem pergunta “O que é Deus?”, visão materialista. Em resposta os espíritos superiores respondem: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”
Conforme se verá à frente, a informação dos espíritos está em consonância com a proposição mais moderna do universo autoconsciente, para usar uma expressão cunhada por Amit Goswami, físico indiano, Ph.D em física quântica. Feitas tais considerações e dada a visão espírita de Deus, vejamos vários aspectos do tema, notadamente algumas reflexões em contraponto ao Novo Ateísmo.
Sobre acusações e desconfianças recíprocas, há excessos e razões de ambos os lados da discussão.
Quando ateus alegam que milhares de pessoas morreram e morrem por causa de guerras religiosas, acaso estão errados? Não, eles estão certos. Mas estão errados os religiosos quando lembram àqueles que a Ciência que desvendou o poder dos átomos, foi a mesma que desenvolveu a malfadada bomba atômica, militarizou a Ciência, praticou a guerra suja, matando milhares com dores atrozes, através de gazes tóxicos e de agentes biológicos, em guerras religiosas e não religiosas? Não! Acaso, uma é menos reprovável que outra?
Quando os céticos lembram que muitas maldades foram feitas em nome de Deus, não há como negar. A história está aí e o noticiário a confirma todos os dias. Olvidam, no entanto, que a ciência nazista fez bizarros experimentos científicos com humanos em nome da Ciência, praticou a eugenia, e era representada, à época, por vários cientistas ganhadores do prêmio Nobel, não sendo demais lembrar que ainda hoje estouram, vez por outra, denúncias sobre o tráfico de órgãos humanos em países pobres, sobre o uso indevido de fetos humanos para fins inescrupulosos e de experimentos duvidosos com cobaias humanas, tudo sob os auspícios de cientistas bem conceituados mundo a fora. Denunciando este submundo da Ciência, Andrew Goliszek escreveu o impactante livro Cobaias Humanas – a história secreta do sofrimento provocado em nome da ciência. Ainda assim, quem pode negar os benefícios que a Religião e Ciência oferecem à humanidade?
Os ateus combatem com vigor xiita e ar heróico fraudes de charlatães que lucram à custa da crença alheia, mas não atentam que isso, com não menos freqüência, acontece no meio científico, onde pesquisas mal conduzidas são aplicadas em remédios que entram e saem do mercado por comprovados danos à saúde pública. Em fevereiro de 2004, a prestigiada revista Science divulgou com barulho o suposto sucesso da pesquisa do coreano Woo-Suk-Hwang, que teria conseguido a produção inédita de células-tronco embrionárias clonadas a partir de células adultas de pacientes sadios. Tratava-se de um avanço revolucionário para o futuro do tratamento à base de células-tronco, o que levou esperança a milhares de pessoas no mundo. No final de 2005, início de 2006 o mundo ficou estarrecido com a descoberta da fraude, através da manipulação de dados. Imediatamente a comunidade científica admitiu, a contragosto e constrangida, que mesmo os mais rigorosos controles de pesquisas são vulneráveis a fraudes, campo que os cientistas céticos adoram combater, com soberba, quando se fala em fenômenos espirituais. Tais fatos nos autorizam concluir que todas as pesquisas científicas de céticos e de religiosos são fraudes?
Quando ateus reclamam de extremismos que impediram a Ciência progredir, a preço de perseguições a cientistas notáveis, acaso isso não existe? Existe sim, por certo e muitos são e foram os casos, que o diga Galileu e Giordano Bruno. Menos verdade não é, contudo, que também cientistas de renome foram vítimas de preconceito e perseguição no meio acadêmico por defenderem idéias deístas, holísticas e\ou religiosas. Basta citar o festejado Sir William Crookes, no século XIX e, mais recentemente, os físicos Fritjof Capra e Amit Goswami, o psicólogo Raymond Moody e um dos fundadores da Psicologia Transpessoal, Dr. Stalislav Grof, entre tantos outros que foram hostilizados e viram as portas das academias se fecharem por defenderem idéias que desagradavam o senso comum da comunidade científica. Devemos, então, imputar a culpa a apenas um dos lados?
Ateus combatem o que acham ser a espoliação de mentes e vidas à custa da ignorância para manter benefícios e privilégios a religiosos. Jesus já havia combatido nesta arena. Os cientistas, contudo, não são exatamente modelos de humildade e desprendimento. Lembremos que a Ciência cobra preço de muitas vidas, especialmente em países pobres que não podem pagar patentes, nem conseguem arcar com o custo dos tratamentos de ponta. Hoje já se sabe, pela boca de especialistas e cientistas respeitados, que a indústria farmacêutica investe mais em marketing do que em pesquisas – especialmente em relação a doenças típicas do Terceiro Mundo - e que um dos maiores clientes da Ciência é a indústria da guerra, mas pouca gente se incomoda com isso. Por causa disso, devemos desacreditar os bons religiosos e cientistas?
Ateus preferem o pragmatismo, alegam que todos devem ter direito à realidade, à verdade nua e crua, doa o que doer e tecem críticas ácidas ao que chamam viver em sonhos e numa vida futura. Não observam, todavia, que é a própria Ciência que comprovou que, em média, os religiosos são mais felizes e tem provado os muitos e diversos benefícios da espiritualidade na vida cotidiana. Por que então não dar sentimento à Ciência e racionalidade à Religião?
Quando ateus reclamam que os religiosos acreditam em tudo sem raciocinar, isso é mentira? De regra não. Infelizmente, criou-se essa barreira e muitos apenas se preocupam com a fé, mesmo que irracional. Contudo, diferente não é o caso dos ateus, não raro tão ou mais radicais que religiosos, pois negam, peremptória e açodadamente, tudo, sem sequer se dar o trabalho de investigar a fundo, com imparcialidade e distância, o que – como proposição científica – é dever primeiro, intransponível e inconciliável com qualquer pré-julgamento. Ou seja, os ateus crêem tanto na razão absoluta que a desprezam. Seria o caso de se perguntar: bom senso e humildade faria mal a ateus e religiosos?
Quando ateus rechaçam furtivas ao mistério da fé ante o inexplicável, esquecem que adoram alegar que a Ciência, quando em igual situação, apenas não detém todas as respostas agora, mas que em algum momento no futuro (vejam a contradição subjetiva deste tipo de fé) haverá explicação. Não apenas isso, a tudo que não têm explicação, atribuem ao ente poderoso por eles cultuado: o Acaso. Não já passou da hora de enfrentar as limitações do conhecimento humano?
Como se vê, a Ciência, com toda sua importância e beleza, é limitada, comete erros e exige fé.
Calha com exatidão o belíssimo e lapidar texto-carta O Credo da Ciência do impar filósofo e educador catarinense Huberto Rohden, no seu mais festejado livro De Alma para Alma, in verbis:
“Meu caro amigo. Recebi tuas felicitações – muito obrigado.
Atingi o “vértice da pirâmide” – dizes.
Enchi de mil conhecimentos o espírito – é verdade.
Cinge-me a fronte o laurel de doutor – sou acadêmico.
Entretanto – não me iludo...
Quase todo o humano saber – é crer...
Nossa ciência - é fé.
Creio no testemunho dos historiadores – porque não presenciei o que referem.
Creio na palavra dos químicos e físicos – porque admito que não se tenham enganado nem me queiram enganar.
Creio na autoridade dos matemáticos e astrônomos – porque não sei medir uma só das distâncias e trajetórias siderais.
Tenho de crer em quase todas as teses e hipóteses da ciência – porque ultrapassam os horizontes da minha capacidade de compreensão.
Creio até nas coisas mais cotidianas – na matéria e na força que me circundam...
Creio em moléculas e átomos, em elétrons e prótons – que nunca vi...
Creio nas emanações do radium e nas partículas do helium – enigmas ultramicroscópicos.
Creio no magnetismo e na eletricidade – esses mistérios de cada dia.
Creio na gravitação dos corpos sidéreos – cuja natureza ignoro.
Creio no princípio vital da planta e do animal – que ninguém sabe definir.
Creio na própria alma – esse mistério dentro do Eu.
Não te admires, meu amigo, de que eu, formado em ciências naturais, creia piamente em tudo isso...
Admira-te antes de quem afirme só admitir o que compreende – depois de tantos atos de fé cotidiana.
O que me espanta é que homens que vivem de atos de crença descreiam de Deus – “por motivos científicos”.
Homem! Tu, que não compreendes o artefato – pretendes compreender o Artífice?
Que Deus seria esse que em tua inteligência coubesse?
Um mar que coubesse numa concha de molusco – ainda seria mar?
Um universo encerrado num dedal – que nome mereceria?
O Infinito circunscrito pelo finito – seria Infinito?
Convence-te, ó homem, desta verdade: só há duas categorias de seres que estão dispensados de crer: os da meia-noite – e os do meio-dia...
As trevas noturnas do irracional – e a luz meridiana da Divindade...
O insciente – e o onisciente.
Aquele por incapacidade absoluta – este por absoluta perfeição...
O que oscila entre a treva total do insciente e a luz integral do onisciente – deves crer...
Deves crer, porque a fé se move nesse mundo crepuscular, eqüidistante do vácuo e da plenitude, da meia-noite e do meio-dia...”

