quinta-feira, julho 31, 2008

TRADUÇÃO DE UMA TRAGÉDIA



“Crede-me, a morte é preferível, para encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias honradas, partem o coração de uma mãe, e fazem, antes do tempo, branquear os cabelos do pai. A morte prematura, freqüentemente, é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai, e que se encontra assim, preservado das misérias da vida, ou das seduções que teriam podido arrastá-lo à sua perdição. Aquele que morre na flor da idade, não é vítima da fatalidade, mas Deus julga que lhe é útil não permanecer por mais tempo na Terra.”
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V. item 21. Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras. Pg. 86)



No primeiro artigo de 2008, publicado neste blog com o título de Muita Paz, tratei com pesar do morticínio que ocorre nas estradas do Brasil. No último domingo a sociedade paraense foi abalada pelas trágicas mortes de 8 pessoas em um acidente de carro, na rodovia de acesso ao litoral do nordeste do Pará. A mídia estampou a chocante interrupção da vida de 5 jovens que viajavam em um dos carros envolvidos no acidente e que foi consumido pelo fogo, impedindo o pronto reconhecimento das vítimas.
As imagens de belas jovens, saudáveis, sorridentes e cheias de vida não parecia poder se encaixar nas cenas horrendas dos destroços do acidente. Como podem acontecer mortes tão brutais? Qual o motivo? Qual o sentido? Por quê?
Choque, desespero, revolta e vazio. Muitos familiares e amigos em luto percorrerão este espinhoso caminho – entre questionamentos e profunda tristeza – incapazes de reagir a perdas tão dolorosas. Será que sentiram dores? Será que pressentiram o fim? Será que estão vivas em outra dimensão da vida? O que sentem? Este artigo, sem pretensão de esgotar o assunto, oferta alguns esclarecimentos que podem ser úteis para elucidar este drama.
Preliminarmente importa ressaltar que a morte não é o fim. É antes um recomeço noutra dimensão da vida. Tragédias como esta trazem as características de um carma coletivo. Espíritos já conhecidos de outras encarnações se reencontram para em determinado momento da vida partilharem uma morte conjunta, resgatando dívidas do passado, contraídas em parceria ou em circunstâncias similares. Dependendo da evolução dos espíritos envolvidos, alguns podem pressentir[1] a chegada do momento de resgate, às vezes através de sonhos, pensamentos, registros ou mal-estar físico.
O que aparenta ser uma estúpida tragédia, sob o ponto de vista material, não raro representa uma benção da misericórdia divina que permite que um único fato resgate graves erros do passado e liberte esses espíritos de futuras reencarnações de incomensuráveis sofrimentos. É, pois, ao mesmo tempo expiação e prova para amigos e familiares que têm de suportar com resignação a pungente dor da perda de jovens queridas e amadas. Não raro, tais tragédias têm ainda por finalidade gerar reflexões na sociedade. Não – obviamente – a dos hedonistas e materialistas de plantão que logo proclamam: por isso que devemos aproveitar intensamente os prazeres da vida. Falo de reflexões maduras e profundas sobre o sentido da vida e sobre o que estamos fazendo dela, pois a qualquer momento chega a convocação de retorno à pátria espiritual, onde prestamos conta de nossos atos e obras.
É verdade que as mortes violentas trazem dificuldades ao espírito desencarnante, que se vê, abruptamente, retirado da vida material. Por lógico, que mortes naturais são bem mais tranqüilas. Contudo, ao contrário do que se pensa, geralmente não há dor em mortes como as que ocorreram, pois se tratam de mortes instantâneas provocadas por imediata parada cardio-respiratória. Os registros de experiências de quase morte – EQM, que pululam nos hospitais do mundo todo, atestam que a separação do espírito do corpo físico, de regra, é sem sofrimento. Muito ao contrário, trata-se de uma libertação que logo enche o espírito de paz e de desejo de não retornar ao mundo material. Por isso, o insigne Léon Denis ensina em sua lapidar obra Depois da Morte, pg. 247:

“O homem mundano chora e lamenta-se à beira dos túmulos, essas portas abertas sobre o infinito. Se estivesse familiarizado com as leis divinas, era sobre os berços que deveria gemer. O vagido do recém-nascido não será um lamento do Espírito, diante das tristes perspectivas da vida?

