segunda-feira, dezembro 31, 2012

CICLOS EVOLUTIVOS


 

                        A vida é feita de ciclos e a nossa evolução também interage com eles.

                        Ao contrário do que alguns alardeavam, 21 de dezembro de 2012 nunca foi a data do suposto final de mundo.  Trata-se apenas de uma data que marca mais uma renovação de ciclo evolutivo, segundo a cultura maia.

                        Em verdade, essa interpretação de ciclos coincide com outras grandes tradições religiosas e com vários aspectos de nossas vidas.

                        Assim ocorre com o final de cada ano. É hora de fazer um balanço, de avaliar como foi o ano que se foi, o que pretendemos para o ano que inicia e conectá-lo ao propósito de nossa existência.

                        A rigor, esse fenômeno transcende a mera tradição cultural. Diz respeito a nossa essência humana, ao propósito de nossas vidas. Ou seja, é o momento onde avaliamos se a vida que estamos levando está nos levando para o objetivo de nossa existência, para os compromissos que assumimos em nossa encarnação.

                        A questão 132 do Livro dos Espíritos nos ajuda no assunto.  Kardec pergunta aos Espíritos: Qual a finalidade da encarnação dos Espíritos? Da longa resposta colho um trecho que resume tudo: “Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. (...) A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a de pôr o Espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da Criação. (...)”

                        Por isso, desejo que cada um dos leitores desse blog aproveite o momento para uma profunda e serena reflexão sobre a conexão entre os rumos atuais de sua vida e o propósito de sua existência.

                        O ideal não é apenas pensarmos no que queremos para o próximo ano. E sim para as próximas décadas, sobre qual legado deixar após nossa breve passagem pela matéria densa.

                        Não percamos de mente que a nossa vida não é apenas nossa. Temos compromisso com a obra divina, com o bem coletivo, com as conquistas humanitárias, como bem ressaltaram os Espíritos à Kardec.

                        Quem vive só para si, está desconectado do propósito maior da vida. Ainda não nasceu espiritualmente.

                        E esse é um bom momento para o parto.

                        É hora de mudanças.

                        Ótimo ano de 2013 a todos.

                        Obrigado por me acompanharem.

                        Esse ano promete novidades.

                        Sigamos em frente!

 

JESUS ESTÁ CONOSCO, MAS ESTAMOS AJUDANDO?

“Jesus está conosco, mas estamos ajudando?”

 
O autor do livro A Grande Transição da Terra: o sentido de urgência diz que é preciso libertar o homem da mentira que o sistema nos impõe ao associar felicidade a consumo

Denis Gleyce Pinto Moreira (foto) nos disse que teve a bênção de ter nascido na cidade de Belém do Pará, onde reside atualmente e exerce o cargo de Advogado da União. Nos últimos anos tem focado sua atuação profissional na área socioambiental.
Espírita há 20 anos, aproximadamente, não chegou
ao Espiritismo como um processo de conversão e sim de descoberta. Adequou-se prontamente aos seus postulados, entendendo que já os conhecia de algum tempo e lugar. Participa do Centro Espírita Jesus de Nazareth e do Grupo Amor e Caridade, ambos em Belém.


Recentemente lançou pela Editora Lumen a excelente obra A Grande Transição da Terra: o sentido de urgência. Em uma das suas viagens de lançamento da obra, conversou conosco de forma gentil e amiga.

Como foi sua iniciação no Movimento Espírita?

Dois livros me conectaram ao Espiritismo: Exilados de Capela, de Edgar Armond, e Depois da Morte, de Léon Denis. Este me arrebatou e sua espiritualidade eloquente apaixonou-me e arrastou-me ao estudo do Espiritismo. Foi um divisor de identidade pessoal, uma pessoa antes e outra depois.

Como vê a grande transição da Terra, conforme o título do seu livro recentemente lançado pela Lumen Editorial?

