sexta-feira, dezembro 26, 2008

A VELA E A ESCURIDÃO.

“Não há ninguém que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso ou a coloque sob uma cama; mas a põe sobre o candeeiro, a fim de que aqueles que entrem vejam a luz (...);”
(São Lucas, cap. VIII, v. 16, 17)




Basta ligarmos a TV e logo um show de horrores começa a desfilar diante de nossos olhos: assassinatos, pedofilia, corrupção, poluição, tráfico humano, genocídio, ataques terroristas.
Quando chega o Natal sentimos um clima de fraternidade.
Mas nada que acabe com a sensação de mal-estar espiritual de nossos dias.
Afinal, o mal está vencendo? Onde estão os trabalhadores do bem? Nosso futuro é de luz ou de escuridão?
Carlos Ferrolho, homem de meia idade, parcos recursos financeiros, deficiente físico. Cuida praticamente só de dezenas de crianças em creche no PAAR. Elas o adoram e o respeitam como pai. Todo ano promove o Natal solidário para outras centenas de crianças de Ananindeua.
Cícero, idade avançada, corpo frágil, multi-safenado. Um dos voluntários mais antigos do Centro de Valorização da Vida - CVV, que trabalha com a prevenção ao suicídio. Com milhares de horas de paciente escuta, ajudou a salvar a vida de milhares de pessoas que ligam todos os dias para o CVV.
Mary, esteticista, perdeu os dois filhos e ganhou uma fibra incomum. Uma das mulheres mais vigorosas que conheço. Silenciosa e anonimamente levou, por anos, médicas, dentistas, educação, roupas e cestas para dezenas de famílias de catadores de lixo do Aurá, em Ananindeua. Contava apenas com a amizade e confiança de amigas fiéis. Hoje ajuda uma creche com dezenas de crianças. Todo o ano, na época do Natal, enche um barco de brinquedos, lança-se a navegar quilômetros de distância de sua casa, para espalhar alegria a crianças ribeirinhas do estreito de Breves, no Marajó.
Drª Lindalva, médica psiquiatra do Hospital de Clínicas do Estado do Pará. Sua dedicação com seus pacientes – cujo nome de todos conhece -transcende seu dever profissional. Carinhosa, carismática e competente, promove a dignidade e a inclusão social de doentes mentais como nenhum outro médico arrisca-se a fazer, muitas vezes comprometendo recursos pessoais. É a Patch Adams paraense. Por tudo que faz consegue – entre profissionais de saúde e familiares - uma proeza numa área tão espinhosa: a unanimidade. Todo ano na época do Natal promove uma linda festa para seus pacientes e familiares, um raro momento onde suas mentes sentem paz, equilíbrio e alegria.
Luiz Veiga, ex-empresário, ex-viciado em drogas, atual coordenador do Grupo de Recuperação de Drogaditos Nova Vida. Mais do que buscar sua própria cura, resolveu dedicar sua vida para salvar outras vidas que se perdiam no álcool e nas drogas. Já tirou vários do vício. Todo ano, na época do Natal, faz de seus internos voluntários no Pronto Socorro.
Reginaldo Soares, consultor, pai de 5 filhos. É o homem que não sabe dizer não. Pode ser Papai Noel, palhaço, garçom, mestre de cerimônia, motorista, educador, fotógrafo, negociador, palestrante e o que mais o valha. Tem apenas uma preocupação sincera: ser útil. Todo ano na época do Natal, multiplica-se para cobrir uma vasta agenda social de solidariedade.
João, soropositivo, militante da luta contra AIDS. Desde que se descobriu com AIDS resolveu dedicar sua vida para espalhar informação com sua emocionante história de vida. Palestrou e treinou milhares de pessoas em todo Estado. Lutou pela dignidade do tratamento dos doentes. Desencarnou com a consciência tranqüila de dever cumprido, por ter salvado muitas vidas.
Márcio Américo, idealista, fundou a ONG Sociedade Alternativa. Levou dignidade, orientação e esporte para centenas de crianças e adolescentes filhos de catadores de lixo do lixão do Aurá. Partiu de nosso convívio para melhorar o céu.
O que estas pessoas têm em comum?
Não, não é a santidade, nem a perfeição.
Também não é a religião ou o time de futebol.
Tampouco é a vida fácil, sem decepções e grandes dificuldades.
Não adianta olhar pro céu em busca de um deles, pois nenhum deles tem poderes especiais. Não voam, não ficam invisíveis, não soltam raios, nem têm musculatura avantajada ou um carro todo equipado como o do Batman.
São pessoas comuns, cheias de defeitos e fragilidades. Talvez você, amigo leitor, não conheça nenhum dos citados. Quiçá tenha cruzado com algum deles pelo supermercado, no trânsito, no cinema ou tenha ficado ao seu lado em uma fila.
Todos eles sofrem como você e como você não têm tempo vago, sentem-se cansados e muitas vezes a desmotivação os visita. Gostam de descanso, de momentos livres, de boas companhias.
Mas eles sabem que têm uma missão.
Sabem que são velas na escuridão.
Cada um deles é um elo na corrente do bem.
Juntos formam um farol de luz que alimenta a esperança de milhares de pessoas e de um mundo melhor.
Como eles há milhares espalhados pelo mundo e milhões que ainda não despertaram para a luz que trazem consigo para combater a escuridão.
É Natal. A data magna onde o mundo comemora a chegada da luz do mundo: Jesus.
Tem um provérbio chinês que resume, como nenhum outro, a esperança que se renova em cada Natal e na virada do ano:

“É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão.”

Nos últimos dias que antecedem a chegada de um novo ano é tradição listarmos nossos projetos para o ano que se inicia.
Que tal você listar: ser vela.