Após esse arrebatamento de idéias, a passagem evangélica de Mateus, 11:25 fica mais clara: “Disse, então, Jesus estas palavras: “Graças te rendo, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos.”
A humanidade agradeceria, se as mãos ora ocupadas com pedras, fossem entrelaçadas, para melhorarmos Ciência e Religião.

domingo, outubro 29, 2006

AS VÁRIAS DIMENSÕES DE MARIA – PARTE FINAL.

“O caráter do homem não reside na inteligência, mas sim no coração.”
(Jacobi)


Como dito no artigo anterior, é difícil a reconstituição do perfil de Maria, seja pela falta de informações fidedignas a respeito, sejam pelas polêmicas que muitas vezes orbitam em torno do assunto. Alguns já foram abordados aqui, como o que se refere à maternidade de Maria, se mãe de Deus ou de Jesus?
Em verdade, Jesus não é Deus. Este o criador, Jesus a criatura. É um espírito de escol, puro, muito superior à média evolutiva da humanidade, mas não é Deus. Por ser muito superior e já dominar as potências do espírito, produziu fenômenos extraordinários, o que facilitou a consolidação da idéia no povo de que Jesus era Deus. A rigor, é um dos prepostos de Deus – o mais elevado na hierarquia espiritual que a Terra já recebeu -, encarregado pela evolução do planeta Terra. Foi justamente para alavancar sua missão, que Jesus encapsulou-se na matéria, sob a tutela de Maria, com quem já sabia poder contar.
Outra polêmica comum é se Jesus foi filho único. A Igreja na tradução evangélica fala em filho unigênito (único), enquanto outros exegetas traduzem como filho primogênito (primeiro). A resposta pode ser encontrada na Epístola aos Gálatas e no Evangelho de Marcos, onde as narrativas falam de irmãos de Jesus. Em verdade, há mais, nesta discussão secundária e pouco relevante, tabus e preconceitos nossos, do que qualquer desmerecimento à Maria. Aliás, paga a Igreja, neste particular, o preço por ter criado tanta culpa em relação a sexualidade humana que, por muitos séculos, foi associada a pecado, à impureza. Acaso a grandeza, altivez e superioridade espiritual de Maria fica “manchada” por ter dado luz a outras crianças? Claro que não.
São essas, entre outras, polêmicas que ainda provocam, pontualmente, exageros e radicalismos. Alguns irmãos evangélicos – minoria, é justo consignar - extremaram o discurso e incidentes lamentáveis aconteceram, como aquele no qual um religioso chutou uma imagem de Maria.
Outro dia, ao vivo, milhões de telespectadores puderam acompanhar outro episódio hostil, desta vez com desfecho pitoresco. Um religioso palestrava – repise-se: ao vivo em programa transmitido pela TV - dizendo que Nossa Senhora não tinha qualquer poder e que este cabia apenas a Jesus. _ Vou provar para todos que Maria não tem poder! Alardeou, descendo de seu púlpito em direção ao público. Querendo provar sua teoria, ele se aproxima de um fiel em transe mediúnico obsessivo, que se debatia no chão à vista de todos, e determina com autoridade e dedo em riste: _ Sai em nome de Maria! E repetiu solenemente: _ Eu te ordeno, sai em nome de Maria! Mais que rapidamente o espírito deixa o homem, que sai do transe mediúnico. Diante do desfecho inesperado, o religioso, constrangido e sem graça, lamenta baixinho, deixando-se flagrar pelo áudio: _ Esses espíritos fazem a gente passar cada vergonha...
Contudo, de um modo geral, Maria é reconhecida em sua grandeza por outras religiões. Tome-se, por exemplo, o Islamismo, que exalta sua elevação. O próprio protestantismo, na voz de Lutero, reconhecia a importância de Maria, contestando tão-somente algumas distorções. Com o Espiritismo não é diferente, reconhece-se a elevação de Maria.
No universo tudo evolui. Tudo. E todos devem contribuir para a evolução da obra divina.
Dotados de livre arbítrio, as populações dos orbes avançam em ritmos e rumos diferentes. Nos mundos menos evoluídos e mais materiais, como a Terra, a transição positiva de idéias, tradições e comportamentos é lenta. Por isso, espíritos de alta hierarquia espiritual descem dos cumes dimensionais mais evoluídos em missão sacrificial e de amor, aptos para resistirem à fornalha da carne, de suas tentações e desvios. Vêm dar testemunho e acelerar mudanças, lançando, também, sementes que aguardarão o momento propício para eclosão.
Mas, para que um espírito de altíssima graduação espiritual tenha sucesso sobre as dificuldades da matéria, impõe-se a conjugação de esforços de outros espíritos superiores que o antecedem para preparação do caminho, tal como o agricultor fertiliza a terra para receber a sutil semente grávida de vida.
Dentre todos os espíritos que conjugaram esforços para o êxito da missão de Jesus, Mirian ou - como conhecemos -, Maria foi, quiçá, a mais importante. Espírito de luz, anjo dócil de Deus, aceitou a missão de aninhar em seu útero e lar de amor, o espírito mais evoluído que este planeta já recebeu.
A missão para além de sacrificial – porque exigia a descida de uma dimensão superior -, era também arriscada. Mesmo diante de uma missão divina, as leis que regem a matéria devem ser respeitadas e delas não podem esquivar-se os espíritos evoluídos que, ficam assim, vulneráveis às vicissitudes próprias da carne. Quer isso dizer que Maria devia fazer, rigorosamente, sua parte. Um desvio do plano, poderia inviabilizar a redenção crística.
Maria deveria viver no mundo, mas sobrepairando-lhe, em plenitude divina, preparando seu corpo, sua mente e seu lar para ambientar a poderosa luz divina que se encarceraria na carne para romper o véu da matéria densa e anunciar, noutras letras e tons, a vida celeste.
Ao contrário do que alguns exegetas especulam, Jesus e Maria se relacionavam muito bem, mesmo porque ambos já conheciam o plano divino, apenas submerso no inconsciente de Jesus por causa da barreira material.
Pode-se perceber simbolicamente a importância de Maria nos estratégicos momentos da vida de Jesus, descritos nos Evangelhos. Ela aparece no nascimento e morte de Jesus – firme aos pés da cruz -, e quando ele revela ter despertado espiritualmente, ensinando no Templo ainda criança, bem como quando publicamente fez seu primeiro “milagre”.
No planejamento espiritual, cumpria postar espíritos colaboradores próximos a Jesus. Por isso, a providência divina também uniu Maria por laço de parentesco com Isabel, que já idosa engravidou e trouxe à carne outro espírito superior encarregado dos últimos preparativos para chegada do Cristo: João Batista – a voz que clamava no deserto -, que mais tarde o batizou e deu início à parte final de sua missão.
É, por certo, o encontro das duas mulheres grávidas, uma das mais belas passagens bíblicas do Novo Testamento, registrada por Lucas (1:39,48):
“E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá, e entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel, e aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo. E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto de teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte de meu Senhor lhe foram ditas. Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; Porque atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada.”
Como se pode notar, eis a passagem evangélica que dá base à oração conhecida por Ave Maria que, adaptada pelo Catolicismo, troca “Mãe de meu Senhor” por “Mãe de Deus.”, na versão de nossos irmãos.
Jesus encontrou na doçura, dedicação, bondade e altivez da mãe as condições necessárias para despertar, sem intervenções indevidas, todas as incomensuráveis potências de seu espírito puro, ainda então se recobrando do mergulho pesado, embotador e sofrível na carne.
E é assim que devemos devotar-nos a Maria, como espírito de luz, portadora de um amor que a blindou contra as dificuldades da carne, permitindo-lhe uma dedicação extrema, mas dócil e altiva, tudo em prol da missão do Cristo.
É justamente esta natureza dócil e amável de Maria, que a habilitou a capitanear um trabalho duro, áspero, incansável no plano espiritual. Através da sublime mediunidade de Yvonne A. Pereira, o espírito Camilo Cândido Botelho noticia no livro Memórias de um Suicida, que Maria coordena a Legião dos Servos de Maria, equipe de abnegados servidores espirituais que auxiliam os suicidas.
Só pode compreender a relevância da missão mariana quem conhece as dificuldades que os suicidas têm de enfrentar quando despertam no plano espiritual. Não por acaso a força do culto mariano em Belém, cidade que por muitos anos esteve entre as três cidades com maior índice de suicídio no Brasil. Exato dizer, portanto, que Maria tutela esta cidade, entre tantas outras.
Em verdade, Maria é o arrimo de muitos sofredores, é a esperança a muitos desesperados, é a mãe de muitos órfãos do sistema, é o colo dos infantes espirituais que de tropeço em tropeço caem e, no fundo do poço, sentem o calor maternal a acalentá-los, o amor incondicional a reanimá-los.
Chico Xavier tributava pública veneração à Maria. Certa vez, Chico estava triste. Perseguido, injustiçado, fatigado de tanto trabalhar pediu a Emmanuel, seu guia, que interpelasse a mãe de Cristo. Queria ouvir algo, uma mensagem de alento, uma palavra motivadora. Tempo depois Emmanuel reaparece e Chico, ansioso, questiona: Que tal Emmanuel? Falou com ela? Emmanuel confirmou. _ O que ela falou? _ Tudo passa Chico, tudo passa.
Afinal, quem não precisa desta mensagem consoladora?

quarta-feira, outubro 18, 2006

RADAR

ESPIRITISMO E CIÊNCIA NOS EUA E EUROPA


Outubro de 2006 foi mês de mais uma “Expedição ao Hemisfério Norte”. Os trabalhos iniciaram-se pelos Estados Unidos, onde ocorreu o 1° Congresso Médico Espírita dos Estados Unidos (7 e 8/out). Depois foi a vez da Inglaterra, onde ocorreu a Jornada da British Union of Spiritist Socities (10/out), Jornada da Associação dos Profissionais Espíritas da Saúde de Londres (11 e 12/out). Já em solo lusitano, ocorreu a I Jornada Portuguesa de Medicina e Espiritualidade (14 e 15/out) e, fechando o ciclo de eventos, acontecerá a Jornada da Associação Médico Espírita Internacional em Genebra (21 e 22/out).
É o Espiritismo enfrentando o materialismo racionalmente, com amor e paciência.



