sexta-feira, dezembro 26, 2008

A VELA E A ESCURIDÃO.

“Não há ninguém que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso ou a coloque sob uma cama; mas a põe sobre o candeeiro, a fim de que aqueles que entrem vejam a luz (...);”
(São Lucas, cap. VIII, v. 16, 17)




Basta ligarmos a TV e logo um show de horrores começa a desfilar diante de nossos olhos: assassinatos, pedofilia, corrupção, poluição, tráfico humano, genocídio, ataques terroristas.
Quando chega o Natal sentimos um clima de fraternidade.
Mas nada que acabe com a sensação de mal-estar espiritual de nossos dias.
Afinal, o mal está vencendo? Onde estão os trabalhadores do bem? Nosso futuro é de luz ou de escuridão?
Carlos Ferrolho, homem de meia idade, parcos recursos financeiros, deficiente físico. Cuida praticamente só de dezenas de crianças em creche no PAAR. Elas o adoram e o respeitam como pai. Todo ano promove o Natal solidário para outras centenas de crianças de Ananindeua.
Cícero, idade avançada, corpo frágil, multi-safenado. Um dos voluntários mais antigos do Centro de Valorização da Vida - CVV, que trabalha com a prevenção ao suicídio. Com milhares de horas de paciente escuta, ajudou a salvar a vida de milhares de pessoas que ligam todos os dias para o CVV.
Mary, esteticista, perdeu os dois filhos e ganhou uma fibra incomum. Uma das mulheres mais vigorosas que conheço. Silenciosa e anonimamente levou, por anos, médicas, dentistas, educação, roupas e cestas para dezenas de famílias de catadores de lixo do Aurá, em Ananindeua. Contava apenas com a amizade e confiança de amigas fiéis. Hoje ajuda uma creche com dezenas de crianças. Todo o ano, na época do Natal, enche um barco de brinquedos, lança-se a navegar quilômetros de distância de sua casa, para espalhar alegria a crianças ribeirinhas do estreito de Breves, no Marajó.
Drª Lindalva, médica psiquiatra do Hospital de Clínicas do Estado do Pará. Sua dedicação com seus pacientes – cujo nome de todos conhece -transcende seu dever profissional. Carinhosa, carismática e competente, promove a dignidade e a inclusão social de doentes mentais como nenhum outro médico arrisca-se a fazer, muitas vezes comprometendo recursos pessoais. É a Patch Adams paraense. Por tudo que faz consegue – entre profissionais de saúde e familiares - uma proeza numa área tão espinhosa: a unanimidade. Todo ano na época do Natal promove uma linda festa para seus pacientes e familiares, um raro momento onde suas mentes sentem paz, equilíbrio e alegria.
Luiz Veiga, ex-empresário, ex-viciado em drogas, atual coordenador do Grupo de Recuperação de Drogaditos Nova Vida. Mais do que buscar sua própria cura, resolveu dedicar sua vida para salvar outras vidas que se perdiam no álcool e nas drogas. Já tirou vários do vício. Todo ano, na época do Natal, faz de seus internos voluntários no Pronto Socorro.
Reginaldo Soares, consultor, pai de 5 filhos. É o homem que não sabe dizer não. Pode ser Papai Noel, palhaço, garçom, mestre de cerimônia, motorista, educador, fotógrafo, negociador, palestrante e o que mais o valha. Tem apenas uma preocupação sincera: ser útil. Todo ano na época do Natal, multiplica-se para cobrir uma vasta agenda social de solidariedade.
João, soropositivo, militante da luta contra AIDS. Desde que se descobriu com AIDS resolveu dedicar sua vida para espalhar informação com sua emocionante história de vida. Palestrou e treinou milhares de pessoas em todo Estado. Lutou pela dignidade do tratamento dos doentes. Desencarnou com a consciência tranqüila de dever cumprido, por ter salvado muitas vidas.
Márcio Américo, idealista, fundou a ONG Sociedade Alternativa. Levou dignidade, orientação e esporte para centenas de crianças e adolescentes filhos de catadores de lixo do lixão do Aurá. Partiu de nosso convívio para melhorar o céu.
O que estas pessoas têm em comum?
Não, não é a santidade, nem a perfeição.
Também não é a religião ou o time de futebol.
Tampouco é a vida fácil, sem decepções e grandes dificuldades.
Não adianta olhar pro céu em busca de um deles, pois nenhum deles tem poderes especiais. Não voam, não ficam invisíveis, não soltam raios, nem têm musculatura avantajada ou um carro todo equipado como o do Batman.
São pessoas comuns, cheias de defeitos e fragilidades. Talvez você, amigo leitor, não conheça nenhum dos citados. Quiçá tenha cruzado com algum deles pelo supermercado, no trânsito, no cinema ou tenha ficado ao seu lado em uma fila.
Todos eles sofrem como você e como você não têm tempo vago, sentem-se cansados e muitas vezes a desmotivação os visita. Gostam de descanso, de momentos livres, de boas companhias.
Mas eles sabem que têm uma missão.
Sabem que são velas na escuridão.
Cada um deles é um elo na corrente do bem.
Juntos formam um farol de luz que alimenta a esperança de milhares de pessoas e de um mundo melhor.
Como eles há milhares espalhados pelo mundo e milhões que ainda não despertaram para a luz que trazem consigo para combater a escuridão.
É Natal. A data magna onde o mundo comemora a chegada da luz do mundo: Jesus.
Tem um provérbio chinês que resume, como nenhum outro, a esperança que se renova em cada Natal e na virada do ano:

“É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão.”

Nos últimos dias que antecedem a chegada de um novo ano é tradição listarmos nossos projetos para o ano que se inicia.
Que tal você listar: ser vela.

domingo, novembro 30, 2008

RENASCIMENTO: QUEM É O BEBÊ?

“Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
(João 3:3-7)

