terça-feira, dezembro 25, 2007

CENAS DO NATAL

"Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais; porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham. Eu vos digo em verdade, todo aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará."(Marcos, cap. X, 13-16)


Gosto de ver o Natal por cenas.
Algumas sempre lembro nesta época.
Intelectuais atacando a caridade e fazendo marketing de responsabilidade social.
Materialistas se esforçando para demonstrar um certo desprezo pelo nascimento de Jesus.
Consumidores correndo com sacolas e impaciência.
Comerciantes reclamando dos lucros.
Empregados, sugados, reclamando dos comerciantes.
Motoristas endiabrados.
Bêbados comemorando não sabem bem o que.
Programas festivos na TV.
Religiosos criticando o consumismo e o Papai Noel.
Papai Noel dando duro para ganhar um trocadinho extra com horas desgastantes de reiterados abraços e ho, ho, ho, sempre de sorriso no rosto suado, mesmo quando as crianças fazem o teste da barba com seus puxões.
Crianças ansiosas pela noite de Natal.
Tudo isso se repete sempre, ano após ano.
Neste que se vai, uma cena marcou, mais do que as outras.
A voz embargada e o olhar marejado de um velho amigo de bons combates.
Voluntário dedicado, vivido, com muitas e diversas experiências na bagagem.
Na visita a um hospital público, o guerreiro não conseguiu disfarçar a emoção.
Falastrão, gozador, extrovertido, ficou calado, absorto e consumido pela emoção que proporcionava às crianças e da qual se viu dominado.
A singela festa foi em homenagem ao Cristo e ele foi o assunto das prédicas e orações.
Mas não dispensamos o Papai Noel, pelo seu simbolismo às crianças.
Até o meio da tarde não tínhamos conseguido a roupa do bom velhinho.
Conseguimos, a muito custo, uma que tinha sido usada o dia todo.
Estava suada, fedida, desconfortavelmente quente.
O amigo não titubeou, meteu-se nela e por trás da barba adaptada não deixou de estampar um sorriso meigo.
As crianças internadas no hospital fizeram fila para abraçá-lo.
Algumas tiveram de ser amparadas por seus pais, outras caminhavam segurando suas sondas, muitas – vítimas de escalpelamento - tinham a cabeça enfaixada, o rosto muito machucado, mas todas exibiam um sorriso puro, pleno, que já não se vê em muitas crianças saudáveis, cheias de brinquedos e mimos.
Encontramos um lugar triste, deixamos felicidade.
Noite feliz, como exige a tradição.
Valeu amigo.
Isso sim é Natal.