CONHEÇA O HOMEM AMOR




Já foi lançado o belo DVD com o programa Pinga Fogo, reprise de um dos programas de maior sucesso de todos os tempos da TV brasileira, onde Chico Xavier foi sabatinado ao vivo por vários pesquisadores, jornalistas e pelo público. É uma chance imperdível de conhecer um pouco mais do homem amor (vide artigo neste blog), especialmente de assistir uma aula sobre Cristianismo e um testemunho de humildade. Que tal trocar filmes com tiros, sangue e vinganças, hoje tão comuns, por momentos sublimes de espiritualidade? Dica: o final do programa é arrebatador!




15 ANOS DO CENTRO ESPÍRITA O CONSOLADOR


No último dia 30 de setembro estive em Capanema prestigiando a comemoração dos 15 anos do Centro Espírita O Consolador, instituição espírita referência naquela cidade. Na ocasião, os fundadores falaram sobre a história do centro. Foi passado um filme sobre os trabalhos sociais do Consolador, além da apresentação de um Coral de trabalhadores do centro. Tive a honra de palestrar sobre a Importância do Centro Espírita para Comunidade.
O evento finalizou-se com jantar aos convidados.
Parabéns a todos os fundadores e trabalhadores do Centro Espírita O Consolador.
________ POR UM MUNDO MELHOR_______
O espaço de quem faz a diferença.



NOBEL DA PAZ



O prêmio Nobel da Paz de 2006, anunciado esta semana, surpreendeu o mundo. O escolhido foi Mohammad Yunus, conhecido como o banqueiro dos pobres. O referido banqueiro revolucionou ousadamente o sistema de concessão de microcrédito. Yunus resolveu arriscar seu dinheiro emprestando aos miseráveis de Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. O banco não exige nem hipoteca, nem fiador. Portanto, não tem garantia. Mesmo assim, o índice de inadimplência é muito baixo.
Trata-se de uma iniciativa humanitária, na medida que dá capital a pessoas que nunca teriam acesso a ele. Mais que isso, permite que miseráveis promovam seus meios de vida e saiam da miséria. Combate-se de uma só vez a pobreza e a violência e promove-se a dignidade de milhares de pessoas.

NATAL SEM FOME


Foi lançada no dia 15 de outubro, domingo, a Campanha Natal Sem Fome. Durante anos, a campanha arrecadou alimentos. Agora mudou. Ao invés de arrecadar alimentos, passará a arrecadar brinquedos e livros infanto-juvenis. O projeto torna-se permanente, pois a idéia é criar duas mil unidades de leitura em todo Brasil e combater a pobreza intelectual, formando cidadãos mais conscientes, que saibam lutar pelos seus próprios direitos.



SOLIDARIEDADE NO DIA DAS CRIANÇAS


Em comemoração ao dia da criança, a Associação Voluntariado de Apoio à Oncologia – AVAO proporcionou a 64 crianças com câncer um dia de muita alegria no Play Center do shopping Castanheira, onde puderam esquecer a dor, brincar a vontade e comer muitas guloseimas. Parabéns a quem faz uma criança feliz.


A POLÍCIA DO BEM

Para muitas pessoas, instituição policial remete à associação a coisas negativas: violência, corrupção, brutalidade, incompetência. Atualmente, esta é uma visão simplista. É bom conhecermos um outro lado da instituição, pouco valorizado. A Polícia Militar do Pará tem desenvolvido várias ações culturais e sociais de integração com a comunidade em diversos municípios do Estado do Pará. Trata-se de uma atuação não apenas preventiva, mas acima de tudo humanizadora e recíproca, na medida que todos se humanizam. Dentre os projetos destacam-se a atuação social na creche da comunidade Santo Agostinho, na Terra Firme, onde há atividades culturais, como sessões de desenho animado e fornecimento de lanche. Destacam-se, ainda, o projeto A PM vai à Praça, onde a banda de música da PM promove shows em praças de Belém; o projeto Almoço com a Comunidade, entre outras atividades realizadas no PAAR, o que inclui palestras em centros comunitários e escolas; o projeto Bom de Bola e o projeto Alfa, que acontecem em Santarém, ambos priorizando a educação, aquele para as crianças, este para os idosos, os dois sob a tutela da PM. Por fim, o projeto Trilha da Cidadania que promove várias atividades culturais na ilha de Mosqueiro.
Afinal, o sândalo perfuma o machado.


PENSE VERDE


A edição n. 439, da revista Época traz como capa o título Pense Verde. São várias e ricas reportagens sobre os principais desafios e riscos ambientais.
Já não há dúvidas. Temos de nos conscientizar e nos envolver em ações civis e estatais. Estamos na iminência de atravessar, em muitos aspectos, um ponto sem volta.
Destacam-se o espaço dado a atuações individuais e coletivas que estão fazendo a diferença em prol do planeta e as 15 dicas para que você, eu e todos possamos viver de forma saudável, evitando agredir o meio ambiente.


CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

Na próxima sexta-feira, dia 20, o Greenpeace estará iniciando campanha em Belém sobre mudanças climáticas na Amazônia. Será o lançamento do documentário “Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas” e ocorrerá às 10 horas no Museu Paraense Emílio Goeldi.


SUA BOA AÇÃO DA SEMANA


Quanto tempo você não revisa seu guarda-roupa? Sabe aquela blusa, calça e sapato que você simpatiza, mas nunca usa? E aquela que não cabe mais em você mas você não arranja tempo ou coragem para doá-la? E os muitos brinquedos de seu filho ou sobrinho que estão largados sem utilidade?
No último final de semana, dezenas de pessoas perderam tudo em Belém, por causa de vários incêndios que ocorreram na cidade. Repito: perderam tudo.
Que tal fazer algo, além de mero exercício intelectual de boa vontade.
As doações estão sendo arrecadadas pela Defesa Civil e no Ginásio Municipal de Esportes Altino Pimenta que fica na Av. Doca de Souza Franco, próximo à UNIMED.


Faça sua parte.
Faça a diferença.



quarta-feira, outubro 11, 2006

As Várias Dimensões de Maria - Parte 1



“O charme da história e sua lição enigmática consistem no fato de que, de tempos em tempos, nada muda e mesmo assim tudo é completamente diferente.”
(Aldous Huxley)