A visão materialista de mundo entende que a vida é um acidente, resultado de uma combinação caótica, aleatória e sem sentido de genes egoístas, como tanto defende o cientista ateu e fundamentalista Richard Dakins. Crer-se que a morte é o fim, do corpo e da vida.
Outra é a visão das religiões, embora com variantes. A vida é o resultado de uma ordem superior e inteligente que organiza a matéria, preordenando-a para um sentido maior que é servir de instrumento para realizações do espírito. A morte é apenas uma transição entre a vida na matéria e a vida fora da matéria.
Obviamente, muda-se a percepção das conseqüências do nascimento de um filho conforme se muda a visão de mundo.
O materialista, por lógico, restringirá a educação do seu filho ao intervalo que vai do berço ao túmulo, destacando as prioridades materiais e valores mundanos. Caso creia na teoria da tabula rasa – aceita em vários setores da ciência -, acreditará que a personalidade de seu filho é como uma folha de papel em branco e, por isso, bastará a educação e o ambiente para formar-lhe o caráter. Caso creia na teoria do determinismo genético, torcerá para que seu filho tenha herdado, na loteria do acaso, bons genes, pois os defensores dessa ignóbil teoria acreditam que os genes determinam tudo: personalidade, caráter, felicidade e a decisão entre comprar uma bicicleta ou jogar um avião em um prédio.
Bem diferente é a visão das religiões e, em particular, do Espiritismo. O berço e o túmulo não são os marcos definitivos, mas etapas. O espírito não foi criado na concepção. É antes eterno.
Antes do conúbio carnal consumar-se, o espírito reencarnante já tem consciência da proximidade de sua reentrada na matéria. A volta em uma família de amigos é um alento, um alívio ao fato de ter de voltar a um mundo material ainda conturbado pelo mal. Noutro vértice, o retorno entre espíritos desconhecidos ou inimigos de outras existências, é, por si só, motivo de inquietações. A depender da evolução do espírito reencarnante, este participa, mais ou menos, nas múltiplas escolhas que circunstanciam sua volta à matéria. Quando, finalmente, há a concepção, liga-se o cordão de prata entre o óvulo fecundado e o espírito ainda no plano espiritual. E as duas dimensões da vida estreitam-se. Progressivamente o corpo inicia a vertiginosa aceleração de sua formação na inversa proporção que o modelo organizador biológico - ou perispírito – regride para apertar o espírito na cápsula carnal e para comandar a composição genética do organismo em formação, demonstrando a incrível sabedoria que preside o universo. Aí o elo perdido da evolução darwinista: o perispírito molda a herança genética que determinará nosso corpo e alguns aspectos de nossa vida comportamental. Nada de gene egoísta, absolutamente nada de acaso. A ordem preside cada detalhe de nossa jornada. Na medida em que o processo avança, a matéria vai aprisionando o espírito reencarnante, e o registro das várias experiências de outras vidas vão submergindo para os múltiplos níveis de consciência e do inconsciente que a Psicologia Transpessoal já reconhece e estuda. Ao final da gestação, o espírito infantilizou-se para reiniciar nova etapa de vivências e aprendizagens, trazendo no íntimo de sua mente todos seus potenciais e tendências. A aparência frágil e desprotegida, as feições dóceis, o olhar meigo, o aspecto angelical são artifícios da natureza para desabrochar o instinto de proteção, para eclodir nos pais o amor incondicional a seus rebentos.
O consagrado escritor Ernest Hemingway retrata com vigor o impacto que a infância nos causa:
De todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?
Mas, por trás dessa aparência cativante há um espírito que já traz consigo uma ampla bagagem de experiências. Tão logo avance nos primeiros anos, sua personalidade vai dar indícios de suas tendências e de seu caráter, não raro revelando o conhecimento e experiências de outras vidas.
Dante Alighieri, com nove anos, compôs um soneto a Beatriz. John Stuart Mill aprendeu o complicado alfabeto grego aos três anos de idade. Wolfgang Amadeus Mozart aos dois anos de idade, já executava diversas peças para piano e aos três dominava os idiomas alemão, francês e o latim, bem como tirava sons sublimes do violino aos quatro. Bastaram 12 anos para escrever La finta semplice - sua primeira ópera. Pascal, também aos doze anos, sem educação e sem orientadores, demonstrou trinta e duas proposições de geometria, do I Livro de Euclides. Goethe sabia escrever em diversas línguas antes da idade de dez anos.
Kardec trouxe a lume detalhes da genialidade, quando perguntou aos Benfeitores da espiritualidade a explicação sobre o fenômeno. A resposta foi direta: "lembranças do passado; progresso anterior da alma (...)".
Convém então perguntar: quem é este que dorme no berço o sono dos justos?
Um espírito amigo ou um desafeto que veio para tentar uma reconciliação?
Às vezes só se descobre esta resposta na adolescência ou na fase adulta. Mas nem sempre se reconhece um espírito amigo, tampouco um gênio. Quando eclodem as diferenças, as antipatias, as brigas e separações, vem a pergunta: _ O que foi que eu fiz? _ Onde errei? A ignorância sobre outras vidas não permite uma análise precisa do problema. Noutras vezes, o choque começa cedo. Vale citar emblemático exemplo colhido da obra Disciplina: Limite na medida certa. Novos Paradigmas, de Içami Tiba:
“Recentemente, numa palestra, uma mãe fez a seguinte colocação: “Não sei mais o que fazer com minha filha. Ela só faz o que quer, não me obedece, me enfrenta, me ofende, me agride, não tem um pingo de educação comigo...” Perguntei qual a idade da filha. Ela prontamente me respondeu: “Dois anos”.
Isso nos faz relembrar a clássica frase de Pitágoras: "Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos."
Certo, sobre o tema, é que a criança é um anjinho. Não porque seja um ser sem experiências, mas porque a infância é benção do recomeço, é o templo da reconstrução do ser. É na infância que se pode mais influenciar o futuro do adulto e, por conseqüência, a utilidade da existência. Cabe aos pais, a dedicação do amor. Ele – o amor – é capaz de reforçar laços de milenares amizades, como também é capaz de transformar inimigos em irmãos e a humanidade em uma grande família.
Filho é - por tudo isso - o selo da esperança divina.



segunda-feira, setembro 29, 2008

AUTÔMATOS OU MUTANTES?

“Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, respondeu-lhes Jesus: “O Reino de Deus não vem de modo a ser observado. Não se poderá dizer: Ei-lo aqui! Ou Lá está!, porque o Reino de Deus está dentro de vós.”
(Lucas 17:20-21)



Entre as principais teorias que tentam explicar nossa natureza, duas se destacam: a da tábua rasa e a do determinismo genético. A primeira, ainda muito aceita nos meios acadêmicos, entende que nascemos como uma folha de papel em branco, nem maus, nem bons e que é o meio onde crescemos e vivemos, principalmente, que determinará quem seremos, seja pelas influências, seja pela educação. Já a teoria do determinismo genético, novo frenesi científico (para mim lixo cultural materialista), defende que nascemos como uma folha toda preenchida, no caso, pela carga genética que herdamos de nossos ascendentes, pais, avós, etc. Defendem que é a carga genética que define não apenas nossas doenças, mas também nossa personalidade, caráter e até mesmo nosso grau de felicidade.
Ambas padecem do mesmo erro: extremismo.
Nem uma, nem outra. O meio ambiente tal como os genes influenciam no que somos – isto é certo -, mas sem determinismos que soam um tanto quanto infantis, pois desprezam o livre arbítrio e todas as múltiplas conseqüências resultantes da liberdade de escolha.
Em verdade, somos obras de nós mesmos.
Não existe, também, o carma da infelicidade. Existe, isto sim, alguns acontecimentos difíceis programados para nossa vida. Como reagimos a eles é outra coisa, fica na dimensão íntima do livre arbítrio. A uns a queda faz chorar, a outros dá azo a boas gargalhadas.
Este aspecto é extremamente importante e reflete-se na essência do que estamos fazendo de nós mesmos. Não somos folhas em branco porque trazemos experiências e tendências de outras vidas. Também não somos meros resultados de combinações genéticas aleatórias. Somos causa e efeito contínuos. Se é assim, nossa personalidade não é imutável, mas, pelo contrário, essencialmente mutável, porque sujeita a contínuas experiências e aprendizados. Logo, é totalmente sem sentido a ultrapassada fala: nasci assim, sou assim e pronto. O que chamamos de personalidade é apenas a capa superficial de nossa identidade, bem mais complexa e profunda, bem maior que o ego que nos faz tão apegados a idéias, opiniões, comportamentos e sentimentos.
Quer isso dizer que muitos aspectos negativos de nossa personalidade podem ser modificados. Ninguém está condenado a ser o que é se gostaria de ser diferente. É verdade que toda mudança dá medo, exige esforços, renúncias, persistência e paciência, mas o fato principal é sabermos que detemos o livre arbítrio para decidirmos sobre que obra queremos fazer de nós mesmos.
Eis o inferno ou o Reino dos Céus de cada um ou no dizer do artista: “cada um sabe a dor ou a alegria de ser o que é.”
Muitas pessoas insistem em comportamentos por se crerem condenadas a serem como são. Crentes de que não podem mudar sua essência, entregam-se a comportamentos que reconhecem negativos, mas aos quais alegam não terem força de lutar. É para elas que dedico estas palavras.
Todos nós mudamos a cada instante, mesmo sem percebermos. Como já ensinara a filosofia grega: ninguém pisa duas vezes no mesmo rio. As macro-mudanças são mais difíceis, mas são possíveis, não raro necessárias.
Façamos mudanças naturais, como amadurecimento e não como projeto de santificação instantânea. Aliás, vale a lição de Santo Agostinho: “Dai-me a castidade e a virtude, mas não já.”
Não mudar por ignorância de que se pode mudar é uma coisa. Outra totalmente diferente é não mudar por teimosia, negligência ou por gostar de permanecer no erro, o que, aliás, é muito comum. Isso é livre arbítrio, é uma escolha consciente que naturalmente dará causa a efeitos. Quando os efeitos chegarem – e eles chegarão – não custa lembrar que nunca é tarde para mudar e, mais do que isso, esse é um direito que nunca se perde, mas perde muito quem dele não faz logo uso.
Engraçado que muitos adiam mudanças necessárias sob o estandarte da liberdade, como que para provarem que são livres para serem como quiserem. A esta falsa justificativa e perigosa ilusão, convém a suave lição do maior dos poetas indianos Rabindranath Tagore:
“É tão fácil esmagar, em nome da liberdade exterior, a liberdade interior”.
Haverá omissão mais grave do que aquela que viola a própria essência de nós mesmos? Fiquemos com a agradável companhia de Padre Antônio Vieira para refletirmos sobre sua ponderação:
“Sabei Cristãos, sabei Príncipes, sabei Ministros, que se vós há de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixaste de fazer. Pelo que fizeram, se hão condenados muitos, pelo que não fizeram, todos.”