Sob o ponto de vista geral, a Grande Transição é a sinergia de um conjunto de fatos e fenômenos que funcionam como elo entre o final de um ciclo evolutivo e o início de outro, viabilizando não só um processo simultâneo de progresso do planeta, da humanidade e da espiritualidade, mas também um processo seletivo, que envolve ampla migração de Espíritos entre planetas, readequando o quadro geral das populações espirituais e humanas envolvidas. Sob o ponto de vista íntimo de cada ser, a Grande Transição é um estado de espírito, afetado profundamente pelos acontecimentos deste período que promovem uma transição no íntimo do que somos e do que seremos.

Como construir o ser ético nestes tempos de transição?

A resposta é complexa, porque somos seres complexos. No entanto, posso resumir afirmando que a doutrina espírita fornece elementos suficientes para uma vida ética. O que tenho destacado é que um aspecto relevante dessa ética é nossa atitude para com o planeta. Nesse prisma, permita-me provocar o leitor: ser indiferente à destruição que está acontecendo na Terra é ético?

O que seria a transição individual?

O filósofo pré-socrático Heráclito destaca a importância da mudança. Ninguém pisa no mesmo rio duas vezes, porque o rio e a pessoa mudam. Ou seja, a mudança faz parte da dinâmica do universo e da vida. Precisamos da mudança, do movimento, da transformação. Assim como o planeta passa por grandes mudanças, temos também de nos sintonizar com essas mudanças, temos de fazer nossa transição individual. Se a transição planetária exige mais cuidado com a natureza, temos de promover essa mudança em nossas vidas. Se a transição planetária exige mais paz, temos de promover esse valor em nossa conduta. Se a transição planetária exige que pensemos mais no coletivo, temos de transitar do individualismo para a solidariedade. Em suma, a transição individual é a mudança de nosso modelo mental individualista, materialista e insustentável para um modelo coletivo, espiritualizado e sustentável.

Atualmente verifica-se um aumento muito grande nas doenças psiquiátricas. Pode discorrer sobre o fato?

Esse é um fenômeno que tem chamado a atenção de muitos estudiosos. Dentre as explicações possíveis está a constatação de que nossa mente está adoecendo mais. Outra hipótese é que o aumento de situações caracterizadas como doenças psiquiátricas atende a interesses do mercado da indústria farmacêutica. Para além dos estudos psiquiátricos, outras áreas do conhecimento confirmam que vivemos um momento de mal-estar civilizatório. As pessoas sentem que há algo de errado.

Como foi seu engajamento nas propostas ecológicas? Qual seu objetivo?

Viver na Amazônia possibilita um engajamento natural nessa temática. A cada dia que nasce temos notícias de graves problemas ambientais acontecendo, alguns que nos afetam diretamente, outros de forma reflexa. Por outro lado, aqui vivem grandes pensadores, ativistas e líderes da causa ambiental e muitos são espíritas. Portanto, temos um ambiente intelectual, cultural e espiritual que propicia a interação de ativismo ambiental com espiritualidade. Meu objetivo é mostrar a relação da natureza com a espiritualidade, mostrar o poder da atuação individual e em rede. Demonstrar a complexidade do desafio, o sentido de urgência e que faz diferença sim o envolvimento de cada um. Como autor, tento viabilizar ao leitor a tríade de ouro: refletir, preparar-se e agir.

Em sua opinião, como os espíritas podem participar com eficácia nesses debates?

Não há dúvida sobre isso. Não só podem. É um dever ético, sobretudo porque temos consciência que o planeta está passando por um período turbulento de transição. E não deve ser envolvimento apenas em debates. Não temos mais tanto tempo para somente boas intenções. Precisamos agir como cidadãos, cobrando mudanças e aderindo a novos hábitos, como consumidores, evitando o consumismo, o materialismo e o desperdício, como pais, educando nossos filhos, como filhos de Deus, defendendo este planeta maravilhoso, como espíritas, aplicando o evangelho e os conhecimentos espíritas em nossa relação com a natureza.