No segundo domingo de outubro, Belém do Pará comemora o Círio de Nazaré. Para muitos é o “Natal dos paraenses”. Cerca de 2 milhões de pessoas – segundo algumas estimativas – saem às ruas da metrópole da Amazônia para render devoção à Maria. É uma festa que já ganhou proporções e dimensões que desbordam do aspecto unicamente religioso, mexendo com a vida cultural, política e econômica do Estado.
No dia 12 de outubro, comemora-se o dia da “Padroeira do Brasil”. É a vez do Santuário de Aparecida, em São Paulo, ser invadido por uma multidão de devotos, vindos de todas as partes do país. Embora a Constituição Federal afirme que o Estado é laico, no referido dia é inclusive feriado nacional, para católicos e não católicos.
Em verdade, o culto mariano é um fenômeno mundial dentro do Catolicismo, que, a rigor, deve a este culto importante contenção da evasão de fiéis que se desgarram da Igreja rumo a outras religiões e crenças.
Diante de um fenômeno de grandes proporções como este e, de regra, mal explicado, resolvi colaborar com algumas informações visando lançar luzes esclarecedoras sobre o assunto, sem pretensão de esgotá-lo, porque muito rico e complexo.
Por que, como e quando Maria se tornou essa força poderosa dentro do Cristianismo? O atual culto à Maria sofreu influências de outros credos religiosos? Maria é a Mãe de Deus ou de Jesus? E os aspectos miraculosos da gravidez e nascimento de Jesus? Afinal, Jesus foi filho unigênito (único) ou primogênito (primeiro)? Qual a missão espiritual de Maria?
Essas entre outras questões serão abordadas em dois artigos, que trarão percepções e dados sobre aspectos históricos, antropológicos, psicológicos, exegéticos, religiosos, culturais, sociais e espirituais referentes à Maria, que compõem o que chamei de as várias dimensões de Maria. Por fim, registrarei a visão espírita sobre a mãe de Jesus.
Preliminarmente, cumpre anotar que tanto nos evangelhos canônicos como na literatura que vai até o século II, raras são as informações sobre Maria, que surgem a posteriori, em registros muitas vezes contraditórios, consignados em textos apócrifos. Dá-se a forte impressão de que Maria foi deliberadamente ocultada dos evangelhos. Mais que isso, talvez algumas informações tenham sido adaptadas às necessidades do Cristianismo Primitivo. Vale registrar, que todos os evangelhos só foram escritos décadas depois da morte de Jesus, quando o Cristianismo – então seita suburbana - engatinhava. Portanto, qualquer perfil de Maria é incompleto e só tem maior densidade se construído cruzando dados de diversas áreas do conhecimento, com cautela e sensatez.
Mas o que está por trás da ocultação e dos mistérios relativos à figura de Maria? Para entender, cumpre voltar no tempo e contextualizar a questão.
A vida da mãe de Jesus é envolta em polêmicas. Uma delas se refere à fecundação e virgindade de Maria. Tema sutil e passional, mas que traz importantes indícios que permitem aos estudiosos uma melhor compreensão quanto à gênese do culto mariano.
Mas afinal Maria concebeu virgem?
Em prelóquio, relevante destacar que narrativas sobre nascimentos sobrenaturais de personagens espirituais e mitológicos não são incomuns. Dentre os famosos filhos de virgens, destacam-se Crisna, Salivahana e Lao-Tse. A mãe de Buda foi fecundada, em sonho, por um elefante (que na tradição asiática representa pureza). Segundo a tradição mazdeana, a mãe de Zoroastro, o lendário legislador persa, foi penetrada por um raio divino. Na mitologia greco-romana, Atená nasce da cabeça de Zeus; Afrodite e Vênus nascem da espuma do mar, assim como Apolo, o herói Hércules, o Deus Mitra, entre tantos outros; na mitologia celta, o bardo Taliesin nasce de um grão e Merlin de uma virgem.
Deve-se ter presente que a virgindade à época de Jesus era muito apreciada e para melhor entender isso se deve retornar no tempo e buscar compreender o culto à Grande Deusa Mãe. Na pré-história, que se estendeu por milênios, havia verdadeiro culto ao sagrado feminino. Naquela época o homem desconhecia sua participação na fecundação. Pensava-se que o poder da vida estava com a mulher e, por isso, ela era ligação e a própria manifestação do divino, da pureza que, aos poucos, foi associada à virgindade. A partir do Neolítico, o homem descobriu sua importância na fecundação e houve progressiva perda de importância da mulher na sociedade, que se firmou como patriarcal, mas resíduos culturais que associavam pureza e virgindade atravessaram as gerações através, por exemplo, do paganismo.
Portanto, para nos aproximarmos da exata configuração do atual culto mariano, impõem-se voltar, novamente, ao momento em que o Cristianismo deixava de ser mera seita clandestina para tornar-se a religião oficial do Império Romano.
Ora, como Império, Roma dominava vários territórios com culturas diferentes. Mas, basicamente, sobrelevava-se o paganismo, que se caracterizava por diversos cultos pagãos a vários deuses, como os de Roma, da Grécia e do Egito, entre outros. Com o Concílio de Éfeso – que em 381 tornou o Cristianismo a religião oficial do Império – não se deu o fim automático do paganismo. Não se muda de uma hora para outra a crença de uma população. Muitos cultos permaneceram, templos funcionavam e expressiva parte de filósofos, advogados e da aristocracia romana ainda mantinha sua tradição pagã. Com o passar do tempo, muitos elementos pagãos se entronizaram na crença do Catolicismo nascente.
No livro Os Deuses eram Astronautas (Editora Nova Era), o pesquisador Erick Von Daniken explica que o culto a Maria como a “Mãe de Deus” não existia no início do Cristianismo e assim foi até o Concílio de Éfeso, em 431, quando por pressão de Roma – implantou-se o culto à Maria como “Mãe de Deus”. O objetivo era político. Como Éfeso era o centro do culto à Deusa Mãe Ártemis, quis-se atrair e unir em torno de Maria católicos e pagãos.
Há, portanto, no culto à Maria clara ligação com o culto à Deusa Mãe pagã ou Magna Mater, codinome também usado para identificar, contemporaneamente, Maria. Nisso, importante dizer, não há nenhum demérito. Vale explicar que o culto à Deusa Mãe era a veneração do sagrado feminino, enquanto expressão de pureza, fertilidade, prosperidade, proteção, tal como se dá hoje em relação ao culto mariano. O culto à Deusa Mãe foi, para muitos estudiosos, a primeira manifestação religiosa organizada da humanidade, o que liga, simbolicamente, Maria novamente ao ato criador puro.
Prova incontestável da relação entre tais cultos está justamente na liturgia, festas e sacramentos católicos. Veja-se que o culto a imagens, como a de Maria – inexistente no Cristianismo Primitivo – é de origem pagã. Rituais de iniciação e purificação, também têm gênese pagã e se transmudam, no Catolicismo, para ressurgirem como sacramentos. O culto a várias Nossas Senhoras – cada uma com poderes específicos - é, noutra roupagem, o culto às várias deusas que existia no paganismo.
Nisso, insisto, não há qualquer depreciação. Não se está aqui querendo diminuir o culto mariano, nem muito menos atacá-lo, o que seria abominável. Estamos apenas fazendo uma recomposição às origens históricas e religiosas do culto mariano, para podê-lo melhor compreender.
Ainda nessa perspectiva, muitas festas católicas dedicadas à Maria têm origem em festas similares pagãs e são comemoradas no mesmo dia de antigas festas pagãs. A festa da Candelária ou da Purificação da Santa Virgem tem como comemoração irmã a festa pré-cristã das luzes. As comemorações à Santa Brígida têm por referência a festa pagã de purificação chamada Imbolc, ofertada à deusa Brigit. A festa de Assunção ao Céu também conhecida como Dormição da Virgem era comemorada, na Palestina e Síria, no dia 15 de agosto, mesma data da comemoração da festa pagã oferecida à Hécate e à deusa romana Diana. A própria festa da natividade ou natal, que é comemorada no dia 25 de dezembro, coincide com a festa pagã do Sol Invictus ou da natividade do Deus do Mitraísmo.
Alguns ritos e costumes atuais parecem ter ligação com tais festas. Nas festas pagãs, eram comuns as procissões e, nestas, o uso de fogos e tochas, como ainda hoje se vê. O sacrifício físico também tem origem antiga. Já alguns termos usados em referência à Maria são um pouco mais jovens, embora nem tanto. Foi na Idade Média, por exemplo, que surgiu o costume de chamar Maria de Nossa Senhora. Na verdade, trata-se de uma criação da aristocracia feudal para elevar Maria – cujo nome remetia mais a simplicidade da dona de casa palestinense do que às damas cortesãs – à condição social mais respeitável aristocraticamente, surgindo daí as denominações de “Nossa Senhora” e “Madona”. Já a adjetivação de “Mãe de Misericórdia” surge, também na Idade Média, mas face os grandes períodos de sofrimento causados pela Guerra dos Cem Anos, pelo Cisma do Ocidente e pela peste negra que dizimou mais de um quinto da população européia. Foi nesse contexto de dor e consternação que cresceu o culto à Maria como “Mãe de Misericórdia”.
Feita esta recomposição antropológica e histórica, importa responder uma das mais intrigantes perguntas: o que faz Maria ser tão atraente à humanidade?
Nos últimos momentos de Jesus, ele reporta-se a Maria e a João dizendo (João 19:26,27): Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde àquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.”
A fala decodificada pode ser entendida como a eterna ligação entre mãe e filhos: humanidade. Ao pé da cruz, Maria vivenciou com sublimidade a maior dor que se pode sentir: a mãe que perde um filho. Ali, sensíveis à dor de Maria, estabeleceu-se um laço empático inquebrável, atemporal.
O culto ao feminino sempre esteve presente na humanidade e muitos são os motivos e maior é a quantidade de explicações a respeito. Shinners, na obra The Cut of Mary and Popular Belief, pg. 163, assinala:
“Os psicólogos junguianos atribuem a atração de Maria à necessidade coletiva da sociedade de expressar as imagens femininas e maternas arquétipos do inconsciente coletivo. Os freudianos vêem no culto a sublimação dos impulsos edipianos masculinos. Todas essas teorias fracassam por várias razões.”. Muitos estudiosos assinalam que o culto à Maria é versátil, adaptável às necessidades de cada época.
Arrisco anotar, em complemento, que o modelo cultural civilizacional impôs-nos a supremacia quase absoluta dos valores masculinos, tais como competitividade, força, rigidez, racionalidade, individualismo, entre tantos outros, que, no final das contas, fez-nos órfãos, frágeis, carentes. Por isso, o sagrado feminino sempre exerceu fascínio e atraiu a massa, que se comporta como um filho vulnerável, muitas vezes errante, que procura colo, compreensão, proteção, amor maternal.
Há, contudo, no âmbito do próprio Catolicismo um cuidado com o culto Mariano. A alta cúria católica já temeu que o culto à Maria se tornasse mais importante que a Jesus. É comum, inclusive, membros da alta cúria católica ressaltarem a importância de Jesus quando falam de Maria. Por isso, uma das discussões mais acaloradas do Concílio do Vaticano II foi definir o papel de Maria no Cristianismo: “co-redentora” ou “medianeira” entre as criaturas e Deus. O título de “co-criadora” provém de manifestações papais, notadamente de Pio X e Pio XI, enquanto o de “medianeira” surgiu na Encíclica Ad Diem Illum, no século XV.
Após apaixonados debates e votação apertada, a Igreja decidiu moldar sua crença para combater o que entendia ser distorções no culto mariano e desenhou Maria como auxiliar do Cristo, mas dependente deste e dele subordinada. A Igreja considerou Jesus o único mediador. Mas o desenho passivo e subordinado de Maria causou insatisfação nos movimentos femininos que lutavam pela dignidade da mulher, justamente contra essa percepção patriarcal. A nova face de Maria só foi revista após movimentos internos na Igreja como o da Teologia da Libertação, liderado pelo Frei Leonardo Boff, que aproximou Maria dos excluídos, dando-lhe uma conotação mais social, mais próxima dos dramas do cotidiano. Maria consolidou-se como medianeira.
Firmava-se, assim, ainda mais os laços entre Maria e a massa. Só quem já pôde vivenciar festas como o Círio de Nazaré pode entender o que Maria representa ao povo. Maria assumiu, sociológica e psicologicamente, o papel de mãe, a mãe das mães.
Obs: No próximo artigo, finalizaremos abordando a missão espiritual de Maria, sob a ótica espírita.