domingo, agosto 31, 2008

CAUSALIDADE: VIDA EM CONSTRUÇÃO

“A sua existência na Terra é um livro que estás escrevendo.” (Emmanuel, por Chico Xavier)




Nada está isolado.
Estamos mergulhados em um oceano de vibrações que se agitam sob o comando de nossos pensamentos e emoções. Mais que isso. Cada um de nós está atado a todos. O outro é nossa contra-face, é o espelho que faz refletir os efeitos que direcionamos a ele. Isso vale para o bem e para o mal.
Todas as grandes tradições espirituais revelam, por trás de seus dogmas e rituais, a verdadeira identidade do universo: retributividade, que encontra na singela fala do Mestre Jesus sua explicação exata: “a cada um segundo suas obras”, ou ,noutro dizer,”a semeadura é livre, mas e colheita é obrigatória”.
Intérpretes desavisados viram nestas passagens a certeza que Deus fica nos julgando o tempo todo. É preciso crer, para ser assim, que o universo não tem leis estáveis, mas contínuos juízes divinos, cheios de subjetividade e, por isso, passíveis de injustiça, conforme se mude a perspectiva de análise dos fatos.
O universo é regido por leis imutáveis e justas, porque são de origem divina, pura. Dentre tais leis, está a lei de causa e efeito que explica o mecanismo de retributividade que programa, dá movimento, intensidade e direção aos efeitos provocados por nossos pensamentos, emoções, ações e omissões. Eis o fluxo de causalidade que nos liga ao passado e forja, a cada instante, o futuro.
Quer isso dizer que a todo momento estamos recebendo como eco do passado os efeitos de atos praticados- nesta ou noutra encarnação-, bem como estamos a cada instante, desenhando nosso futuro com o nosso comportamento atual.Ou seja, somos reflexos de ontem e projetos do amanhã. Nossos atos ecoam na eternidade, semeando felicidade onde o bem planta luz ou plantando sofrimento onde o mal semeia trevas. Em suma: não existe causalidade cega ou, noutra dicção, o acaso não existe. O sempre brilhante Léon Denis[1] ensina:

“Cada um desses atos, cada uma das volições do nosso pensamento, segundo a força que os impulsiona, executa sua evolução e volta com os seus efeitos, bons ou maus, para a fonte que os produziu. O mal, do mesmo modo que o bem, torna ao seu ponto de partida em razão da afinidade de sua substância.”

Inconscientes do funcionamento do universo, hesitamos perturbados e confusos quando ruge a tempestade, viciados na equivocada cultura de se preocupar com os efeitos, sem estudar suas causas.
Pragmaticamente. Espiritualizar-se é não gerar causas negativas e, simultaneamente, semear luz. Por isso, o Rabi sempre advertia os que se beneficiavam com suas curas: ”não voltes a pecar (gerar causas negativas), para que algo pior não te aconteça”.

A respeito da causalidade, o Dalai-Lama[2] ensina com simplicidade:

“No budismo, o princípio da causalidade é aceito como uma lei natural. Ao lidar com a realidade, é preciso levar essa lei em consideração. Por exemplo, no caso de experiências do dia-a-dia, se houver certos tipos de acontecimentos que a pessoa não deseje, o melhor método de garantir que tais acontecimentos não ocorram consiste em certificar-se de que não mais se dêem as condições causais que normalmente propiciam aquele acontecimento. De modo análogo, caso se deseje que ocorra um acontecimento ou experiência específica, a atitude lógica a tomar consiste em procurar e acumular as causas e condições que dêem ensejo a ele.
O mesmo vale para experiências e estados mentais. Quem deseja a felicidade deveria procurar as causas que a propiciam; e se não desejamos o sofrimento, o que deveríamos fazer é nos certificarmos de que as causas e condições que lhe dariam ensejo não mais se manifestem. É muito importante uma apreciação desse princípio causal.”

Ou seja, de nada adianta querer fugir da dor e do sofrimento se não eliminarmos as causas. Descobri-las e combatê-las é indispensável. Não apenas isso, temos de semear luz e felicidade. Eis a mensagem de esperança ensinada pelo Cristo: “_ Ajuda-te e o céu te ajudará.”



[1] DENIS, Léon. Depois da Morte. Editora FEB. 22ª Edição, pg. 238.
[2] LAMA, Dalai. A Arte da Felicidade, editora Martins Fonte, 2000, pg. 43.

quinta-feira, julho 31, 2008

TRADUÇÃO DE UMA TRAGÉDIA



“Crede-me, a morte é preferível, para encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias honradas, partem o coração de uma mãe, e fazem, antes do tempo, branquear os cabelos do pai. A morte prematura, freqüentemente, é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai, e que se encontra assim, preservado das misérias da vida, ou das seduções que teriam podido arrastá-lo à sua perdição. Aquele que morre na flor da idade, não é vítima da fatalidade, mas Deus julga que lhe é útil não permanecer por mais tempo na Terra.”
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V. item 21. Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras. Pg. 86)



