segunda-feira, junho 05, 2006

Cultivar a alma



Ninguém nasce completo. O Criador permitiu e permite que cada criatura faça sua jornada, atravesse o caminho de sua evolução através das escolhas que fez e faz por seu livre-arbítrio.
Nada no universo nasce pronto. Tudo evolui, em cada partícula está contido o impulso poderoso da lei do progresso que nos arrasta para o aperfeiçoamento contínuo através de sucessivas e lentas mudanças, muitas das quais sequer percebemos. Nada está parado, ninguém está condenado a ser o que é para sempre. Em todo lugar, em cada criatura está o sopro do Criador. Tudo caminha, renova-se, transforma-se, inevitavelmente, pois esta é a lei.
Algumas pessoas caminham mais rapidamente, outras rastejam entre hesitações e quedas. Por isso em uns as mudanças são mais perceptíveis, noutros tudo parece imutável, estagnado, chegando mesmo a dar vestígios de regressão, de piorarem. Muitas pessoas costumam dizer que não querem ou não precisam mudar: “eu sou assim e pronto...”, proclamam como se pudessem fugir da ordem que rege o universo. Às vezes vemos espíritos endurecidos, que praticam sucessivos crimes e não demonstram arrependimento, dão, ao contrário, sinais degeneração total. Mesmo nestes a centelha divina dorme latente.
As vozes do espaço dizem que desconhecemos a força da dor, do sofrimento. Não há coração endurecido que não se renda a essa potência e se dobre, cedo ou tarde, para se deixar penetrar pela linfa do amor. Chegará momento que seus desmandos lhe submeterão a dores tão atrozes que buscarão Deus, escoadouro único das almas. Quanto tempo dura essa resistência? Quando isso irá acontecer? Não sabemos, só o Criador conhece a fundo suas criaturas. Talvez nessa encarnação, talvez em outra. Apenas é certo que a lei do progresso romperá qualquer resistência e se imporá. Ao espírito endurecido e criminoso, caberá recomeçar sua caminhada e responder por seus equívocos. Não se trata de castigo, de punição, mas de reeducação pelos processos de depuração espiritual. É a vivência do mal que fez que o ensinará usar com acerto o seu livre-arbítrio e a buscar seus próprios méritos.
Por isso os espíritos do Senhor vêm nos esclarecer: estagnar sim, regredir não. As virtudes são as forças do espírito. Ninguém perde as virtudes que já adquiriu. O que há, muitas vezes, é a aparência de que já se tem uma virtude, quando na verdade dela ainda não se apossou o espírito. Não se deve confundir os primeiros exercícios de uma virtude, com o domínio pleno dela. É natural tentar e errar, até acertar permanentemente. Os ensaios são válidos, assim como são as provas que tem de enfrentar para dela apropriar-se definitivamente. Portanto, ninguém perde os valores que já conseguiu realmente, mas pode estacionar no vai e vem das lutas para adquiri-lo, até dedicar-se com ardor a vencer a si mesmo e domar suas más inclinações, tomando para si as virtudes que almeja.
Por tudo quanto dito, fica fácil compreender que nosso espírito é cultivável. Ou seja, podemos e devemos cuidar dele tal como o agricultor cuida da semente que se tornará colheita. O espírito humano é um grande campo. Sua terra é naturalmente fértil para se plantar. Mas é preciso escolher as sementes com cuidado e então semeá-las com amor. Mas não basta conhecer uma virtude, tal como não basta que o agricultor manuseie uma semente. É preciso preparar o espírito. Mais que isso, devemos cultivar o bem que queremos colher como virtudes e arrancar fora as ervas daninhas que nos atrasam a evolução.
O cultivo pode se dar de várias formas. Boas leituras são imprescindíveis, tal como são as valorosas amizades e o desenvolvimento da autocrítica, a sublimação dos sentimentos e o fortalecimento da mente. Mas a sabedoria do Criador não permite que nenhum espírito cresça egoisticamente, amealhando para si o que supõe virtudes, sem delas ter de compartilhar com seu próximo. Portanto, a verdadeira virtude está no dividir. Não se trata do dividir matemático que diminui. Mas na partilha que beneficia o próximo. Ninguém é realmente virtuoso se não beneficia seu próximo e a humanidade com os dons que tem.
Portanto, cada pessoa deve cuidar de seu espírito como seu mais precioso patrimônio. Advertiu Jesus para não amealharmos tesouros que as traças e a ferrugem consomem e os ladrões desenterram e roubam. Indicou-nos outro caminho. Com sutileza orientou-nos a juntar os tesouros que podemos levar conosco para os Céus – plano espiritual – e estes, por lógico, só podem ser os tesouros do espírito, que ninguém pode roubar-nos, nem a ferrugem pode desgastar.
Hora chegará que colheremos os frutos que semeamos. Esta é a melhor garantia contra a dor: semear bondade, cultivar virtudes e colher bênçãos.

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