segunda-feira, outubro 09, 2006

POR UM MUNDO MELHOR

NOVIDADE



Agora os leitores do blog Visão Espírita terão uma importante novidade. O espaço Por Um Mundo Melhor. A proposta é dar opção diferenciada que fuja da cultura negativista impregnada em nossa sociedade, especialmente refletida na mídia. Ao invés de dar destaque a notícias negativas, serão as boas notícias divulgadas aos nossos leitores. Idéias, descobertas, projetos, pesquisas, instituições, matérias jornalísticas, atitudes, pessoas, etc. A proposta visa não apenas deixar você informado, mas motivá-lo a fazer sua parte.
Simbolicamente, o verde das letras significa esperança.
Afinal, precisamos acreditar e ajudar a construir um mundo melhor.
Essa é a razão de ser deste blog.


FAZER O BEM FAZ BEM


A revista Época edição n. 437, de 2 de outubro de 2006, deu início ao projeto chamado de Generosidade. Até março, em todas as semanas a revista publicará histórias sobre solidariedade, pauta esta que estará na agenda de todas as revistas da Editora Globo. De outubro a março, os leitores poderão participar na indicação de brasileiros solidários e contar suas histórias pessoais acessando o site
www.editoraglobo.com.br/generosidade
Quando completar 1 milhão de cliques a Editora doará 100 mil reais ao melhor projeto social.
As histórias contadas nas edições 437 e 438 da revista Época realmente são tocantes e é impossível ficar insensível, tanto que foi a primeira edição supracitada que fechou a proposta e antecipou a estréia do espaço Por Um Mundo Melhor deste blog. No meio de tantas notícias ruins, vale a pena conferir quem está fazendo a diferença.


AQUECIMENTO GLOGAL – TORNE-SE PARTE DA SOLUÇÃO


Hoje, no programa matinal de Ana Maria Braga, da TV Globo, tratou-se do tema Aquecimento Global. Especialistas foram ouvidos e uma matéria abordou vários aspectos do desafio. Mas o que mais chamou atenção foi a proposta do “Torne-se parte da solução”, onde foram sugeridas maneiras do cidadão comum contribuir para evitar ainda mais o aquecimento global. Dentre as sugestões estão a troca de lâmpadas convencionais por fluorescentes, a diminuição do uso do carro, a reciclagem e o plantio de árvores. As demais sugestões e a matéria completa podem ser acessadas no site
http://maisvoce.globo.com/


Faça sua parte.

quinta-feira, setembro 21, 2006

RADAR



CICLO DE PALESTRAS SOBRE FAMÍLIA COM ALBERTO ALMEIDA



Durante os próximos dois meses, o médico e terapeuta Alberto Almeida – um dos maiores conferencistas do movimento espírita nacional e internacional – proferirá palestras sobre o tema família, na União Espírita Paraense – UEP, que fica na Tv. Castelo Branco, entre Av. Magalhães Barata e Av. Gentil Bittencourt.
Agende-se: quinta-feira, 20:00 horas.
Entrada franca.
Chegue cedo. As palestras de Alberto Almeida são muito concorridas.




SEMINÁRIO TRANSPESSOAL – A RAIVA EM SUAS MÃOS! O QUE FAZER COM A ENERGIA AGRESSIVA?



Acontecerá no dia 02 de outubro de 2006, na Associação Nipo Brasileira, Seminário Transpessoal que tem como tema principal A raiva em suas mãos.
A coordenação é do médico e terapeuta Alberto Almeida.
As inscrições podem ser feitas nas farmácias homeopáticas e maiores informações podem ser acessadas no site
www.grupoessencia.com.br
O investimento antecipado é de R$-15,00 e no local do evento R$-20,00.
Toda renda será doada para obras assistenciais da União Espírita Paraense – UEP.



JORNADA CIENTÍFICA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICO ESPÍRITA DE SÃO PAULO



Já estão abertas as inscrições para a Jornada Científica da AME/SP, que acontecerá nos dias 25 e 26 de novembro de 2006, no Hotel Braston em SP.
Serão abordados:
*Contribuição Médico Espírita à Saúde Mental
Estresse – Depressão – Mediunidade – Obsessão.
*A Morte e o Morrer
Experiência de Quase Morte – Terapia de Vivências Passadas e Cuidados Paliativos e Espiritual.
*Ciência e Espiritismo
Física Quântica e Espiritismo – A Reencarnação como Lei Biológica – Pesquisas em Saúde e Espiritualidade.
* Espiritualidade na Prática Clínica
Espiritualidade no Cuidado com o Paciente – AME a vida: do Nascer ao Morrer – Relato de Casos Clínicos.
Maiores informações no site
www.amesaopaulo.org.br


domingo, setembro 17, 2006

O Homem Amor


“Basta um minuto para fazer um herói, mas é necessária uma vida inteira para fazer um homem de bem”
(Paul Brulat, romancista francês)