No primeiro artigo de 2008, publicado neste blog com o título de Muita Paz, tratei com pesar do morticínio que ocorre nas estradas do Brasil. No último domingo a sociedade paraense foi abalada pelas trágicas mortes de 8 pessoas em um acidente de carro, na rodovia de acesso ao litoral do nordeste do Pará. A mídia estampou a chocante interrupção da vida de 5 jovens que viajavam em um dos carros envolvidos no acidente e que foi consumido pelo fogo, impedindo o pronto reconhecimento das vítimas.
As imagens de belas jovens, saudáveis, sorridentes e cheias de vida não parecia poder se encaixar nas cenas horrendas dos destroços do acidente. Como podem acontecer mortes tão brutais? Qual o motivo? Qual o sentido? Por quê?
Choque, desespero, revolta e vazio. Muitos familiares e amigos em luto percorrerão este espinhoso caminho – entre questionamentos e profunda tristeza – incapazes de reagir a perdas tão dolorosas. Será que sentiram dores? Será que pressentiram o fim? Será que estão vivas em outra dimensão da vida? O que sentem? Este artigo, sem pretensão de esgotar o assunto, oferta alguns esclarecimentos que podem ser úteis para elucidar este drama.
Preliminarmente importa ressaltar que a morte não é o fim. É antes um recomeço noutra dimensão da vida. Tragédias como esta trazem as características de um carma coletivo. Espíritos já conhecidos de outras encarnações se reencontram para em determinado momento da vida partilharem uma morte conjunta, resgatando dívidas do passado, contraídas em parceria ou em circunstâncias similares. Dependendo da evolução dos espíritos envolvidos, alguns podem pressentir[1] a chegada do momento de resgate, às vezes através de sonhos, pensamentos, registros ou mal-estar físico.
O que aparenta ser uma estúpida tragédia, sob o ponto de vista material, não raro representa uma benção da misericórdia divina que permite que um único fato resgate graves erros do passado e liberte esses espíritos de futuras reencarnações de incomensuráveis sofrimentos. É, pois, ao mesmo tempo expiação e prova para amigos e familiares que têm de suportar com resignação a pungente dor da perda de jovens queridas e amadas. Não raro, tais tragédias têm ainda por finalidade gerar reflexões na sociedade. Não – obviamente – a dos hedonistas e materialistas de plantão que logo proclamam: por isso que devemos aproveitar intensamente os prazeres da vida. Falo de reflexões maduras e profundas sobre o sentido da vida e sobre o que estamos fazendo dela, pois a qualquer momento chega a convocação de retorno à pátria espiritual, onde prestamos conta de nossos atos e obras.
É verdade que as mortes violentas trazem dificuldades ao espírito desencarnante, que se vê, abruptamente, retirado da vida material. Por lógico, que mortes naturais são bem mais tranqüilas. Contudo, ao contrário do que se pensa, geralmente não há dor em mortes como as que ocorreram, pois se tratam de mortes instantâneas provocadas por imediata parada cardio-respiratória. Os registros de experiências de quase morte – EQM, que pululam nos hospitais do mundo todo, atestam que a separação do espírito do corpo físico, de regra, é sem sofrimento. Muito ao contrário, trata-se de uma libertação que logo enche o espírito de paz e de desejo de não retornar ao mundo material. Por isso, o insigne Léon Denis ensina em sua lapidar obra Depois da Morte, pg. 247:

“O homem mundano chora e lamenta-se à beira dos túmulos, essas portas abertas sobre o infinito. Se estivesse familiarizado com as leis divinas, era sobre os berços que deveria gemer. O vagido do recém-nascido não será um lamento do Espírito, diante das tristes perspectivas da vida?

Não é demais lembrar que vários desses registros de EQM são provenientes de pessoas que sofreram graves acidentes automobilísticos, são tidas como mortas e, às vezes inexplicavelmente, retornam para contar o que vivenciaram a quando da separação temporária de seus corpos.
Convém esclarecer, também, que o consumo de seus corpos pelo fogo traz mais sofrimento emocional ao espírito – sobretudo se há apego à matéria – do que dor, pois o momento da morte é fatal, logo, a ligação do espírito com aquele corpo estava fadada a romper-se naquele momento existencial e não falta, para este momento tão relevante, a assistência da espiritualidade amiga, sempre a postos a socorrer os espíritos em regresso à vida maior. Diferente é a situação do suicida que, antecipando o momento da morte, fica preso ao corpo físico em decomposição pelos fluídos vitais que lhe davam a vitalidade interrompida antes da hora. Este sim sofre dores.
Em verdade, o período de perturbação – momento de transição que se segue após o desencarne de qualquer pessoa – varia muito, conforme a evolução do espírito e as circunstâncias do desenlace. Mas se pode afirmar que, de regra, o principal sofrimento do espírito é de ordem moral e emocional, pela falta de preparo para regressar a vida espiritual e para se separar dos entes queridos, das afeições, da vida que se tinha, dos sonhos e projetos deixados para trás, agora relembrados pelos que ficam entre choros e lamentações, que só perturbam a natural recuperação do espírito. O assunto é tratado na questão 936, do Livro dos Espíritos e merece reflexão:

“Questão 936. Como é que as dores inconsoláveis dos que sobrevivem se refletem nos Espíritos que as causam?

O Espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva, ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes.”

Por tudo isso, Chico Xavier outrora e hoje tantos outros médiuns recebem mensagens do plano espiritual de filhos que imploram a seus pais e amigos que não se revoltem, que não lamentem e que, ao contrário, bendigam à Deus pela quitação de dívidas espirituais, pois o desequilíbrio e a falta de resignação dos que ficam perturbam os espíritos na vida maior, tal como perturbaria o filho que viajasse para outro país e soubesse que sua família está profundamente infeliz e em crise. Pedem eles, ainda, que transformem essas dores em caridade. Que façam o bem e ofertem essas obras de caridade em favor daqueles que partiram.
O Espiritismo vem cumprindo sua sublime missão de esclarecimento da humanidade sobre as verdades espirituais. Dúvidas sobre a sobrevivência do espírito e sobre sua situação no além-túmulo só tem quem quer. Muitas mães já se beneficiam hoje das revelações sobre o mundo espiritual para aliviar a dor da separação de seus filhos. Sobre o assunto, recomendo a leitura do livro Enxungando Lágrimas, com várias mensagens psicografadas por Chico Xavier, do livro Por Trás do Véu de Isis, do jornalista Marcel Souto Maior, que faz uma investigação sobre mediunidade e que trata em boa parte do livro sobre as caravanas de mães que partem para vários centros espíritas no Brasil em busca de um contato com seus filhos já desencarnados. Recomendo, também, leitura de livros de Sônia Rinaldi, pesquisadora de Transcomunicação Instrumental – TCI, onde a mesma relata como mães que perderam seus filhos fundaram grupos para obter contatos com o mundo espiritual pela via eletrônica. Por fim, recomendo que todos orem por essas jovens e que os familiares se resignem e escutem o chamado do Cristo: vinde a mim vós que sofreis.

___________

[1] Em 21 de outubro de 1966 em Aberfan, no País de Gales, um desmoronamento de um grande depósito de carvão que se acumulara no cume de uma colina soterrou parte de uma vila de mineiros. A tragédia vitimou 134 pessoas, das quais 118 eram crianças de uma escola primária. O psiquiatra J. C. Barker – consternado com o infortúnio - coletou dados sobre pessoas que tiveram experiências premonitórias, em sonho ou vigília, que pressentiram a catástrofe de Aberfan. Inicialmente obteve 76 relatos, dos quais descartou 16 por relevantes inconsistências ou incontornáveis dificuldades de investigação. Restaram 60 relatos confiáveis, que anteciparam a tragédia, não raro seguidos de mal-estar físico.

quinta-feira, junho 05, 2008

O FUTURO DA VIDA

“Isto sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
Como o sangue que une uma família...
Tudo o que acontece com a Terra,
Acontece com os filhos e filhas da Terra.
O homem não tece a teia da vida;
ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
ele faz a si mesmo.”

