quinta-feira, junho 05, 2008

O FUTURO DA VIDA

“Isto sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
Como o sangue que une uma família...
Tudo o que acontece com a Terra,
Acontece com os filhos e filhas da Terra.
O homem não tece a teia da vida;
ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
ele faz a si mesmo.”

(Ted Perry, aproveitando a tradição ensinada pelo Chefe indígena Seattle).






O blog Visão Espírita foi criado no dia 5 de junho de 2006. Neste dia comemora-se em todo planeta o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em dois anos de existência, nunca postei um artigo específico sobre meio ambiente. Optei por ofertar esclarecimentos que colaborassem – sem maiores pretensões – com a espiritualização de cada leitor, o que, por tabela, também é decisivo para pautar nossa atitude ética para com a natureza. De certa forma, evitei falar por impulso, contaminado pela tristeza de presenciar o que estamos fazendo com nossa acolhedora Terra.
O momento é de reflexão e este é meu presente no segundo aniversário do blog.
Nos últimos 25 anos, dentre as 21 temperaturas mais altas registradas, 20 delas estão neste período. O ano de 2005 foi o ano mais quente já registrado e o de 2007 foi o ano mais quente em terra firme, sendo que a NASA o confirmou como o segundo ano mais quente no século. O período entre julho de 2005 e julho de 2006 foi um dos mais quentes da história dos EUA. 2006 foi o ano mais quente em 48 estados americanos, quando se bateu nada menos do que mais 2300 recordes de temperatura. Em 2003 a Europa sofreu uma surpreendente onda de calor que matou entre 30 e 35 mil pessoas, sobretudo pobres, crianças e idosos. Em 2007, ondas de calor fizeram dezenas de vítimas no Paquistão e na Romênia.
Só em 2007, a Europa teve o janeiro mais quente da história, sendo que na Holanda foi o mais quente desde 1706, quando começaram as medições. A França registrou o mês de abril mais quente em 60 anos. No Japão, quebrou-se o recorde que era de 1933, com pico de temperatura de 40,9 graus, vitimando mais de 30 pessoas. A China passou pela pior seca dos últimos 60 anos, afetando mais de 1,6 milhão de pessoas. Hong Kong celebrou, em fevereiro, o ano novo lunar quebrando o recorde de temperatura que se mantinha desde 1885, quando foi instalado o seu observatório. A Alemanha teve o ano mais quente e seco desde 1901. Na Grécia a onda de calor é a mais hostil em 110 anos. A Itália registrou o inverno mais quente dos últimos 200 anos. Na Índia, onde os termômetros chegaram a 48,9 ºC, num único final de semana de junho morreram 74 pessoas. No mesmo final de semana, foram mais de 50 mortes no Paquistão, onde a temperatura alcançou 52 ºC.
Os efeitos se espalham. Em 2002, pela primeira vez na história, registrou-se a divisão da gigantesca Plataforma Ward Hunt, no Ártico. Na Groelândia o aquecimento global está derretendo o gelo da ilha e a soma já se configura no maior degelo dos últimos 50 anos. Em 2000, a Plataforma (geleira que avança para o mar) de Ross liberou icebergs gigantescos, equivalentes a duas cidades de São Paulo. Países localizados em ilhas do pacífico estão sendo engolidos pelo mar e várias cidades costeiras já estão sofrendo com a força da natureza.
Em 2004, dez tufões fizeram estragos no Japão e os tornados quebraram o recorde histórico nos EUA, seguido de novos recordes. Em 2005 – o ano mais quente da história -, o furacão Katrina arrasou a cidade norte americana de Nova Orleans, que submergiu matando 1.400 pessoas e causando prejuízos de cerca de 80 bilhões de dólares. Após a passagem do Katrina, seguiram-se o furacão Rita, o Stan, o Tammy, o Vince, o Wilma - maior furacão já registrado -, o Alpha, o Beta, o Delta, o Epsilon, o Gama e Zeta, num total de 27 furacões só em 2005. Destes, quase uma dezena eram das categorias 4 e 5 – as mais fortes – que se formaram naquela região do oceano Atlântico. No mesmo ano, pela primeira vez na história do Atlântico Sul, formou-se um furacão que levou destruição à Santa Catarina, no sul do Brasil. Em 2006, a Austrália sofreu com vários ciclones de categoria 5, com destaque para o Santa Mônica, poderosamente forte o bastante para entrar para história do litoral australiano, por seu épico poder destrutivo. Em 2006, o furacão Saomi provocou a evacuação de 1,5 milhão de