Nesta semana, o maior país católico do mundo, deu uma lição de singular maturidade espiritual, reconheceu através de maciça votação, Chico Xavier como o maior brasileiro de todos os tempos. Para se ter uma idéia da expressividade da votação do médium mineiro, Ayrton Senna, o segundo colocado, atingiu pouco mais da metade da votação de Chico. Lula, o atual Presidente da República, líder das pesquisas eleitorais, não conseguiu sequer atingir 7% da votação do mais famoso espírita brasileiro.
No ano que o povo brasileiro – tão descrente da política – terá de eleger uma “nova” geração de políticos para gerir os rumos do país, a eleição de Chico é um bálsamo.
Detalhe interessante, a revista Época disponibilizou inicialmente 50 sugestões de brasileiros notáveis. Chico não estava sequer entre as sugestões da revista. Não precisou de muito tempo para a revista perceber o equívoco. Rapidamente os leitores redimiram Chico. Afinal, em eleição, a voz do povo é a voz de Deus.
Chico já tinha aprontado outra dessas. Em 2000, deixou concorrentes de peso para trás, quando foi escolhido em outra votação gigantesca o Mineiro do Século, em eleição promovida pela revista Isto É . Com 704.030 votos deixou nada menos que Santos Dumont – segundo colocado -, Pelé, Betinho, Carlos Drummond de Andrade e Juscelino Kubitschek para trás.
Desta vez, em votação paralela, uma comissão de 33 personalidades escolheu o jurista, político abolicionista e estadista Ruy Barbosa – bela escolha - como o brasileiro do século. Estranhamente, porém, a revista Época deu a capa à Ruy Barbosa, que obteve 4 votos da Comissão, desconsiderando os quase 10 mil votos recebidos por Chico Xavier, a quem coube discreta janela no canto superior direito da capa. Tudo bem, Chico nunca gostou de evidência, isso é pequeneza nossa.
Deslizes à parte, a eleição de Chico é uma homenagem à sua vida. Os pormenores da eleição do maior brasileiro da história estão na edição n. 434, de 11 de setembro da revista Época. Já algumas informações sobre a vida dessa singular personalidade, estão a seguir e são – para muitos – desconhecidas. Por isso, resolvi postar este artigo.
Afinal, conhecer a história de vida de Chico é vislumbrar do que o espírito humano é capaz. Num período em que a diferença entre bem e mal já não é tão nítida, por causa da relatividade moral, Chico é a história viva da bondade simples, pura, sem afetação ou falso heroísmo.
Para entender a importância de Chico, impõe-se que se amplie o foco e se olhe mais longe. Quando a Espiritualidade Superior antevê época de crise moral, de decadência de valores, providencia a reencarnação de espíritos fortes, dotados de dons ímpares e virtudes bem acima da média da sociedade. Mas não apenas isso. Tais espíritos devem ter granítica solidez de caráter para resistir as tentações envolventes, as armadilhas pérfidas, as mentiras pútridas, as decepções pungentes e as críticas ácidas. Nesse território inóspito, os simples mortais recuariam, desistiriam. Só os espíritos superiores resistem.
A missão é alavancar a evolução da humanidade.
Dura missão. Caminho pedregoso, cheio de espinhos e serpentes, que deve ser percorrido de peito aberto, pés descalços e carregando nos ombros o peso da desconfiança geral. Caminhada árdua e extenuante, cujo único oásis é a paz de espírito.
Não raro, o reconhecimento vem depois, muito depois. Quando vem. A compreensão completa da obra e vida demora muito mais tempo.
Uma dessas reencarnações missionárias iniciou seu curso em 1910, na pacata cidade mineira de Pedro Leopoldo. Apesar do cenário de áspera pobreza, Chico reencarnara com sorriso fácil e energia cativante, mas metido num corpo franzino, frágil. Nascia uma lenda. Podia ser mais um Chico, mas foi quem foi.
Dotado de uma mediunidade prodigiosa, apenas menor que sua humildade e disposição de fazer bem ao próximo, catalisou atenção do mundo todo, de pobres e poderosos, de crentes e céticos, arrancando de todos, ao final de sua existência, confissões surpreendentes de respeito, admiração, júbilo.
Como qualquer médium que cresce em família não espírita, sofreu preconceitos e reprimendas. Seu pai, dedicado vendedor de lotéricas, não aceitava as “esquisitices” do filho. A mãe não compreendia, mas confiava nos relatos do filho. Chico viu a irmã sofrer na pele o peso de uma mediunidade não educada. Viu sua infância passar rápida. Perdeu a mãe cedo, quando tinha apenas 5 anos. Foi entregue pelo pai à madrinha, Maria Rita, em cujas mãos sofreu sucessivas agressões e castigos.
Foi nessa época que Emmanuel se apresentou a ele como guia. Chico aceitou a missão. Emmanuel exigiu disciplina e para começo de trabalho a publicação de 30 livros. Eram os primeiros do total de 409 que deixou psicografados. Sua obra ampliou e revolucionou as informações sobre o que se conhecia sobre vida após a morte, muitas das quais foram confirmadas anos depois por experiências científicas neutras, notadamente as de Transcomunicação Instrumental – TCI, Experiências de Quase Morte – EQM e Terapia de Vidas Passadas – TVP, quase todas conduzidas por não espíritas.
O primeiro desses livros foi o impactante Parnaso do Além Túmulo, publicado em 1932. A obra trazia 59 poemas de 14 poetas já desencarnados. Todos artistas consagrados, como Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Castro Alves e Augusto dos Anjos. A comunidade literária reagiu e a polêmica durou meses, com direito à minuciosa investigação. Ao final, muitos ainda não estavam convencidos que aquele homem, filho de pais analfabetos, que tinha concluído apenas os estudos do primário não era um farsante, mas uma declaração lapidar publicada no editorial do Jornal O Estado de São Paulo descrevia o sentimento da maioria: Se Chico não recebe os textos de espíritos, deveria ter direito a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Chico sempre enfrentou perseguições e desconfiança. Céticos, religiosos, cientistas, intelectuais e oportunistas o cercavam, preparavam armadilhas para flagrá-lo, espalhavam boatos para o desacreditarem. Chico, orientado por Emmanuel, apenas seguia trabalhando.
_ O que o trabalho não resolve, eu também não resolvo Chico. Ensinava Emmanuel.
No meio da desconfiança, havia interesse também. Afinal, Chico era um médium extraordinário. Psicografava de trás pra frente, em línguas estrangeiras que não conhecia, antecipava fatos, descrevia nomes e minúcias insuspeitas de mortos e de cada história particular.
A NASA já havia investigado os dons de Chico. Em 1939, os russos mandaram cientistas para observarem o famoso médium. Propuseram uma viagem para testes em Moscou. Duraria vários meses. Chico se animou. Emmanuel, provavelmente sabedor do uso militar que a Rússia e EUA faziam desses dons, vetou a viagem. Chico insistiu que queria mostrar a pluralidade de sua mediunidade e de quebra construir casas populares com o dinheiro que ofertaram para viagem. Emmanuel foi direto.
_ Se quiser, pode ir. Eu fico.
O médium aceitou a orientação do guia e continuou trabalhando.
Chico sempre respeitou a ciência. Aliás, antecipara futuras descobertas científicas. No hermético livro Evolução em Dois Mundos adiantara, entre outras coisas, que “a matéria é luz coagulada”, conceito que fora confirmado, apenas anos depois, por Jack Sarfatti e David Bohn, cientistas americanos, no livro Space Time and Beyond.
Apesar de seus multifacetados dons, o que tornava Chico Xavier uma pessoa invulgar, única, era sua simplicidade e bondade. Podia ter ficado rico, muito rico. Afinal, foi e ainda é um best-seller. Em vida, seus mais de 400 livros só venderam menos que Jorge Amado, que já foi ultrapassado. Atualmente, Chico só perde para Paulo Coelho. São cerca de 25 milhões de exemplares vendidos. Chico renunciou em cartório os benefícios a si quanto aos direitos autorais e espalhou o bem. Fundou centenas de casas de caridade, beneficiando – segundo estimativas da Federação Espírita do Brasil – cerca de 100 mil famílias.
Mas – talvez - seu maior bem tenha sido consolar mães e pais pungidos de dor, pela perda de entes queridos. Dezenas de caravanas chegavam a cada final de semana em Uberaba e Pedro Leopoldo. Foram milhares de cartas com mensagens de entes queridos recebidas por intermédio do notável médium.
Até hoje milhares de mães e pais guardam com carinho essa benção que Chico intermediou. Algumas mensagens estão em livros e já está em produção um filme sobre mensagens que Chico recebeu.
Uma, entre tantas investigações, descobriu que 42,2% das famílias reconhecem nas mensagens o estilo dos filhos, sendo que 35% afirmam que as assinaturas são idênticas, conclusões muitas vezes confirmadas por perícias grafotécnicas. E o mais surpreendente: 100% das famílias afirmam acerto total dos dados noticiados nas mensagens. Ou seja, em nenhum dos casos investigados houve troca de nomes e sobrenomes, erro de endereços, filiações, detalhes da vida íntima, do círculo de amizades ou das causas e circunstâncias das mortes. A referida pesquisa tornou-se livro: A vida triunfa.
Nunca, repito, nunca uma única fraude.
Ressalte-se, ainda, que jamais recebeu um único centavo por causa de sua dedicação. Viveu uma vida simples, sustentada pela ínfima aposentadoria que recebia do Ministério da Agricultura.
Foi muitas vezes homenageado por seus trabalhos caritativos. Sua fama alastrou-se, apesar de sua discrição. Em 1981, mais de 2 milhões de assinaturas aderiram à campanha nacional que indicou Chico Xavier ao prêmio Nobel da Paz, coordenada pelo ex-diretor global Augusto César Vannucci. Entre os adesos estavam artistas famosos como Elis Regina, Tony Ramos e Lima Duarte. Aliás, a casa de Chico era uma peregrinação de artistas. Os cantores Roberto Carlos, Fábio Júnior, Vanusa e Wanderléia estiveram lá. Xuxa e Risoleta Neves, viúva de Tancredo Neves, também. O maior atacante da seleção brasileira de vôlei, Giba, que fora beneficiado por intervenção espiritual que lhe garantiu a carreira esportiva, também esteve com Chico, entre tantos outros.
Chico concorreu ao Nobel da Paz com João Paulo II, mas quem levou o Nobel foi o Alto Comissariado da ONU para refugiados.
Chico tinha uma energia contagiante. Não sou de muitas lágrimas, mas nunca consegui as conter quando ele aparecia na televisão. Não havia explicação, simplesmente me emocionava ao ver um gigante enclausurado naquele corpinho frágil, curvo, mas incansável.
O jornalista Marcel Souto Maior – que além de não ser espírita, é cético -, autor dos festejados livros As Vidas de Chico Xavier e Por Trás do Véu de Isis sentiu na pele o que eu sempre senti. Pouco tempo antes de Chico desencarnar, o jornalista esteve em Uberaba. Tentou falar com Chico, mas ele já estava muito debilitado e isolado por um círculo de amigos. Numa das noites na cidade, o jornalista resolveu ir até o Grupo Espírita da Prece. Para sua surpresa Chico apareceu, fato que não acontecia há tempos. Corpo abatido, caminhava amparado pelos amigos. O sorriso aberto estava lá, como sempre. De repente, Marcel Souto Maior se viu chorando descontroladamente. Não sabia o pôr que, nem conseguia parar. Parecia uma reação instintiva do corpo, tal como o movimento da respiração diante do ar. No primeiro livro seu citado acima, narra a luta contra as lágrimas “_Desabavam à minha revelia, aos borbotões, sem nenhum controle.”
Acho que quem conheceu Chico nunca praticou esportes radicais. Não precisava. Bastava estar perto de Chico, eram fortes emoções.
Quando deixou a matéria em 30 de junho de 2002, o Brasil que - comemorava o quinto título mundial de futebol – parou para chorar a perda de um ilustre brasileiro, talvez o maior de todos. Para mim foi e é, por certo. Foi decretado feriado em Uberaba e luto oficial por 3 dias no Estado de Minas Gerais. O Presidente Fernando Henrique divulgou nota oficial ressaltando o valor de Chico. O corpo do líder espírita foi velado por 120 mil pessoas e exigiu a mobilização da polícia e dos bombeiros.
Esta eleição, onde Chico Xavier foi considerado o segundo maior brasileiro de todos os tempos, impõe reflexões: como pode um homem simples, matuto do interior de Minas, filho de pais analfabetos, que nunca usou os meios de comunicação para se promover, que nunca exigiu gratidão, que fugia dos holofotes e das polêmicas, se tornar um gigante ao ponto de ser reconhecido pelo povo brasileiro mais importante que ídolos e expoentes como Ayrton Senna, Pelé, Padre Antônio Vieira, Oscar Niemeyer, Tom Jobim, José Bonifácio, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Tiradentes, Santos Dumont, Tancredo Neves, Machado de Assis, dentre tantos brasileiros que tornaram nosso país melhor. O que Chico tem a mais: Chico tornou o mundo melhor.
Óbvio que jamais aceitaria um elogio desses. Enquanto a maioria das pessoas fica mendigando elogios, reconhecimento, aplausos e gratidão, Chico Xavier se diminuía. Sempre que alguém começava a desfilar afagos, Chico desviava com bom humor: sou apenas um cisco, Cisco Xavier.
Salve Chico.