(Ted Perry, aproveitando a tradição ensinada pelo Chefe indígena Seattle).






O blog Visão Espírita foi criado no dia 5 de junho de 2006. Neste dia comemora-se em todo planeta o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em dois anos de existência, nunca postei um artigo específico sobre meio ambiente. Optei por ofertar esclarecimentos que colaborassem – sem maiores pretensões – com a espiritualização de cada leitor, o que, por tabela, também é decisivo para pautar nossa atitude ética para com a natureza. De certa forma, evitei falar por impulso, contaminado pela tristeza de presenciar o que estamos fazendo com nossa acolhedora Terra.
O momento é de reflexão e este é meu presente no segundo aniversário do blog.
Nos últimos 25 anos, dentre as 21 temperaturas mais altas registradas, 20 delas estão neste período. O ano de 2005 foi o ano mais quente já registrado e o de 2007 foi o ano mais quente em terra firme, sendo que a NASA o confirmou como o segundo ano mais quente no século. O período entre julho de 2005 e julho de 2006 foi um dos mais quentes da história dos EUA. 2006 foi o ano mais quente em 48 estados americanos, quando se bateu nada menos do que mais 2300 recordes de temperatura. Em 2003 a Europa sofreu uma surpreendente onda de calor que matou entre 30 e 35 mil pessoas, sobretudo pobres, crianças e idosos. Em 2007, ondas de calor fizeram dezenas de vítimas no Paquistão e na Romênia.
Só em 2007, a Europa teve o janeiro mais quente da história, sendo que na Holanda foi o mais quente desde 1706, quando começaram as medições. A França registrou o mês de abril mais quente em 60 anos. No Japão, quebrou-se o recorde que era de 1933, com pico de temperatura de 40,9 graus, vitimando mais de 30 pessoas. A China passou pela pior seca dos últimos 60 anos, afetando mais de 1,6 milhão de pessoas. Hong Kong celebrou, em fevereiro, o ano novo lunar quebrando o recorde de temperatura que se mantinha desde 1885, quando foi instalado o seu observatório. A Alemanha teve o ano mais quente e seco desde 1901. Na Grécia a onda de calor é a mais hostil em 110 anos. A Itália registrou o inverno mais quente dos últimos 200 anos. Na Índia, onde os termômetros chegaram a 48,9 ºC, num único final de semana de junho morreram 74 pessoas. No mesmo final de semana, foram mais de 50 mortes no Paquistão, onde a temperatura alcançou 52 ºC.
Os efeitos se espalham. Em 2002, pela primeira vez na história, registrou-se a divisão da gigantesca Plataforma Ward Hunt, no Ártico. Na Groelândia o aquecimento global está derretendo o gelo da ilha e a soma já se configura no maior degelo dos últimos 50 anos. Em 2000, a Plataforma (geleira que avança para o mar) de Ross liberou icebergs gigantescos, equivalentes a duas cidades de São Paulo. Países localizados em ilhas do pacífico estão sendo engolidos pelo mar e várias cidades costeiras já estão sofrendo com a força da natureza.
Em 2004, dez tufões fizeram estragos no Japão e os tornados quebraram o recorde histórico nos EUA, seguido de novos recordes. Em 2005 – o ano mais quente da história -, o furacão Katrina arrasou a cidade norte americana de Nova Orleans, que submergiu matando 1.400 pessoas e causando prejuízos de cerca de 80 bilhões de dólares. Após a passagem do Katrina, seguiram-se o furacão Rita, o Stan, o Tammy, o Vince, o Wilma - maior furacão já registrado -, o Alpha, o Beta, o Delta, o Epsilon, o Gama e Zeta, num total de 27 furacões só em 2005. Destes, quase uma dezena eram das categorias 4 e 5 – as mais fortes – que se formaram naquela região do oceano Atlântico. No mesmo ano, pela primeira vez na história do Atlântico Sul, formou-se um furacão que levou destruição à Santa Catarina, no sul do Brasil. Em 2006, a Austrália sofreu com vários ciclones de categoria 5, com destaque para o Santa Mônica, poderosamente forte o bastante para entrar para história do litoral australiano, por seu épico poder destrutivo. Em 2006, o furacão Saomi provocou a evacuação de 1,5 milhão de pessoas na China. Em 2007, Bangladesh foi castigada pela pior tempestade em décadas. Em fevereiro de 2008 - antes da temporada de tornados que deveria iniciar em março – tempestades e vários tornados varreram e fustigaram diversos estados no sul dos EUA, causando 58 mortes, centenas de feridos e um rastro calamitoso de destruição. Para alguns especialistas, foi a pior seqüência de tornados em 50 anos. Em maio de 2008, o ciclone Nargis - considerado o mais forte em 30 anos - deixou mais de 133 mil mortos em Mianmar e mais de 2 milhões de desabrigados, além de um rastro inominável de destruição e sofrimento, agravado pela estúpida recusa do regime militar do país de aceitar ajuda internacional.
Na primeira quinzena de setembro de 2005, o metereologista Peter Webster publicou na prestigiada revista científica Science um artigo que, atualmente, é quase uma unanimidade, onde destacou que nas últimas três décadas a média anual de furacões no oceano Atlântico saltou de 5 para 7,8, cada vez mais intensos e destrutivos, e os com ventos acima de 200 quilômetros por hora, simplesmente dobrou.
Em janeiro de 2008 a Organização das Nações Unidas – ONU divulgou o resultado de um estudo que, entre os anos de 2000 e 2006, confirmou a previsão do IPCC: aumentou a freqüência de desastres naturais[1].
Mas isso é apenas um arranhão da crise ambiental.
Que falar do incontornável desmatamento da Amazônia que já consumiu cerca de 18% da floresta e afetou cerca de 47% do bioma? Que pensar sobre a duplicação das emissões de CO2 entre 2000 e 2005, sendo que ao final de um único dia, lançamos 70 milhões de poluentes na atmosfera? Qual a reflexão que se faz sobre a escassez de água na China que já maltrata 300 das suas 617 cidades? Que pensar sobre as 3.800 mortes diárias associadas à falta de água de qualidade, quando se sabe que cerca de 80% dos resíduos dos esgotos domésticos e 70% dos industriais são despejados, sem nenhum tratamento, em bacias hidrográficas ou na zona costeira, infiltrando-se, não raro, até águas subterrâneas? Que lição tirar das 784 espécies já extintas e dos 12% das espécies de aves, 20% das espécies de tubarões e raias, 23% das espécies de mamíferos, 25% das espécies de coníferas, 32% das de anfíbios, 51% das espécies de répteis e 52% das de insetos, todos ameaçados de extinção?
Será que perdemos nossa capacidade de refletir e de nos sensibilizar?
O Ex-Presidente da França, Jacques Chirac, foi categórico: “Já passou o momento de ações paliativas. Chegou a hora de uma revolução no verdadeiro sentido do termo: uma revolução das consciências, da economia e da ação pública. Aproxima-se o dia em que o desajuste climático fugirá totalmente do controle. Estamos no limiar do irreversível”.
David King, o mais respeitado consultor científico do governo britânico, discorda do Ex-Presidente da França, Jacques Chirac, e atualmente tem vaticinado: “Nós passamos o ponto de poder evitar a mudança climática perigosa. O que falamos agora é sobre evitar a mudança climática catastrófica”.
Por tudo isso, o biólogo australiano Tim Flannery afirmar que os seres humanos são “comedores-de-futuro”, o historiador e arqueólogo Ronald Wright nos chama de assassinos e o prestigiado biólogo Edward Wilson completa: “assassino em série da biosfera”. Lynn Margulis e Dorion Sagan sugerem que troquemos nosso nome científico de homo sapiens (o ser que sabe que sabe) para homo insapiens (o ser que não sabe, o ser grosseiro) e o respeitado teólogo Leonardo Boff, qualifica-nos como homo demens, biocidas, geocidas e finaliza: o ser humano pode ser o satã da Terra.
No excelente documentário A Hora Final, o chefe indígena adverte serenamente: _ O tempo está correndo contra nós.
É hora de refletir e despertar.
O homem ainda ignora a interdependência espiritual que une todas as coisas. O que faz à natureza, faz a si mesmo. O Evangelho de Tomé, descoberto em 1945, no cemitério de Nag Hammadi, no alto-Egito, revelou esta ligação invisível ao mundo numa das falas mais impressionantes de Jesus: “Eu sou a luz, que está acima de todos (...). Rachai a madeira – lá estou eu. Erguei a pedra – lá me achareis.”
É hora de mudar e agir.




