segunda-feira, março 04, 2013

FILOSOFIA ESPÍRITA




                                                                                           
           
“Sua força está na sua filosofia,  no apelo que faz à razão e ao bom senso.” (Allan Kardec, Conclusão, Livro dos Espíritos)



                        O Espiritismo tem tríplice aspecto: o religioso, o científico e o filosófico.
                        Já tivemos grandes expoentes no âmbito religioso como Chico Xavier, no científico como Hernani Guimarães Andrade e no filosófico como J. Herculano Pires.
                        Como se sabe, no Brasil o aspecto religioso vicejou.
                        Os aspectos científico e filosófico nem tanto.
                        E isso tem tido alguns efeitos negativos.
                        Nenhum demérito ao aspecto religioso. É imprescindível, essencial, belo. Ou seja, a questão não é diminuir a aspecto religioso, é investir no desenvolvimento dos outros aspectos.
                        A ciência dá potência à pesquisa. A filosofia à razão.
                        São olhos da mente.
                        Sem pesquisa e sem razão, o Espiritismo perde muito de seu formato original, de sua peculiaridade inovadora e revolucionária.
                        Não só.
                        Abre espaço para a expansão de uma religiosidade vulnerável, inclusive a fanatismos e misticismos. Impede, por outro lado, o desenvolvimento do pensamento crítico e de avanços em áreas importantes do conhecimento humano, no ponto de interseção da ciência e da espiritualidade.
                        Será que os espíritas conhecem a fundo obra de Hernani Guimarães Andrade ou a de J. Herculano Pires? Será que conhecemos o pensamento filosófico de Sócrates e Platão, colaboradores da codificação no plano espiritual?
                        Temos de debater sobre filosofia e ciência dentro dos centros espíritas e penso que não podemos cair na tentação de intelectualismos abstratos. Vale, neste ponto, a máxima estóica: “conhecimento sem ação transforma-se em vaidade.” Convém, portanto, avançarmos na sistematização da filosofia e ciência espírita e conectá-la à vida prática, aos acontecimentos e às tendências.
                        Quando um terrorista for submetido à tortura é preciso que o espírita tenha a capacidade de refletir criticamente sobre o fato. O mesmo vale para crianças que assaltam, para robôs que matam e para pesquisas sobre a crise ambiental ou sobre experiências de quase morte.
                        A reflexão crítica só pode ser completa se integrar os três aspectos. Angular o problema pelo prisma espiritual, pelo filosófico e pelo científico.
                        O espírita não pode se tornar um mero repetidor do que lhe dizem. Um crente ignorante da fé que professa. Precisa aprender a pensar por si mesmo, a ser realmente racional para que sua fé seja também sua convicção.
                        Não há como resolver o problema das distorções à doutrina, da falta de conteúdo ou da resistência de se ler livros mais densos sobre filosofia e ciência espírita, sem avançarmos na atenção dos aspectos filosóficos e científicos da doutrina.
                        Pensemos nisso.
                        Afinal, ensinou Kardec: fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face em qualquer época da humanidade.
                        Mas como encará-la sem os olhos da mente...?