terça-feira, setembro 12, 2006

RADAR

Chico Xavier, o maior brasileiro de todos os tempos.



Pode parecer pretensão exagerada, mas este foi o resultado da eleição promovida pela revista Época, cujos detalhes estão na edição de n. 434, de 11 de setembro de 2006. A escolha foi feita pelos leitores da revista. Chico Xavier teve quase o dobro de votos do segundo colocado, Airton Senna. Rui Barbosa foi o escolhido como o maior brasileiro de todos os tempos por um grupo de pensadores. Chico deixou expoentes respeitáveis e ídolos nacionais para trás, bem atrás.
Pelo significado e relevância da eleição, o maior médium do Brasil será o tema do próximo artigo deste blog. Aguardem.



Comemorações do centenário da União Espírita Paraense.


A livraria André Luiz da União Espírita Paraense foi objeto de matéria publicada no jornal O Liberal, de domingo 10 de setembro de 2006. Falou-se um pouco sobre o centenário da UEP e da riqueza literária da livraria, que participará da Feira Pan-Amazônica do Livro, que inicia na próxima sexta-feira, dia 15. Confirmou-se, também, a data da Feira do Livro Espírita, que acontecerá no período de 2 a 10 de dezembro, na Praça da República.
Vale a pena conferir.



2º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita.


No período de 07 a 10 de setembro aconteceu o 2º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita, na Universidade Santa Cecília – Santos/SP, promovido pela Associação Brasileira de Pedagogia Espírita – ABPE. A pós-doutoroda Dora Incontri, autora de vários livros sobre a disciplina, fala sobre o Congresso na edição n. 33, desse mês, da revista Universo Espírita.

sábado, setembro 02, 2006

PERDOAR É DIFÍCIL, MAS...

“O que não me destrói me torna mais forte.”
(Martin Luther King Jr.)