Em recente palestra você disse que, se todas as nações consumissem como os Estados Unidos o fazem atualmente, seriam necessários cinco planetas Terra para suprir tamanhos consumos. O que propor, então?

É preciso não confundir consumo com consumismo. Nossa vida na matéria exige o consumo para suprir, por exemplo, necessidades de alimentação. Temos de consumir. Mas não precisamos ser consumistas. Isto é, consumir com exagero, impulsivamente. Por outro lado, temos de combater o desperdício. Podemos considerar uma atitude espiritualizada jogar fora comida em um mundo com cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome? Temos de consumir apenas o necessário, reinventar usos e ter outro olhar para o que consideramos lixo. É o tripé: reduzir, reutilizar e reciclar. Em 2008, a ONG World Wildlife Fund concluiu que a pegada ecológica global excede hoje algo em torno de 30% a capacidade de regeneração natural do planeta. Desde então, o ritmo não diminuiu. E nesse ritmo, precisaremos, por volta de 2030, de dois planetas para manter nosso estilo de vida. E se toda a humanidade consumir o que os americanos consomem, então precisaremos de cinco planetas. Em várias regiões da Terra, os estragos desse ritmo de consumo estão submetendo milhares de seres humanos a uma vida degradante e miserável. Esse cenário faz parte da Grande Transição, mas é dever ético-espiritual de cada um de nós lutar para mudar esse quadro.

Outra questão ali levantada é a de que por ano perdemos cerca de 1% do solo fértil mundial. Como participar positivamente no sentido de minorar essa realidade?

A perda de solo fértil tem relação direta com a capacidade de produção alimentar da humanidade no futuro. Contudo, em verdade, temos de posicionar esse desafio em um contexto mais amplo, que envolve a degradação e destruição de vários ecossistemas. Infelizmente muitas pessoas não percebem que participam do problema. É importante ter consciência de que construir uma casa sobre o mangue, que comprar um móvel construído com madeira ilegal, que ser consumidor de alimentos que foram produzidos destruindo o solo e as florestas é, sim, fazer parte do problema. Se mudarmos, o sistema muda e o mundo muda junto.

No capítulo II do seu livro você trata do tema: O Sentido de Urgência; Exagero ou Realismo? Em que ponto estamos hoje quanto ao quesito sustentabilidade planetária?

Nos últimos anos tivemos avanços significativos. Mas a questão principal é: o que estamos fazendo é suficiente, considerando que a destruição também continua e o tempo para alguns riscos graves é cada vez menor? O capítulo II traz uma imensa coletânea de dados, estudos e opiniões que demonstram inequivocamente o sentido de urgência, que, aliás, foi um dos aspectos mais ressaltados na Rio + 20.

Acredita que vivemos hoje uma Matrix real?

É uma metáfora bem apropriada e explico a lógica disso no capítulo III do livro. Não há como negar que vivemos em um sistema que impõe um modelo mental individualista, materialista e insustentável. Precisamos despertar e ter um novo olhar para o mundo e a realidade e, nessa senda, o Espiritismo tem contribuições inestimáveis para dar.

Em sua opinião os debates no recente encontro denominado Rio+20 deixam-nos mais confiantes no engajamento das lideranças mundiais com relação à preservação do Planeta?

Ter participado da Rio + 20 foi uma experiência fantástica. Havia um clima de mobilização de pessoas de todo o planeta. Uma verdadeira fraternidade universal. Pudemos nos sentir vibrando na teia da vida. Mas é preciso entender que a aceleração do ritmo de mudanças positivas é promovida com mais destaque pela sociedade civil, pelas pessoas comuns. As autoridades oficiais dos países têm um ritmo mais lento, mais reticente, pois é mais complexo você falar em nome de uma nação inteira que congrega visões de mundo tão díspares e interesses tão contraditórios, alguns dos quais representam setores historicamente ligados à destruição dos recursos naturais do planeta. Mas há esperança, não podemos abdicar dela, mas não pode ser uma esperança passiva. Temos de nos envolver.

Jesus está no leme?