[1] As inundações foram as catástrofes que mais cresceram em 2007, batendo a média de 172 ocorrências nos últimos 7 anos, com um pico de 206 inundações em 2007.

domingo, abril 27, 2008

ATAQUE ESPIRITUAL - ESTUDO DE CASO

“Então trouxeram-lhe um possesso cego e mudo. E ele o curou, expulsando o espírito que era mudo, de modo que, quando o espírito saiu, o cego e mudo passou a falar e a ver.”
(Matheus 12:22-30)



Há dez dias uma amiga procurou-me para relatar o seguinte problema. Seu sobrinho – um jovem de 20 anos - tinha passado a ter um comportamento estranho, repentinamente. Seguiram-se surtos de agressividade, agitação, insônia, vômitos sucessivos, interrupção da alimentação e incapacidade de reconhecer seus próprios familiares.
Algumas características indicavam um surto psicótico, segundo a visão da psiquiatria clássica. Identificada a patologia, de regra, segue-se a prescrição de psicotrópicos e, nos casos mais extremos, internação temporária.
Relatou-me a amiga que o jovem tinha sido examinado por um psiquiatra que imediatamente prescreveu-lhes os famosos remédios tarja preta. A situação piorou sensivelmente. O rapaz, que pouco comia, deixou de comer e ficou ainda mais estranho e agitado. Desesperada, a família recorreu à religião que abraça e não obteve sucesso. Por fim, recorreu a uma vizinha espírita, que lhe explicou a possibilidade de se tratar de um problema espiritual.
O jovem foi levado à União Espírita Paraense. Examinado, confirmou-se a presença de uma grave obsessão espiritual. Imediatamente foi levado à enfermaria, espaço próprio para tratar crises graves. Submetido ao ambiente espiritual propício, tendo sendo envolvido em orações e recebido transfusão de energias renovadoras através de passes, o rapaz já saiu da UEP ostensivamente melhor. Conseguia conversar, reconhecer os parentes e logo voltou a dormir e comer, tendo cessado as náuseas. Na frase da epígrafe, Jesus demonstra que enfermidades espirituais têm repercussão direta na mente e no corpo físico, pelo que afastada a obsessão, acaba-se a doença.
Recebeu as orientações sobre como tratar a enfermidade espiritual e foi-lhe ressaltado para manter o acompanhamento médico. Sua situação começou a melhorar até que resolveu ir a uma festa. Voltou bem pior. Expliquei-lhe que seu campo psico-espiritual está frágil, absolutamente vulnerável a ataques espirituais oportunistas, muito comuns em ambientes onde há excessos de toda ordem. Recomendei que ele não freqüentasse festas e aglomerações de um modo geral, bem como que mantivesse o acompanhamento semanal na UEP e passes diários até suas forças se reequilibrarem. Ressaltei que é preciso ter muita perseverança no tratamento, porque há obsessões longas, sofridas e de difícil libertação, mas lembrei, principalmente, que a melhor cura é a moral, que exige ocupação no bem. Caso ele melhore agora e volte a cometer os mesmos erros, desocupando sua mente e seu coração de bons pensamentos e sentimentos, tombará em recidiva violenta, não raro mais grave que a primeira crise, por vezes deixando graves seqüelas psico-emocionais e físicas. Vejamos o que ensina Jesus sobre o assunto:
“Quando o espírito impuro sai do homem, perambula por lugares áridos, procurando repouso, mas não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E voltando, encontra-a desocupada, varrida e arrumada.
Então vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e ali entram e habitam, e a condição posterior desse homem torna-se pior que a anterior. Assim acontecerá também a esta geração perversa.” (Matheus 12: 43-45, Lucas 11:24-26)

Você pode encontrar mais informações sobre o processo obsessivo e tratamento em artigos anteriores deste blog. Por hora, vale apenas noticiar que o jovem está se libertando do problema, sem precisar ser tratado como um doente psiquiátrico.

sábado, março 29, 2008

MAIS DO QUE PÓ

“Vós sois deuses”
(Jesus)