Já faz mais de 10 anos, talvez 12 ou 15. O estádio Mangueirão em Belém estava absolutamente lotado. Havia cerca de 50 mil pessoas. O jogo estava sendo transmitido pela Rede Globo em rede nacional e o Remo vencia de 1 a 0 o poderoso Corinthians, então cheio de estrelas da seleção. A vitória garantiria a classificação à outra fase da Copa do Brasil. O Remo estaria entre os oito melhores times do país. O resultado era uma surpreendente zebra. Tudo era alegria na arquibancada e minha voz já faltava de tanto cantar. Por volta dos 40 minutos do segundo tempo, o Remo faz uma substituição. Entra um habilidoso atacante. Aos 48 minutos – 3 após o tempo regulamentar – um escanteio contra o Remo. A torcida não parava de cantar. Tínhamos em campo o melhor zagueiro de toda história do clube paraense e o goleiro estava num dia de gala. A lógica era: bateu o escanteio, a zaga tira a bola e o juiz acaba o jogo. Simples. A bola cruza a área e após uma rebatida sobra para o jovem e talentoso atacante que acabara de entrar. Tranqüilo – pensei – agora é só tirar. Ele dominou a bola e mais que rapidamente chutou. Um silêncio opressor tomou conta do estádio. Podia-se ouvir o coração do jovem atacante bater acelerado. Olhei pro meu irmão ao lado para confirmar e ele confuso falou: _ Não acredito! Um sussurro fúnebre ergueu-se da arquibancada perplexa. No campo o brilhante zagueiro azulinho estava com as mãos na cabeça. O goleiro de joelhos, paralisado. A bola, assustada, no fundo das redes. Infelizmente o rapaz fez um gol contra. Aliás, um golaço. Era o fim. Nunca me achei um torcedor fanático. Sempre soube perder e minha tristeza sempre foi muito superficial e passageira. Mas nesse dia estava arrasado. Era um momento especial para nosso time. A torcida fazia uma festa pacífica e linda. Como pode um atacante (que tem por função fazer gol no adversário) entrar faltando poucos minutos para o final e fazer um gol contra? Mal dormi. Acordei cedo para assistir o telejornal. Queria ouvir sua explicação, olhar nos seus olhos. Para ser sincero, queria vê-lo chorando, sofrendo, desesperado (Não, não era um obsessor, era eu mesmo). Alguns minutos depois ali estava ele, na tela, com uma tranqüilidade insuportável. “_ Infelizmente aconteceu, faz parte. Agora é bola pra frente.”. Como é que é?! Faz parte?! Bola pra frente?! Que conversa é essa! Nem uma única lágrima. Passei muito tempo lembrando aquela entrevista. Uns dois anos depois, eis que o rapaz aparece na TV. Tinha se tornado pastor evangélico. Qual foi minha reação? _ É tu tens que rezar muito mesmo para apagar teus pecados! Credo, ainda estava com raiva, tanto tempo depois. Perdão então... nem pensar.
Agora já o perdoei. Aquilo foi apenas um gol. Um acidente sim, promovido pelo nervosismo de um jovem profissional. Só isso. A inferioridade era minha, não dele.
Sei que meu caso era simples. Há transtornos, dramas e prejuízos causados por outras pessoas que envolvem situações mais sérias e complexas.
Certa vez ouvi um rapaz no Centro Espírita dizer que a felicidade passa necessariamente pelo perdão. Poucas assertivas me fizeram pensar tanto como esta. Ele tem razão.
Um dos fatores mais determinantes à evolução espiritual é o perdão. Mensagens do plano espiritual e pesquisas científicas confirmam os benefícios do perdão. Quem perdoa é leve, livre, versátil, tem um sistema imunológico mais saudável e tem índice de felicidade maior. Ao revés, quem tem muita dificuldade de perdoar é tenso, embotado, instável, adoece mais e sente-se mais infeliz.
Jesus insistiu muito sobre essa lição. Ela está em várias passagens da Bíblia. Ele sabia de nossa necessidade e, principalmente, sobre a dificuldade que muitos sentem de perdoar.
Perdoar não é um ato, uma palavra. O perdão é o final de um processo mais ou menos longo – dependendo da evolução e vontade do espírito – que culmina com uma redenção: de quem perdoa e de quem é perdoado. É a maior expressão da liberdade, pois quem perdoa liberta-se do passado e de pesos emocionais desnecessários, que com o tempo se transformam em prisão.
Esse processo inicia-se com a disposição de enfrentar o assunto. Muitas pessoas sequer cogitam a possibilidade de perdoarem seus desafetos. Fixam obsessivamente o fato que as machucou e alimentam mágoas, ressentimentos, raiva, ódio e desejos de vingança. Um calabouço, cuja chave para liberdade está à mão. Portanto, o primeiro passo é abrir-se. É experimentar, tentar superar essas barreiras emocionais, visualizar a vida que existe além dos muros do cárcere.
Mas não basta abrir-se, importante também se desarmar. Às vezes a pessoa até aceita falar a respeito, mas já tem sua opinião formada, suas verdades imutáveis, sua questão fechada, sua justificativa para não perdoar. Finge ouvir as ponderações contrárias, mas não as considera realmente. Sua inflexibilidade sabota o processo do perdão. Depois dirá que tentou, quando na verdade, nunca esteve disposto a ir em frente.
O mais importante passo é buscar compreender o que aconteceu. Não a palavra, o ato ou a situação – isoladamente - que lhe machucou. É preciso ampliar o enfoque. Voltar um pouco, nos fatos e na história das pessoas envolvidas. Lá atrás sempre se encontram motivos que explicam muita coisa, embora possa ser confortável para você dizer que “isso não justifica.”
Quem agride, desrespeita, machuca o outro está precisando de ajuda. Muitas vezes a agressão é o estágio final de uma enfermidade do espírito. Não raro é um grito pedindo apoio, atenção, socorro. Quando se procura perceber a pessoa e seus dramas – por trás do ato em si – ver-se-á que o comportamento dela, por mais reprovável que seja, tem um motivo. Pode não justificar, mas lhe dá humanidade.
Imprescindível, outrossim, é não julgar. Jesus advertiu que quem julga o outro a si próprio está julgando e estabelecendo os critérios de julgamento. Quanto mais duros formos com as faltas alheias, mas as nossas serão valorizadas no Tribunal Divino.
Fundamental é ter humildade. Muitas vezes nós que demos causa, outrora, a um início de desentendimento que, mais tarde, motivou a situação que nos desagradou, mas esquecemos e imputamos toda responsabilidade ao outro. É mais fácil, mais cômodo. Reconhecer o próprio erro é muito difícil. Mais fácil é apontar “o cisco no olho do outro.” Essa característica humana fez Confúcio, o grande mestre e filósofo chinês, lamentar: “Acho que devo abandonar as esperanças. Ainda estou para conhecer o homem que, ao ver os próprios erros, seja capaz de se criticar internamente.”
Não raro por trás da negativa de perdão há menos dano real e muito orgulho. Quase sempre é o orgulho que impede que perdoemos. Aliás, muitas vezes a pessoa até se convence que tudo foi um mal entendido ou um mal menor, mas recusa-se a “dar o braço a torcer”, prefere procurar outros motivos para manter a posição, ao invés de ser mais humilde e buscar uma reaproximação. Um pouquinho de humildade não faz mal para ninguém. Facilite a reconciliação. Interprete o pedido de desculpas ou simples sinais implícitos de gentilezas como um pedido de perdão. Para demonstrar nosso amor, não precisamos dizer eu te amo. Por que exigimos que a pessoa verbalize o pedido de perdão? Ele pode estar num sorriso amável, no silêncio respeitoso, no olhar compassivo, na gentileza gratuita. Disse o magistral escritor Machado de Assis: “Não levantes a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.”
Jesus, a quando de sua prisão, advertiu Simão Pedro para que guardasse a espada (Mateus: 26, 52 a 53): “Embainha de novo tua espada! Porque todos aqueles que usam da espada, pela espada perecerão.”
Não deixe que sua imaginação alimente suas mágoas e aumente os fatos. O ressentimento se alimenta de fatos que não ocorreram, de palavras que não foram ditas, de gestos que não se expressaram, de situações inexistentes. Vale a dica do humanista Guerdjef, que foram colocadas no Instituto Francês de Ansiedade e Stress de Paris: “Diferencie problemas reais de imaginários e elimine os imaginários, porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mais importantes.”
Jorge Luiz Borges, o mais brilhante escritor argentino, no seu belíssimo poema Instantes, também pondera: “Se eu pudesse viver novamente (...) teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.”
Em verdade, devemos valorizar nossos desafetos. Todos somos filhos de Deus. Portanto, por mais que isso lhe incomode, seu desafeto também tem procedência e a centelha divina e, não raro, tem muitas virtudes, algumas das quais você sequer desconfia e outras tantas que você ainda não adquiriu. Você pode ser mais evoluído em algumas coisas e seu desafeto bem mais evoluído que você em outras. Portanto, ele tem aspectos apreciáveis. Ele errou, mas não é o próprio erro. É preciso olhar o outro como um todo e não resumi-lo a um deslize. Noutro quadrante, muitas vezes – entenda isso – o seu desafeto está com a razão. Sim, o que ele falou ou fez machucou – talvez o jeito, o momento -, mas no fundo é pro seu bem. Aliás, poucos amigos conseguem nos melhorar tanto quanto nossos maiores inimigos. Amigos são tolerantes, os desafetos não descansam, nos forçam a melhorarmos, a buscarmos mais e, ainda, nos fazem ser mais vigilantes. É verdade que muito dessas melhoras é “só pra não dá o gostinho”, mas – apesar disso - se não fossem eles, estaríamos piores. Pela lógica, devíamos é ser gratos a esse adversários. Eles são ótimos instrumentos evolutivos.
Não sem razão, que o hábil poeta francês Vitor Hugo, assinalou com sutileza em seu festejado poema Desejo: “Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.”
Entenda que seu desafeto não precisa ser seu amigo, mas tampouco precisa ser seu inimigo mortal. Não haja de cabeça quente. Se você ainda não consegue perdoar, esqueça. Não fique valorizando, justificando seu ressentimento, pois isso só lhe dá mais força. E – em hipótese alguma – se vingue. A vingança não é um prato para se comer frio. É um compromisso para ser pagar noutra temperatura.
Não há dúvida que um dos episódios mais marcantes sobre o assunto envolve o comerciante Massataka Ota. Três homens seqüestraram e mataram – no mesmo dia - seu filho, Ives Ota, de 8 anos. O seqüestro aconteceu no dia 29 de agosto de 1997. Em 2002, o Fantástico começou a exibir um quadro chamado Hora da Verdade, onde a vítima e o criminoso eram colocados frente a frente. Massataka Ota decidiu que ia participar do programa. Queria provar para si mesmo que podia perdoar os seqüestradores e libertar-se dos sentimentos que estavam destruindo sua vida. Antes, orou muito para fortalecer-se para o momento. Dias depois ele estava frente a frente com Adelino Donizete Esteves no presídio de Avaré, onde este cumpre pena. “No momento em que fiquei frente a frente com ele, não senti raiva, simplesmente conversei. Eu disse a ele: 'É duro para um pai vir aqui. É fácil salvar um amigo, é difícil salvar um inimigo. Mas eu estou aqui pra te salvar. Eu conheci sua filha de cinco anos, e quero que você saiba que desejo para ela o contrário do que você fez com o meu filho. Quero que ela cresça, que tenha um casamento muito feliz e tenha muitos filhos. Os olhos dele começaram a lacrimejar, e aí ele me falou que ia cumprir a pena dele direitinho. Saí do presídio com o meu coração limpo.” Hoje Massataka Ota ensina: “A vingança é uma ilusão.” Pode-se dizer que ele tem as características de um homem de bem, decantadas no Capítulo XVII, item 3, do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado. É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.” Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.”
A espiritualidade superior não cansa de repetir: pague o mal com o bem. De alguma forma e em algum momento a vida lhe dará oportunidade de ser gentil, útil ou bondoso com seu desafeto. Não perca essa oportunidade. Mas não faça isso para se mostrar superior, faça como uma chance de reconstruir a relação, ainda que noutro nível. O notável Francis Bacon ensina: “A mais alta vingança de uma injúria é o esquecimento.”
Não perca tempo. O perdão nos liberta, nos alivia, tira um peso da alma e lhe traz novos horizontes. Por isso Shakespeare o glorificou: “O perdão cai como um chuva suave do céu na terra. É duas vezes bendito: bendito ao que dá e bendito ao que recebe.” Existe, à propósito, um texto belo onde Madre Tereza de Calcutar responde a perguntas diretas. Duas chamam atenção: “Qual o pior sentimento? _ O rancor. Qual o sentimento mais belo? _ O perdão.”
Certa vez um repórter perguntou à Gandhi se ele tinha perdoado um agressor. Mahatma Gandhi respondeu: _ Não perdoei. Todos ficaram surpresos e ele completou: “_ Não perdoei porque nunca me senti ofendido.”
Marco Aurélio (121-180 d.C), o imperador filósofo, que conduziu Roma a seu último período de glórias, foi vítima de uma tentativa fracassada de conspiração. Sem que soubesse, a conspiração foi descoberta, reprimida e seu mentor executado. Ficou muito triste quando soube, por ter perdido a chance de perdoar o inimigo. Quando lhe entregaram a correspondência do conspirador, ele a queimou sem lê-la e mais tarde deixou sublime lição a respeito: “Sempre que você se desentender com alguém, lembre que em pouco tempo você e outro estarão desaparecidos.”
Cada um levará consigo apenas o que fizeram de suas vidas. De muitas atitudes nos arrependeremos, de outras não. Uma destas é perdoar. Vale a citação de Malba Tahan:
“Nunca te arrependerás:- De teres freado a língua, quando pretendias dizer o que não convinha....- De teres pensado antes de falar.......- De teres perdoado aos que te fizeram mal....- De teres suportado com paciência faltas alheias....- De teres sido cortês e honesto com tudo e com todos.”
Por fim, devo confessar que também já fiz um gol contra. Para ser sincero, mais de um. Também não chorei . Na verdade, todos nós fazemos gols contra na vida. Não adianta ficar remoendo o passado. Vale a lição do ex-desafeto jogador: “bola pra frente.” (Quem diria que anos depois a mesma situação serviria como aprendizado).
Sei que é difícil, mas é preciso avançar. Fiquemos com o roteiro que o espírito André Luis nos concedeu através de Chico Xavier: “Jesus ilumina o caminho, mas quem tem que percorrê-lo somos nós.”