domingo, fevereiro 17, 2019

BRUMADINHO FOI CARMA COLETIVO?




                                         
         É hora do almoço. Centenas de funcionários da Vale estão reunidos no refeitório. Próximo dali outras centenas de pessoas vivem mais um dia aparentemente normal em suas comunidades. Mas, pouco depois de meio dia, a Barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho/MG rompe e um rio de resíduos da mineração desce a mais de 100 km/h destruindo tudo que está em seu caminho.
      Segundos depois, centenas de pessoas que seguiam suas rotinas estão soterradas e o ecossistema do entorno destruído. Nos dias que se seguem, surgem histórias incríveis de sobreviventes que não conseguem entender como se salvaram.
      Neste momento que escrevo, ainda estou muito triste com essa tragédia colossal e esse é o sentimento geral do povo brasileiro. Ela suscita algumas perguntas importantes: o desastre tinha de acontecer? Existe carma coletivo?
       Primeiramente é preciso ter muito cuidado ao tratar do tema. Sem dúvida que resgates relativos a carmas coletivos existem, mas generalizações como as que afirmam que todos estão pagando por erros do passado podem mais machucar do que esclarecer. É, pois, indispensável ter respeito pelas vítimas e pelo sentimento de familiares e amigos.
       O resgate de dívidas cármicas do passado não ocorre apenas através de carmas coletivos. Dá-se a todo momento e de forma individual principalmente. A quase totalidade de pessoas encarnadas neste planeta está aqui porque precisa evoluir muito, o que inclui a necessidade de resgatar carmas em um processo complexo de aprendizagem espiritual. Portanto, estamos a cada momento recebendo efeitos de ações praticadas outrora.
        Ou seja, a morte em um evento cataclísmico não quer dizer necessariamente que aquela pessoa cometeu crimes em vidas passadas em associação com as demais vítimas. Embora possa haver laços entre algumas vítimas, outras podem ser alcançadas por carmas individuais, sem nenhuma relação com atuação coletiva no passado.
       Em qualquer caso, o carma não deve ser visto como uma punição a um “pecador”. O resgate é apenas o efeito materializado de uma causa, próxima ou distante, que está relacionada ao exercício do livre arbítrio da pessoa, que mais do que vítima, é um Espírito eterno em processo de aprendizagem.
       Por outro lado, convém ter cautela em afirmações. A maioria das pessoas que afirma que este ou aquele evento com muitas vítimas é um carma coletivo está apenas especulando. De regra, não temos como saber. Eventualmente a espiritualidade superior se manifesta conclusivamente indicando fatos específicos como carmas coletivos. Então, por prudência e por honestidade, devemos deixar claro quando temos absoluta certeza de algo e quando estamos especulando a partir de conhecimentos gerais da doutrina espírita.
       Por fim, o desastre não deve ser tratado nem como fatalidade e nem como acidente.
        Não se trata de uma fatalidade. Ou seja, não é algo que está determinado previamente. Não estamos diante de um fato que deveria ser exatamente assim como foi. Admitir isso, seria negar o nosso livre arbítrio e a responsabilidade pessoal que temos, inclusive quando faz parte de nosso trabalho garantir a segurança de outras pessoas.
        Tornou-se comum ouvir espíritas explicando tudo com o clichê: nada acontece por acaso[1]. A afirmação parece abranger tudo, como se o Espiritismo ensinasse um fatalismo determinista. Não ensina. A lei de causa e efeito é bem mais complexa do que parece.
       Com os cuidados adequados a maioria dos desastres podem ser evitados e, mesmo quando for inevitável, o número de vítimas e os danos ambientais podem ser minimizados.
        A justiça divina sempre encontrará meios de resgates de dívidas cármicas, independente do auxílio de nossa negligência, ambição e indiferença.
       Cabe a cada um de nós, cidadãos, sociedade, empresas e Estado fazermos todo esforço possível para que tragédias como essa não voltem a acontecer e que o desenvolvimento sustentável não seja apenas um ideal abstrato, pois só assim todos evoluímos enquanto indivíduos, sociedade e planeta.



                       
           
                             




[1] Aqui no blog, a amiga leitora (or) encontra um artigo sobre o acaso explicando nuances dessa frase.

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