terça-feira, julho 10, 2007

DEUS E SYNTHIA



“Que é Deus?
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”
(Questão n. 1, do Livro dos Espíritos)


Para se discutir a existência de Deus, necessário observar o universo e o fenômeno da vida.
Certa vez, perguntaram para Albert Einstein qual a pergunta mais importante que uma pessoa pode fazer em sua vida? O genial físico alemão respondeu de pronto: _ Será que o universo é amigável?
Para responder essa sutil pergunta, convém breve remissão histórica.
Quando finalmente a ciência libertou-se do jugo imposto pela religião na Idade Média, a visão de mundo modificou-se profundamente. Copérnico levantou a hipótese de que a Terra não era o centro do universo, afirmação aristotélica usada pela Igreja para justificar o homem como filho especial do Criador. Galileu, anos mais tarde, apontou o telescópio para o céu e provou que Copérnico estava certo. Kleper deu a formulação fundamento matemético. Newton teorizou e descortinou ao mundo as leis da mecânica e Einstein com a teoria da relatividade garantiu status à Ciência, como nunca antes acontecera. Ou seja, as descobertas científicas – especialmente as de Newton, Copérnico, Galileu e Darwin - e as proposições filosóficas – como as de Bertrand Russel, Friedrich Nietzsche, Karl Marx e de Sigmund Freud - construíram um mosaico conceitual no qual o universo e a vida prescindiam de Deus, declarado por Nietzsche como morto. Era, como pensavam, a ruptura com toda a tradição da humanidade até então, já que o homem sempre buscou Deus.
A Ciência e suas leis mecanicistas impôs a visão Newton-cartesiana de mundo, na qual leis universais regiam os fenômenos do cosmos, sem necessidade de um Deus. Separou-se mente e corpo, descobriu-se que eram as bactérias e vírus – e não o diabo – que causavam tantas doenças, vasculhou-se os mistérios da matéria e do cosmos e se decretou que não havia nada além desta vida. Estava criado o ambiente propício ao crescimento vertiginoso do materialismo que, de sua vez, impulsionou a cultura imediatista, o existencialismo, o niilismo e a relativização dos valores morais. Foi tal estado de coisas que eternizou a inquietante pergunta de um dos personagens do livro Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievski: “se Deus não existe, tudo é permitido?”.
Certo é que foi o materialismo, em suas várias facetas, que se incorporou em modelos políticos que embalaram as atrocidades cometidas por Stalin, Hitler e o cruel socialismo científico de Mao-Tsé-tung e Pol Pot.
Sob tal atmosfera, combateu-se com hostilidade a religião e ganhou força a teoria do universo aleatório, onde o acaso ganhou prestígio de uma poderosa força capaz de ordenar e coordenar o universo e dar impulso à vida.
Nesse contexto propício, surge a teoria do Big-Bang que explica o ponto zero, momento do suposto surgimento do universo e de tudo que existe, teoria esta que foi rejeitada por Albert Einstein, entre outros cientistas, mas que ganhou força com o passar dos anos. Mas uma vez, a explicação para a gênese universal prescindia de Deus. Tudo surgira de uma extraordinária explosão de um ponto minúsculo, onde estava concentrada toda energia que, posteriormente, daria forma e densidade à matéria e a tudo que existe.
Embalado pelas teorias científicas em voga, o filósofo Bertrand Russel afirmou com secura que o surgimento da vida e do homem era: “um curioso acidente na água estagnada”.
Na contramão da lógica científica que reinava soberana, o mestre espírita Léon Denis em sua invulgar obra Depois da Morte, editora FEB, lecionava, pg. 116:
“O estudo da Natureza mostra-nos, em todos os lugares, a ação de uma vontade oculta. Por toda parte a matéria obedece a uma força que a domina, organiza e dirige. Todas as forças cósmicas reduzem-se ao movimento, e o movimento é o Ser, é a Vida. O materialismo explica a formação do mundo pela dança cega e aproximação fortuita dos átomos. Mas viu-se alguma vez o arremesso ao acaso das letras do alfabeto produzir um poema? E que poema o da vida universal! Já se viu, de alguma sorte, um amálgama de matérias produzir, por si mesmo, um edifício de proporções imponentes, ou um maquinismo de rodas numerosas e complicadas? Entregue a si mesma, nada pode a matéria. Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade. É pela ação das forças sobre a matéria, pela existência de leis sábias e profundas, que tal vontade se manifesta na ordem do Universo.”