Jesus em muitos momentos estabeleceu revolucionárias rupturas nos conceitos vigentes à sua época. Dúvida não resiste, que dentre as principais, a afirmação do Mestre de que nós somos “deuses” impactou o imaginário coletivo, chocando-o, haja vista que os ouvidos que receberam a mensagem do Cristo eram, sobretudo, de judeus oprimidos por Roma, de pobres maltrapilhas, trabalhadores simples, de párias da sociedade, de enfermos moribundos e pessoas de “má vida”.
Como admitir, no exercício do absurdo, que aqueles que viviam à margem da sociedade eram deuses?
Poucos, além dos iniciados, compreenderam a profundidade e extensão da fala do Cristo. Ele se reportava aos potenciais do espírito humano. Ao que podemos ser e, a partir daí, do que podemos sentir e fazer. Espírito de escol, provindo de elevada região de luz, o Mestre se sensibilizava com nossa miséria espiritual, a verdadeira pobreza que sela os mendigos da alma, quase sempre embebidos pela ilusão da matéria e que tanto se comprazem nas pequenas e grandes maldades, nos tolos conflitos, nas covardes opressões, na vã vaidade, nos ciúmes, na inveja, nas rivalidades, nas traições e mentiras, entre tantas torpezas que ainda alimentam as almas apequenadas.
“Vós sois deuses” quer dizer que por debaixo das camadas trevosas de nosso egoísmo e orgulho há um infinito universo de luz a ser explorado, potenciais a serem desenvolvidos, capacidades a serem descobertas, talentos e dons a serem libertados, felicidade plena a ser vivenciada em Oasis de paz. Lamentavelmente, o formato das religiões tradicionais apenas acessa esse universo com limitadas lunetas e o materialismo se encarrega de sobrepor mais camadas de ilusão, embaçando nossa visão e retendo-nos nessa vida superficial e ilusória dos sentidos.
Toda vida é significado.
Viver sem o sentido sagrado é não viver, é desprezar a abençoada oportunidade de se tornar um ser divinizado. É, em última instância, restringir-se a pó, tal como ensina a mensagem[1] Em Plena Era Nova de Eurípedes Barsanulfo, in verbis:
“Há criaturas que deixaram, na Terra, como único rastro da vida robusta que usufruíram na carne, o mausoléu esquecido num canto ermo de cemitério.
Nenhuma lembrança útil.
Nenhuma reminiscência em bases de fraternidade.
Nenhum ato que lhes recorde atitudes como padrões de fé.
Nenhum exemplo edificante nos currículos da existência.
Nenhuma idéia que vencesse a barreira da mediocridade.
Nenhum gesto de amor que lhes granjeasse sobre o nome o orvalho da gratidão.
A terra conservou-lhes, à força, apenas o cadáver – retalho de matéria gasta que lhes vestira o espírito e que passa a ajudar, sem querer, no adubo às ervas bravas.
Usaram os empréstimos do Pai Magnânimo exclusivamente para si mesmos, olvidando estendê-los aos companheiros de evolução e ignorando que a verdadeira alegria não vive isolada numa só alma, pois que somente viceja com reciprocidade de vibrações entre vários grupos de seres amigos.
Espíritas, muitos de nós já vivemos assim!
Entretanto, agora, os tempos são outros e as responsabilidades surgem maiores.
O Espiritismo, a rasgar-nos nas mentes acanhadas e entorpecidas largos horizontes de ideal superior, nos impele para frente, rumo aos Cimos da Perfectibilidade.
A Humanidade ativa e necessitada, a construir seu porvir de triunfos, nos conclama ao trabalho.
O espírito é um monumento vivo de Deus – o Criador Amorável. Honremos a nossa origem divina, criando o bem como chuva de bênçãos ao longo de nossas próprias pegadas.
Irmãos, sede os vencedores da rotina escravizante.
Em cada dia renasce a luz de uma nova vida e com a morte somente morrem as ilusões.
O espírito deve ser conhecido por suas obras.
É necessário viver e servir.
É necessário viver, meus irmãos, e ser mais do que pó!”




[1] XAVIER, Chico. VIEIRA, Waldo. O Espírito da Verdade, Editora FEB, 15ª edição, Brasília, pg. 38,39.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

PROVAS VOLUNTÁRIAS

Estamos nos aproximando da Semana Santa. Uma das coisas que sempre me intrigou foi o sacrifício físico em oferta espiritual, como se isso equivalesse a um sacrifício espiritual. Uma das passagens do Evangelho Segundo o Espiritismo oferta um riquíssimo material para reflexão sobre o assunto, que de tão bem abordado, dispensa explicação. É um texto delicioso, que deve ser lido sem pressa, com a alma aberta, vejamos:

“Perguntais se é permitido abrandar as vossas provas; essa questão leva a esta: é permitido àquele que se afoga procurar se salvar? Àquele que tem um espinho cravado, de o retirar? Àquele que está doente, de chamar um médico? As provas têm por objetivo exercitar a inteligência, assim como a paciência e a resignação; um homem pode nascer numa posição penosa e difícil, precisamente para obrigá-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em suportar sem lamentação as conseqüências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar se não for bem sucedido, mas não num desleixo que seria preguiça mais que virtude.
Essa questão conduz naturalmente a uma outra. Uma vez que Jesus disse: “Bem-aventurados os aflitos”, há mérito em procurar as aflições, agravando as próprias provas por sofrimentos voluntários? A isso responderei muito claramente: sim, há um grande mérito quando os sofrimentos e as privações têm por objetivo o bem do próximo, porque é a caridade pelo sacrifício; não, quando não têm por objetivo senão a si mesmo, porque resulta do egoísmo por fanatismo.
Há aqui uma grande distinção a fazer; para vós, pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos envia, e não aumenteis sua carga, às vezes, tão pesada; aceitá-las sem lamentações e com fé, é tudo o que ele vos pede. Não enfraqueçais vosso corpo com privações inúteis e mortificações sem objetivo, porque tendes necessidade de todas as vossas forças para cumprir a vossa missão de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente e martirizar vosso corpo é contravenção à lei de Deus, que vos dá o meio de sustentá-lo e fortificá-lo; enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis: tal é a lei; o abuso das melhores coisas traz sua punição nas conseqüências inevitáveis.
Outra coisa é o sofrimento que se impõe para alívio do próximo. Se suportais o frio e a fome para aquecer e alimentar aquele que disso tem necessidade, e se o vosso corpo com isso sofre, eis o sacrifício que é abençoado por Deus. Vós que deixais vossos aposentos perfumados para ir à mansarda infecta levar consolação; vós que manchais vossas mãos delicadas cuidando de chagas; vós que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que não é senão vosso irmão em Deus; vós, enfim, que usais vossa saúde na prática de boas obras, eis o vosso cilício, verdadeiro cilício de benção, porque as alegrias do mundo não secaram vosso coração; não adormecestes no seio das volúpias destruidoras da fortuna, mas vos fizestes anjos consoladores dos pobres deserdados.
Mas vós, que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, qual a vossa utilidade na Terra? Onde está vossa coragem nas provas, uma vez que fugis da luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o sobre vossa alma e não sobre vosso corpo; mortificai vosso espírito e não vossa carne; fustigai vosso orgulho; recebeis as humilhações sem vos lamentar; pisai vosso amor-próprio; resisti contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente que a dor corporal. Eis o verdadeiro cilício, cujas feridas vos serão contadas, porque elas atestarão vossa coragem e vossa submissão à vontade de Deus.”

(Um Anjo Guardião, Paris, 1863 – O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V, item 26)

sexta-feira, janeiro 04, 2008

MUITA PAZ

“No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo."
(João 16:33)




