sexta-feira, novembro 15, 2013

PALAVRA BRANDA


"A resposta branda desvia o furor, mas a  palavra dura suscita a ira" (Provérbios - 15:1).




                        Não há pais que não se emocionem com as primeiras palavras de seus rebentos, ainda que trôpegas, imprecisas e arranhadas.
                        O desabrochar da fala humana toca-nos também porque é uma marca indelével de nossa condição humana. É verdade que a comunicação não é atributo exclusivo dos humanos. Outros animais também se comunicam. Contudo, apenas nossa espécie desenvolveu uma fala tão complexa, rica e que foi e é um grande propulsor de nossa evolução.
                        Na medida em que amadurecemos e nos instruímos vamos dando uso diverso as nossas palavras. Há quem transforme palavras em música, há quem as combine em lindas poesias, há quem as organize coerentemente na beleza atraente de grandes histórias literárias, mas há quem apenas as use para a comunicação cotidiana, sem outras pretensões.
                        Mas todos nós – por motivos e em momentos distintos – utilizamos a palavra para machucar, para agredir, para diminuir outras pessoas, para inflamar a ira. Por um desvio evolutivo, a palavra passou também a ser arma e das mais letais. Pode provocar danos sucessivos, cumulativos e profundos, embora nem sempre se possa ver o sangramento vertido em lágrimas.
                        E aqui o ponto.
                        Por que tantas pessoas utilizam a abençoada capacidade de se comunicar para espalhar sentimentos vis, para desequilibrar, para atacar impiedosamente outras pessoas, para suscitar a ira?
                        Será esta a finalidade da fala humana?                      
                        Por certo não.
                        Ao darmos uso equilibrado à palavra, embelezamos o mundo e a nossa vida. Afinal, não é disso que vivem os grandes artistas, pensadores, cientistas e mestres de todos os tempos? Eles trabalham a fala para produzir arte, filosofia, ciência e espiritualidade sublimando nossos sentidos, emoções e a razão.
                        Por outro lado, quando duas pessoas se exasperam na suas falas, pode-se sentir o peso da atmosfera ao redor e o odor fétido da fúria a impregnar palavras cortantes. As emoções entram em ebulição, os instintos se excitam, a capacidade de pensar serenamente entra em crise e aos poucos perde-se o controle do que está acontecendo e também das conseqüências futuras de palavras faladas no calor da discussão.
                        Então, ainda que sob ataque da fúria alheia ou do mundo, não a alimente a ira alheia com revides inadequados e destemperados. Contenha seu instinto ao lembrar-se da sábia lição: a resposta branda desvia o furor.