Leon Denis desencarnou sem ver a Ciência acolher seu entendimento. Só em 1973, a Ciência estremeceu impactada pela teoria que dava razão a Leon Denis e ao que o Espiritismo defende.
Importante trazer a colaboração de Patrick Glynn, filósofo e historiador, Phd por Havard, que escreveu o denso livro Deus a Evidência:
“Basicamente, o princípio antrópico traz à observação que o sem número de leis físicas foram orquestradas ordenadamente desde o início propriamente dito do universo até a criação do homem – o universo em que habitamos aparenta ser explicitamente planejado para o surgimento dos seres humanos.
(...)
Carter apresentou alguns desses pontos em sua palestra no ano de 1973. Qualquer interferência na constante gravitacional em relação ao eletromagnetismo, salientou, resultaria em um universo sem estrelas centrais como nosso Sol, mas somente outras, mais frias e “vermelhas” ou mais quentes e “azuis”, incapazes de manter a evolução da vida. Qualquer enfraquecimento na “sólida” energia nuclear resultaria em um universo constituído de hidrogênio e mais nenhum outro elemento. Isso significaria nada de oxigênio, água; nada além do hidrogênio.
Mas estas observações iniciais provaram-se apenas a ponta do iceberg. Nos anos posteriores à palestra, Carter e outros cientistas descobriram uma lista crescente, atemorizante e improvável de misteriosas coincidências ou “acidentes da sorte” no universo – cujo único denominador comum parecia a necessidade de nosso surgimento. Mesmo a mais leve interferência com o valor das forças fundamentais da física – gravidade, eletromagnetismo, a sólida energia nuclear ou a fraca energia nuclear (nuclear weak force) – teriam como resultado um universo irreconhecível: um universo completamente formado de hélio, sem prótons ou átomos, um universo sem estrelas, ou um universo que desmoronaria sobre si mesmo antes dos primeiros momentos de existência. Modificar as proporções exatas das massas das partículas subatômicas em relação umas às outras traria efeitos semelhantes. Mesmo a base da vida, como carbono e água, dependem de uma “sintonia fina” extraordinária, em nível subatômico, coincidências estranhas nos valores, para as quais os físicos não possuem qualquer outra explicação.”
É a própria Ciência que afirma que a entropia - lei da termodinâmica – preside fenômenos no universo. A entropia é essa força desorganizadora que parece ser a filha do caos. Embaralhe as cartas de um baralho e elas nunca mais voltarão à formação inicial, a não ser que outra força consciente atue, organizando-as. Separe num recipiente de vidro três camadas de bolas: as primeiras azuis, as segundas verdes e as últimas, do fundo, brancas. Balance o recipiente de tal forma que as bolas se misturem. Caso uma força consciente não intervenha, a formação inicial das bolas não voltará a acontecer. Deixe sua casa sem limpar e você verá a poeira tomar-lhe. Deixe seu corpo sem movimento e os músculos logo se ressentirão. Isso é entropia, é uma força que desorganiza, que alimenta o caos. Essa força atua fortemente no mundo. Ou seja, os átomos e todas as substâncias elementares estão sujeitas ao império da entropia. Isso é fato. Então como explicar o surgimento da vida?
Quando o filósofo Bertrand Russel afirmou que o surgimento da vida e do homem era: “um curioso acidente na água estagnada”, por certo ignorou flagrantemente a entropia e esse “mistério” do surgimento da vida, sem resposta da Ciência. A ser um acidente, que acidente inteligente, teimoso, criativo e dinâmico, pois o acaso criou a ordem, o nada criou tudo e por pura teimosia o acidente não apenas se repetiu várias e sucessivas vezes, como se espalhou mundo a fora, aperfeiçoou-se e ganhou autonomia ao ponto de gerar a consciência e a inteligência humana. Que acidente!