Não é demais lembrar que vários desses registros de EQM são provenientes de pessoas que sofreram graves acidentes automobilísticos, são tidas como mortas e, às vezes inexplicavelmente, retornam para contar o que vivenciaram a quando da separação temporária de seus corpos.
Convém esclarecer, também, que o consumo de seus corpos pelo fogo traz mais sofrimento emocional ao espírito – sobretudo se há apego à matéria – do que dor, pois o momento da morte é fatal, logo, a ligação do espírito com aquele corpo estava fadada a romper-se naquele momento existencial e não falta, para este momento tão relevante, a assistência da espiritualidade amiga, sempre a postos a socorrer os espíritos em regresso à vida maior. Diferente é a situação do suicida que, antecipando o momento da morte, fica preso ao corpo físico em decomposição pelos fluídos vitais que lhe davam a vitalidade interrompida antes da hora. Este sim sofre dores.
Em verdade, o período de perturbação – momento de transição que se segue após o desencarne de qualquer pessoa – varia muito, conforme a evolução do espírito e as circunstâncias do desenlace. Mas se pode afirmar que, de regra, o principal sofrimento do espírito é de ordem moral e emocional, pela falta de preparo para regressar a vida espiritual e para se separar dos entes queridos, das afeições, da vida que se tinha, dos sonhos e projetos deixados para trás, agora relembrados pelos que ficam entre choros e lamentações, que só perturbam a natural recuperação do espírito. O assunto é tratado na questão 936, do Livro dos Espíritos e merece reflexão:

“Questão 936. Como é que as dores inconsoláveis dos que sobrevivem se refletem nos Espíritos que as causam?

O Espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva, ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes.”

Por tudo isso, Chico Xavier outrora e hoje tantos outros médiuns recebem mensagens do plano espiritual de filhos que imploram a seus pais e amigos que não se revoltem, que não lamentem e que, ao contrário, bendigam à Deus pela quitação de dívidas espirituais, pois o desequilíbrio e a falta de resignação dos que ficam perturbam os espíritos na vida maior, tal como perturbaria o filho que viajasse para outro país e soubesse que sua família está profundamente infeliz e em crise. Pedem eles, ainda, que transformem essas dores em caridade. Que façam o bem e ofertem essas obras de caridade em favor daqueles que partiram.
O Espiritismo vem cumprindo sua sublime missão de esclarecimento da humanidade sobre as verdades espirituais. Dúvidas sobre a sobrevivência do espírito e sobre sua situação no além-túmulo só tem quem quer. Muitas mães já se beneficiam hoje das revelações sobre o mundo espiritual para aliviar a dor da separação de seus filhos. Sobre o assunto, recomendo a leitura do livro Enxungando Lágrimas, com várias mensagens psicografadas por Chico Xavier, do livro Por Trás do Véu de Isis, do jornalista Marcel Souto Maior, que faz uma investigação sobre mediunidade e que trata em boa parte do livro sobre as caravanas de mães que partem para vários centros espíritas no Brasil em busca de um contato com seus filhos já desencarnados. Recomendo, também, leitura de livros de Sônia Rinaldi, pesquisadora de Transcomunicação Instrumental – TCI, onde a mesma relata como mães que perderam seus filhos fundaram grupos para obter contatos com o mundo espiritual pela via eletrônica. Por fim, recomendo que todos orem por essas jovens e que os familiares se resignem e escutem o chamado do Cristo: vinde a mim vós que sofreis.

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[1] Em 21 de outubro de 1966 em Aberfan, no País de Gales, um desmoronamento de um grande depósito de carvão que se acumulara no cume de uma colina soterrou parte de uma vila de mineiros. A tragédia vitimou 134 pessoas, das quais 118 eram crianças de uma escola primária. O psiquiatra J. C. Barker – consternado com o infortúnio - coletou dados sobre pessoas que tiveram experiências premonitórias, em sonho ou vigília, que pressentiram a catástrofe de Aberfan. Inicialmente obteve 76 relatos, dos quais descartou 16 por relevantes inconsistências ou incontornáveis dificuldades de investigação. Restaram 60 relatos confiáveis, que anteciparam a tragédia, não raro seguidos de mal-estar físico.