Muito pertinente sua pergunta. Sim, Jesus está no leme do navio terrestre. Não estamos sós, nem cativos de forças do acaso. A espiritualidade está trabalhando forte conosco. Mas lembremos que há leis que regem a vida e somos dotados de livre-arbítrio. Não adianta sermos destrutivos e otimistas. Não haverá mágicas. Se plantarmos pimenta, não colheremos morango. Toda transição exige uma travessia, do antes ao depois. E travessias têm seus riscos. Nossas decisões diárias, no uso do livre-arbítrio, determinaram nossa chegada a este ponto atual e determinarão como será a travessia para o mundo de regeneração. A maioria dos estudiosos ambientais desconsidera a hipótese de mar calmo. Em verdade, já estamos enfrentando tempestades, mas podemos evitar tsunamis. Jesus está conosco, mas estamos ajudando?

Em sua opinião, qual deve ser hoje a essência do debate Ecologia x Espiritismo?

São propostas de vida umbilicalmente interligadas. Ambas ampliam nossa percepção de vida e nos ensinam o respeito ao sagrado, seja da natureza, seja da espiritualidade. Neste momento é importante debater aspectos práticos da Grande Transição, tais como a necessidade de mudança de hábitos destrutivos, os riscos reais desse momento, a preparação para como lidar com alguns cenários e eventos. O processo de espiritualização do ser passa por nos tornarmos melhores em todos os quadrantes da vida, o que inclui aperfeiçoarmos nossa ética de relação com o planeta onde estamos encarnados. Creio que só a espiritualização do ser humano pode libertá-lo da mentira que o sistema nos impõe ao associar felicidade a consumo. A felicidade não depende de consumirmos mais. É um estado de espírito.

O que é pegada ecológica?

É um indicador de sustentabilidade ambiental. O termo foi primeiramente usado pelo ecologista Willian Rees, em 1992. A expressão refere-se à quantidade de recursos naturais necessários para sustentar nosso estilo de vida, considerando todos os recursos materiais e energéticos gastos por uma determinada pessoa ou população. Também tem sido utilizado para medir a sustentabilidade do estilo de vida de produtos, serviços e organizações.

Pode discorrer sobre a Teoria de Medeia e a Teoria de Gaia?

A teoria de Medeia, do paleontólogo americano Peter Ward, afirma que a natureza faz de tudo para nos destruir. Ela se aproxima da visão de mundo do biólogo evolucionista ateu Richard Dawkins que afirma que o universo é indiferente, sem propósito. A teoria de Gaia, do cientista inglês James Lovelock, afirma que a Terra comporta-se como um organismo vivo, com capacidade de autorregulação e autorregeneração. Esta teoria foi um avanço em relação à visão cartesiana de que o planeta e o universo eram como máquinas. Mas mesmo a teoria de Gaia é incompleta, pois descarta a noção de propósito no universo. Por isso, apresentei a teoria de Matergaia no capítulo VIII, onde mostro com base no Espiritismo e na nova Cosmologia que o universo é inteligente, que tem propósito e que a Terra é apenas um dentre muitos planetas em evolução.

Agradecemos e pedimos suas palavras finais.

Há pessoas que preferem não ir ao médico para não descobrirem as doenças que enfermam seu corpo. O livro A Grande Transição da Terra: o sentido de urgência é, digamos assim, um check-up no organismo planetário. Alguns leitores irão se surpreender com certos dados, estudos e previsões científicas e espirituais que demonstram qual a situação da saúde do planeta. Também me surpreendi. Mas o choque pode nos auxiliar no despertar. E pelos relatos que recebo, muitos estão despertando. Espero que muitos mais despertem para os imensos desafios que envolvem a Grande Transição e somem forças para seguirmos juntos, firmes e esperançosos rumo ao futuro.
 
 
Obs: Entrevista concedida à revista O Consolador (Ano 6, n. 286, de 11 de novembro de 2012), disponível em http://www.oconsolador.com.br/ano6/286/entrevista.html