pessoas na China. Em 2007, Bangladesh foi castigada pela pior tempestade em décadas. Em fevereiro de 2008 - antes da temporada de tornados que deveria iniciar em março – tempestades e vários tornados varreram e fustigaram diversos estados no sul dos EUA, causando 58 mortes, centenas de feridos e um rastro calamitoso de destruição. Para alguns especialistas, foi a pior seqüência de tornados em 50 anos. Em maio de 2008, o ciclone Nargis - considerado o mais forte em 30 anos - deixou mais de 133 mil mortos em Mianmar e mais de 2 milhões de desabrigados, além de um rastro inominável de destruição e sofrimento, agravado pela estúpida recusa do regime militar do país de aceitar ajuda internacional.
Na primeira quinzena de setembro de 2005, o metereologista Peter Webster publicou na prestigiada revista científica Science um artigo que, atualmente, é quase uma unanimidade, onde destacou que nas últimas três décadas a média anual de furacões no oceano Atlântico saltou de 5 para 7,8, cada vez mais intensos e destrutivos, e os com ventos acima de 200 quilômetros por hora, simplesmente dobrou.
Em janeiro de 2008 a Organização das Nações Unidas – ONU divulgou o resultado de um estudo que, entre os anos de 2000 e 2006, confirmou a previsão do IPCC: aumentou a freqüência de desastres naturais[1].
Mas isso é apenas um arranhão da crise ambiental.
Que falar do incontornável desmatamento da Amazônia que já consumiu cerca de 18% da floresta e afetou cerca de 47% do bioma? Que pensar sobre a duplicação das emissões de CO2 entre 2000 e 2005, sendo que ao final de um único dia, lançamos 70 milhões de poluentes na atmosfera? Qual a reflexão que se faz sobre a escassez de água na China que já maltrata 300 das suas 617 cidades? Que pensar sobre as 3.800 mortes diárias associadas à falta de água de qualidade, quando se sabe que cerca de 80% dos resíduos dos esgotos domésticos e 70% dos industriais são despejados, sem nenhum tratamento, em bacias hidrográficas ou na zona costeira, infiltrando-se, não raro, até águas subterrâneas? Que lição tirar das 784 espécies já extintas e dos 12% das espécies de aves, 20% das espécies de tubarões e raias, 23% das espécies de mamíferos, 25% das espécies de coníferas, 32% das de anfíbios, 51% das espécies de répteis e 52% das de insetos, todos ameaçados de extinção?
Será que perdemos nossa capacidade de refletir e de nos sensibilizar?
O Ex-Presidente da França, Jacques Chirac, foi categórico: “Já passou o momento de ações paliativas. Chegou a hora de uma revolução no verdadeiro sentido do termo: uma revolução das consciências, da economia e da ação pública. Aproxima-se o dia em que o desajuste climático fugirá totalmente do controle. Estamos no limiar do irreversível”.
David King, o mais respeitado consultor científico do governo britânico, discorda do Ex-Presidente da França, Jacques Chirac, e atualmente tem vaticinado: “Nós passamos o ponto de poder evitar a mudança climática perigosa. O que falamos agora é sobre evitar a mudança climática catastrófica”.
Por tudo isso, o biólogo australiano Tim Flannery afirmar que os seres humanos são “comedores-de-futuro”, o historiador e arqueólogo Ronald Wright nos chama de assassinos e o prestigiado biólogo Edward Wilson completa: “assassino em série da biosfera”. Lynn Margulis e Dorion Sagan sugerem que troquemos nosso nome científico de homo sapiens (o ser que sabe que sabe) para homo insapiens (o ser que não sabe, o ser grosseiro) e o respeitado teólogo Leonardo Boff, qualifica-nos como homo demens, biocidas, geocidas e finaliza: o ser humano pode ser o satã da Terra.
No excelente documentário A Hora Final, o chefe indígena adverte serenamente: _ O tempo está correndo contra nós.
É hora de refletir e despertar.
O homem ainda ignora a interdependência espiritual que une todas as coisas. O que faz à natureza, faz a si mesmo. O Evangelho de Tomé, descoberto em 1945, no cemitério de Nag Hammadi, no alto-Egito, revelou esta ligação invisível ao mundo numa das falas mais impressionantes de Jesus: “Eu sou a luz, que está acima de todos (...). Rachai a madeira – lá estou eu. Erguei a pedra – lá me achareis.”
É hora de mudar e agir.




[1] As inundações foram as catástrofes que mais cresceram em 2007, batendo a média de 172 ocorrências nos últimos 7 anos, com um pico de 206 inundações em 2007.