domingo, novembro 30, 2008

RENASCIMENTO: QUEM É O BEBÊ?

“Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
(João 3:3-7)

A visão materialista de mundo entende que a vida é um acidente, resultado de uma combinação caótica, aleatória e sem sentido de genes egoístas, como tanto defende o cientista ateu e fundamentalista Richard Dakins. Crer-se que a morte é o fim, do corpo e da vida.
Outra é a visão das religiões, embora com variantes. A vida é o resultado de uma ordem superior e inteligente que organiza a matéria, preordenando-a para um sentido maior que é servir de instrumento para realizações do espírito. A morte é apenas uma transição entre a vida na matéria e a vida fora da matéria.
Obviamente, muda-se a percepção das conseqüências do nascimento de um filho conforme se muda a visão de mundo.
O materialista, por lógico, restringirá a educação do seu filho ao intervalo que vai do berço ao túmulo, destacando as prioridades materiais e valores mundanos. Caso creia na teoria da tabula rasa – aceita em vários setores da ciência -, acreditará que a personalidade de seu filho é como uma folha de papel em branco e, por isso, bastará a educação e o ambiente para formar-lhe o caráter. Caso creia na teoria do determinismo genético, torcerá para que seu filho tenha herdado, na loteria do acaso, bons genes, pois os defensores dessa ignóbil teoria acreditam que os genes determinam tudo: personalidade, caráter, felicidade e a decisão entre comprar uma bicicleta ou jogar um avião em um prédio.
Bem diferente é a visão das religiões e, em particular, do Espiritismo. O berço e o túmulo não são os marcos definitivos, mas etapas. O espírito não foi criado na concepção. É antes eterno.
Antes do conúbio carnal consumar-se, o espírito reencarnante já tem consciência da proximidade de sua reentrada na matéria. A volta em uma família de amigos é um alento, um alívio ao fato de ter de voltar a um mundo material ainda conturbado pelo mal. Noutro vértice, o retorno entre espíritos desconhecidos ou inimigos de outras existências, é, por si só, motivo de inquietações. A depender da evolução do espírito reencarnante, este participa, mais ou menos, nas múltiplas escolhas que circunstanciam sua volta à matéria. Quando, finalmente, há a concepção, liga-se o cordão de prata entre o óvulo fecundado e o espírito ainda no plano espiritual. E as duas dimensões da vida estreitam-se. Progressivamente o corpo inicia a vertiginosa aceleração de sua formação na inversa proporção que o modelo organizador biológico - ou perispírito – regride para apertar o espírito na cápsula carnal e para comandar a composição genética do organismo em formação, demonstrando a incrível sabedoria que preside o universo. Aí o elo perdido da evolução darwinista: o perispírito molda a herança genética que determinará nosso corpo e alguns aspectos de nossa vida comportamental. Nada de gene egoísta, absolutamente nada de acaso. A ordem preside cada detalhe de nossa jornada. Na medida em que o processo avança, a matéria vai aprisionando o espírito reencarnante, e o registro das várias experiências de outras vidas vão submergindo para os múltiplos níveis de consciência e do inconsciente que a Psicologia Transpessoal já reconhece e estuda. Ao final da gestação, o espírito infantilizou-se para reiniciar nova etapa de vivências e aprendizagens, trazendo no íntimo de sua mente todos seus potenciais e tendências. A aparência frágil e desprotegida, as feições dóceis, o olhar meigo, o aspecto angelical são artifícios da natureza para desabrochar o instinto de proteção, para eclodir nos pais o amor incondicional a seus rebentos.
O consagrado escritor Ernest Hemingway retrata com vigor o impacto que a infância nos causa:
De todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?
Mas, por trás dessa aparência cativante há um espírito que já traz consigo uma ampla bagagem de experiências. Tão logo avance nos primeiros anos, sua personalidade vai dar indícios de suas tendências e de seu caráter, não raro revelando o conhecimento e experiências de outras vidas.
Dante Alighieri, com nove anos, compôs um soneto a Beatriz. John Stuart Mill aprendeu o complicado alfabeto grego aos três anos de idade. Wolfgang Amadeus Mozart aos dois anos de idade, já executava diversas peças para piano e aos três dominava os idiomas alemão, francês e o latim, bem como tirava sons sublimes do violino aos quatro. Bastaram 12 anos para escrever La finta semplice - sua primeira ópera. Pascal, também aos doze anos, sem educação e sem orientadores, demonstrou trinta e duas proposições de geometria, do I Livro de Euclides. Goethe sabia escrever em diversas línguas antes da idade de dez anos.
Kardec trouxe a lume detalhes da genialidade, quando perguntou aos Benfeitores da espiritualidade a explicação sobre o fenômeno. A resposta foi direta: "lembranças do passado; progresso anterior da alma (...)".
Convém então perguntar: quem é este que dorme no berço o sono dos justos?
Um espírito amigo ou um desafeto que veio para tentar uma reconciliação?
Às vezes só se descobre esta resposta na adolescência ou na fase adulta. Mas nem sempre se reconhece um espírito amigo, tampouco um gênio. Quando eclodem as diferenças, as antipatias, as brigas e separações, vem a pergunta: _ O que foi que eu fiz? _ Onde errei? A ignorância sobre outras vidas não permite uma análise precisa do problema. Noutras vezes, o choque começa cedo. Vale citar emblemático exemplo colhido da obra Disciplina: Limite na medida certa. Novos Paradigmas, de Içami Tiba:
“Recentemente, numa palestra, uma mãe fez a seguinte colocação: “Não sei mais o que fazer com minha filha. Ela só faz o que quer, não me obedece, me enfrenta, me ofende, me agride, não tem um pingo de educação comigo...” Perguntei qual a idade da filha. Ela prontamente me respondeu: “Dois anos”.
Isso nos faz relembrar a clássica frase de Pitágoras: "Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos."
Certo, sobre o tema, é que a criança é um anjinho. Não porque seja um ser sem experiências, mas porque a infância é benção do recomeço, é o templo da reconstrução do ser. É na infância que se pode mais influenciar o futuro do adulto e, por conseqüência, a utilidade da existência. Cabe aos pais, a dedicação do amor. Ele – o amor – é capaz de reforçar laços de milenares amizades, como também é capaz de transformar inimigos em irmãos e a humanidade em uma grande família.
Filho é - por tudo isso - o selo da esperança divina.