No magnífico livro Morte Renascimento e Evolução, assinado pelo maior pesquisador espírita da era moderna, Hernani Guimarães Andrade, acumulam-se argumentos e fatos contra o acaso cego, defendido pelos céticos. Senão vejamos:
“No meio desse caos de entropia progressiva, surge inesperadamente uma corrente caminhando em sentido contrário ao caudal gigantesco canalizado pelo acaso. Ei-la avançando em direção oposta a desorganização total. É a vida!
(...)
O sistema vivo compara-se a uma casa que vai sendo construída à medida em que vão sendo atirados sobre o terreno os tijolos, a areia, a cal, o cimento, as telhas, etc. Ao mesmo tempo, vão sendo rejeitados os detritos e sobras da construção. Finalmente, uma vez construída a obra, são introduzidos os móveis, os tapetes, as cortinas, os vasos, etc. Tudo isso é paulatinamente disposto em seus lugares adequados. Mais tarde, as peças gastas são retiradas e substituídas por outras em boas condições. Pois bem, imagine que todas essas operações se façam graças a um sistema de mútua coordenação entre os próprios materiais e objetos, de modo a dispensar o trabalho dos pedreiros, do encanador, do eletricista, do arrumador, do tapeceiro e até da dona-de-casa que cuida da ordem e limpeza da casa.
Isso não é possível! Dirá você, caro leitor. Entretanto é quase isso o que acontece com um sistema vivo. A diferença está em que, no sistema vivo, o “milagre” da coordenação entre os materiais é ainda mais perfeito e minucioso. Poderíamos dizer: mais “impossível” ainda!”
Não é à-toa que a Ciência nunca conseguiu sucesso em tentar reproduzir, com perfeição, as condições ideais do caldo primordial, que “por acaso” permitiu o surgimento da vida.
Na última semana de junho deste ano, o mundo científico estremeceu com barulhenta divulgação de que o cientista americano Craig Venter estaria prestes a, finalmente, criar vida artificial.
Com décadas de pesquisas, a ciência com todo seu aparato de tecnologia, incluindo potentes computadores e equipes multidisciplinares de cientistas geniais, parece que vai conseguir criar uma bactéria a partir de outra bactéria modificada geneticamente.
O nome da famosa criatura é Synthia, a bactéria artificial.
Para humanidade é uma vitória estrondosa, que permitirá avançar em outras pesquisas e no tratamento de muitas enfermidades. Para natureza, uma conquista insignificante, nada perto das milhares de espécies que a biodiversidade ostenta, com seus organismos peculiares e complexos.
Enquanto os materialistas se rejubilam com o anúncio da vida artificial, ecoa uma questão inquietante: como deixar de se surpreender com a crença de que o acaso foi capaz de criar essa magnífica biodiversidade, de criar a mente e consciência humana?
Difícil sustentar a tese com a razão, impossível ignorar essa vontade e inteligência superior que tudo cria e conduz.
Essa vontade que preside os fenômenos no universo, notadamente em relação à vida, que é negada, sem qualquer fundamento sequer razoável, que prova irrefutavelmente a existência do Criador. É essa vontade que está em tudo, que mantém o Sol sobre nossas cabeças, que ergue as ondas, que faz brotar da humilde semente o imponente carvalho, que acalma furacões, terremotos e vulcões, que confunde os soberbos e revela-se aos humildes, que chamamos de Deus. Onde achá-lo? Leon Denis indica:
“Algumas vezes, uma voz poderosa, um canto grave e severo ergue-se dessas profundezas do ser, retumba no meio das ocupações frívolas e dos cuidados da nossa vida, a fim de chamar-nos ao dever. Infeliz daquele que recusa ouvi-la! Chegará o tempo em que o remoço ardente lhe ensinará que não se repelem impunemente as advertências da consciência.
Sim, há em cada um de nós fontes ocultas de onde podem brotar ondas de vida e de amor, virtudes, potências inumeráveis. É aí, é nesse santuário íntimo que cumpre procurar Deus. Deus está em nós, ou, pelo menos, há em nós um reflexo dEle. Ora o que não existe não poderia ser refletido. As almas refletem Deus como as gotas do orvalho da manhã refletem os fogos do Sol, cada qual segundo seu brilho e grau de pureza.”
É isso aí. Synthia, seja bem-vinda ao universo maravilhoso de Deus.