Dia 1º de janeiro comemora-se no mundo o Dia Mundial da Paz.
Há motivos para comemorarmos?
Entre os espíritas é comum o desejo de muita paz, ao fim de cumprimentos e saudações.
Creio ser este o desejo mais urgente à humanidade em 2008.
O mundo está precisando, realmente, de muita paz.
Apenas nos últimos dias de 2007 e início de 2008, os fatos chocam.
No Natal foram 2.561 acidentes de carros, com 1870 vítimas fatais.
No réveillon, o morticínio nas estradas continuou. Seis pessoas foram atingidas por balas perdidas nas festas de passagem de ano em Copacabana, no Rio de Janeiro. Outras foram vítimas de assaltos e assassinadas. Só no Pará foram 12 mortes na virada do ano.
Em várias delegacias e penitenciárias do país, os presos ficaram agitados, houve início de motins e tentativas de fugas. Numa das delegacias, vários presos morreram queimados após atearem fogo em colchões.
O Irã comemorou o Dia Mundial da Paz enforcando 13 pessoas, entre elas uma mãe de família. Só em 2007 foram executadas 297 pessoas.
Na França cerca de mil carros foram queimados em várias cidades.
No Paquistão, a ex-primeira Ministra Benazir Bhutto foi assassinada, fazendo explodir um caos em todo país, que – detalhe sombrio – é abrigo de radicais religiosos e detém bomba atômica.
No Quênia, cerca de 340 pessoas já foram assassinadas por causa de supostas fraudes na eleição presidencial, sendo que dezenas foram queimadas vivas dentro de uma igreja.
No Iraque, homens bombas mataram várias pessoas, o mesmo acontecendo na Turquia.
Em Bruxelas, as festas de final de ano foram canceladas por risco de ataques terroristas.
Pela primeira vez em três décadas de um dos mais famosos ralis do mundo, o Lisboa-Dakar, foi cancelado por causa de ameaças de ataques terroristas aos pilotos. Poucos dias antes do Natal, 4 turistas franceses foram mortos em um dos trechos do rali, a Mauritânia.
O Papa Bento XVI em sua tradicional prédica no primeiro dia do ano alertou sobre densas nuvens que pairam sobre a humanidade, que incluem a recrudescimento da violência, o aumento da tensão nuclear e a crise ambiental.
Não é sem razão que o tema guerra contra o terrorismo tem sido o centro dos debates nas eleições para a presidência dos EUA.
Vivem-se, de fato, tempos difíceis.
Nossos avós ainda puderam se sentar a porta de suas casas para conversar. Puderam dormir com janelas abertas, sem grades, passear pela cidade descontraidamente, dar carona para desconhecidos, deixar estranhos adentrar suas casas. Puderam sair pelas ruas sem receio de serem atropelados, de serem assaltados ou alvo de balas perdidas.
Nós somos reféns do medo.
Nos últimos anos a psiquiatria viu surgir uma nova patologia: o estresse pré-traumático. Até então, o trauma que gerava o sofrimento psicológico nascia da vivência de uma situação extrema, como um assalto, uma tentativa de agressão ou homicídio. Agora, o distúrbio psicológico está afetando milhares de pessoas antes da ocorrência de um determinado fato. Estamos sofrendo antecipadamente, com a constante sensação e o incontrolável medo de que algo está para acontecer.
Diante de um contexto como esse, logo surgem as idéias estapafúrdias de pena de morte, de tortura, de castigos corporais, de justiça pelas próprias mãos, como se a violência pudesse resolver a violência.
Não pode.
Mahatma Gandhi tem uma frase lapidar a respeito: “Não há nada que a violência pretenda resolver, que a paz não resolva.”
Não obstante isso, não raro as mesmas pessoas que criticam e reclamam da violência, usam de agressividade para lidar com as vicissitudes do cotidiano e veneram qualquer produção cultural que ostente rivalidades, vinganças, ódios, tiros, explosões e muito sangue.
Lamentam o morticínio, mas aplaudem espetáculos de atrocidades.
Não é à-toa que qualquer filme que tenha muitos cadáveres ensangüentados faz o maior sucesso de bilheteria.
No terceiro e quarto dia do ano, dois capítulo inteiros, exclusivos, da novela Duas Caras – carro chefe do horário nobre da Rede Globo, que vai ao ar às 20:00 horas em Belém – foi dedicado a um violento e patético combate na favela onde se desenrola o enredo. Um dos personagens principais passou o capítulo todo desejando o mal a seus adversários, jurando vingança, xingando, exortando a violência e distribuindo armas para recrudescer as cenas já fortes e estúpidas para qualquer horário. Vale dizer que, recentemente, esta mesma novela foi duramente criticada e ameaçada de restrições, por abusar de cenas de sensualidade explícita em horário impróprio.
Quantas crianças e jovens que têm nesses atores e atrizes seus ídolos são influenciadas por esse espetáculo deprimente?
Quantos delinqüentes se sentem motivados por se descobrirem heróis em horário nobre?
Quantos reconhecem na violência estilizada pela cultura de massa a forma adequada de resolverem seus conflitos e insatisfações?
Convém reavivar que o filme Clube da Luta motivou vários episódios de violência no mundo. Alguns desses jovens que assassinaram dezenas de pessoas em escolas e shoppings admitiram que foram inspirados por personagens fictícios de filmes violentos.
Não é demais lembrar que o filme que fez mais sucesso em 2007 no Brasil foi Tropa de Elite. Não por acaso, no dia 04 de janeiro as manchetes de vários jornais no Brasil estampam a suspeita de que policiais têm adotado métodos de tortura popularizados pelo filme.
Você já percebeu como vicejam programas policiais, com apresentadores descontrolados e agressivos que incitam mais violência?
Nossas crianças estão se divertindo com jogos onde vencer equivale a matar, esfolar, atropelar o maior número de vítimas possíveis. Por que ainda nos surpreendemos quando eles, na adolescência, descambam para a agressividade gratuita ou para o crime hediondo?
Em verdade, somos bombardeados por uma propaganda da violência, paradoxalmente, pelos mesmos meios de comunicação que, em seus telejornais, criticam, candidamente, a explosão da barbárie.
Por que não boicotamos esses programas?
Por que não repudiamos essa cultura?
Por que não reagimos pacificamente, mas de forma eloqüente, a esse espetáculo bizarro que, por dinheiro, incita o crime, a barbárie, a desordem?
Ecoa aqui a clássica afirmação do famoso Pastor e ativista político norte americano, vencedor do Nobel da Paz de 1964, Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”
Talvez o silêncio decorra da contaminação dessa cultura que nos cega e ensurdece. Embalados por essa banalização, muitas vezes nos vemos agressivos em casa, no trabalho, no trânsito, na fila de espera, no restaurante, no campo de futebol.
Como então consolidar a paz?
Mais uma vez, Gandhi dá o caminho: “comece em você a mudança que queres ver no mundo.”
O mundo é o reflexo do que nós somos.
Agressividade não se limita a aspectos físicos.
Ela nasce no íntimo de nossas idéias, no recôndito de nossos sentimentos. É no mundo psicológico, das emoções, que nascem os assassínios, as torturas, as calúnias, os conflitos.
Precisamos nos desarmar mentalmente, antes que os pensamentos se transformem em atos hostis.
Por isso Jesus recomendou o orai e vigiai.
Precisamos boicotar as produções culturais que propagandeiam violência.
Por isso São Paulo ensinou: “tudo posso, mas nem tudo me convém.”
Precisamos perceber e experimentar as delícias da paz.
Por isso, Madre Tereza da Calcutar indicou a paz interior como a melhor das sensações do espírito.
Precisamos vivenciar a paz, em cada situação, em qualquer circunstância, mesmo quando injustamente atacados.
Tomemos como exemplo Chico Xavier que, maltratado por calúnias, perseguições e ataques de toda ordem, acabou sua vida com o título de homem amor.
Precisamos não aceitar provocações e nos controlarmos antes de revidar e nos sujar com vinganças comprometedoras.
Por isso Jesus advertiu Pedro, quando este feriu um romano por ocasião da prisão do Rabi: “Embainha tua espada Pedro, porque quem com a espada ferir, com a espada será ferido.”
Precisamos abandonar o julgamento sumário dos atos alheios e a condenação estúpida.
Não por acaso que Jesus, diante da multidão enfurecida, estabeleceu o critério de ouro: “que jogue a primeira pedra, aquele que está sem pecado.”
Precisamos todos lutar contra as trevas que pairam sobre o mundo, mas com as armas do amor.
Por isso Jesus negou o convite de comandar uma revolução armada contra o sistema então vigente, esclarecendo: “Meu reino não é deste mundo.”
Precisamos fazer luz onde quer que estejamos, em cada momento do dia e construirmos, passo a passo, um ambiente fraterno, de amor e de paz.
Atendamos, pois, à exortação de São Francisco de Assis:
“Senhor, fazei de mim instrumento de vossa paz!
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houve dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz!
Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado,
compreender que ser compreendido,
amar que ser amado,
pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna!

Estes são os meus votos a você em 2008.

Muita paz!