sábado, setembro 22, 2007

Parasitose espiritual

“Quando Jesus voltou para casa, seus discípulos lhe perguntaram, em particular: Por que não pudemos nós expulsar esse demônio? _ Ele respondeu: Os demônios desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum.”
(S. Marcos, cap. IX, vv. 13 a 28)


A mente é um santuário, fonte de forças do ser humano. É o berço de nossas realizações e o túmulo onde jaz, em vida e post mortem, nossos desvios da Lei.
Em sua infância espiritual, o homem é negligente com as potências mentais, que estão diretamente associadas à conduta moral cotidiana.
Aproveitando-se desse desleixo capital, as legiões da sombra atacam, sem piedade, os incautos desidiosos.
Por isso, hoje é consenso entre os estudiosos da doutrina espírita, que estamos diante de uma verdadeira e grave pandemia de parasitose espiritual no que se convencionou chamar de processo obsessivo.
Trata-se, dessarte, de vinculação enfermiça e prejudicial que se dá entre um espírito e uma pessoa encarnada, embora possa ocorrer apenas entre encarnados e entre desencarnados, eventualmente.
Alan Kardec extraiu de seus estudos espíritas três tipos de obsessão: a obsessão simples; a subjugação ou possessão e a fascinação.
A obsessão simples é, de regra, um vínculo sazonal com o plano espiritual inferior, estabelecido, sobretudo, quando o ser humano atravessa fases especialmente difíceis, que baixam a guarda de sua cidadela moral e emocional, tornando-o vulnerável aos ataques obsessivos. Todos, por isso, podemos ser vítimas reincidentes deste tipo de obsessão.
A subjugação ou possessão já é um processo obsessivo bem mais nefasto, que pode ser ou não o agravamento da obsessão simples, não combatida a contento. Trata-se de verdadeira promiscuidade espiritual, onde espíritos doentes e trevosos se associam e interferem, contundentemente, na vida e saúde orgânica e psíquica de suas vítimas, para saciar, quase sempre, a sede de vingança e os mais vis instintos animais, que resvalam nos vícios, na queda moral, arrastando suas vítimas ao pântano do submundo humano. Nas variações múltiplas desse tipo de obsessão, destaca-se o vampirismo, onde espíritos gravemente doentes e desequilibrados se acoplam no perispírito do obsidiado para deles se nutrir de forças vitais e aplacar seus vícios mais brutos, em pleno prejuízo da saúde física, emocional e psíquica do hospedeiro, que – se não cuidar da causa espiritual – será, inevitavelmente, tomado das mais complexas enfermidades até somatizar a falência física e a perda da sanidade mental, ao preço de muito sofrimento.
Foi essa escória espiritual das trevas que enfrentou, com desassombro, os discípulos do Cristo. Por isso Jesus explicou: “(...) os demônios desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum.”
A fascinação, de sua vez, é a mais difícil de tratar e a menos perceptível, porque os espíritos da retaguarda obsessiva são maliciosos, velhacos, ladinos. Trata-se de obsessão que ilude o hospedeiro, fazendo-o acreditar, piamente, ser dotado de maior inteligência, autoridade moral, direitos e capacidade que os outros. Conduz-lhe à egolatria, à prepotência, à intolerância, ao preconceito, a opressões de todos os matizes, deixando rastro de humilhados, oprimidos e injustiçados. Neste caso, a estratégia do espírito parasita é excitar o orgulho e o egoísmo, já existentes no hospedeiro, causas primeiras deste tipo funesto de obsessão, que tem como maior característica a negação da vítima de que está obsidiado e a justificação estapafúrdia para seus atos.
O orgulho e a vaidade são as portas largas que dão entrada aos mais astutos inimigos invisíveis.