quinta-feira, setembro 21, 2006

RADAR



CICLO DE PALESTRAS SOBRE FAMÍLIA COM ALBERTO ALMEIDA



Durante os próximos dois meses, o médico e terapeuta Alberto Almeida – um dos maiores conferencistas do movimento espírita nacional e internacional – proferirá palestras sobre o tema família, na União Espírita Paraense – UEP, que fica na Tv. Castelo Branco, entre Av. Magalhães Barata e Av. Gentil Bittencourt.
Agende-se: quinta-feira, 20:00 horas.
Entrada franca.
Chegue cedo. As palestras de Alberto Almeida são muito concorridas.




SEMINÁRIO TRANSPESSOAL – A RAIVA EM SUAS MÃOS! O QUE FAZER COM A ENERGIA AGRESSIVA?



Acontecerá no dia 02 de outubro de 2006, na Associação Nipo Brasileira, Seminário Transpessoal que tem como tema principal A raiva em suas mãos.
A coordenação é do médico e terapeuta Alberto Almeida.
As inscrições podem ser feitas nas farmácias homeopáticas e maiores informações podem ser acessadas no site
www.grupoessencia.com.br
O investimento antecipado é de R$-15,00 e no local do evento R$-20,00.
Toda renda será doada para obras assistenciais da União Espírita Paraense – UEP.



JORNADA CIENTÍFICA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICO ESPÍRITA DE SÃO PAULO



Já estão abertas as inscrições para a Jornada Científica da AME/SP, que acontecerá nos dias 25 e 26 de novembro de 2006, no Hotel Braston em SP.
Serão abordados:
*Contribuição Médico Espírita à Saúde Mental
Estresse – Depressão – Mediunidade – Obsessão.
*A Morte e o Morrer
Experiência de Quase Morte – Terapia de Vivências Passadas e Cuidados Paliativos e Espiritual.
*Ciência e Espiritismo
Física Quântica e Espiritismo – A Reencarnação como Lei Biológica – Pesquisas em Saúde e Espiritualidade.
* Espiritualidade na Prática Clínica
Espiritualidade no Cuidado com o Paciente – AME a vida: do Nascer ao Morrer – Relato de Casos Clínicos.
Maiores informações no site
www.amesaopaulo.org.br


domingo, setembro 17, 2006

O Homem Amor


“Basta um minuto para fazer um herói, mas é necessária uma vida inteira para fazer um homem de bem”
(Paul Brulat, romancista francês)



Nesta semana, o maior país católico do mundo, deu uma lição de singular maturidade espiritual, reconheceu através de maciça votação, Chico Xavier como o maior brasileiro de todos os tempos. Para se ter uma idéia da expressividade da votação do médium mineiro, Ayrton Senna, o segundo colocado, atingiu pouco mais da metade da votação de Chico. Lula, o atual Presidente da República, líder das pesquisas eleitorais, não conseguiu sequer atingir 7% da votação do mais famoso espírita brasileiro.
No ano que o povo brasileiro – tão descrente da política – terá de eleger uma “nova” geração de políticos para gerir os rumos do país, a eleição de Chico é um bálsamo.
Detalhe interessante, a revista Época disponibilizou inicialmente 50 sugestões de brasileiros notáveis. Chico não estava sequer entre as sugestões da revista. Não precisou de muito tempo para a revista perceber o equívoco. Rapidamente os leitores redimiram Chico. Afinal, em eleição, a voz do povo é a voz de Deus.
Chico já tinha aprontado outra dessas. Em 2000, deixou concorrentes de peso para trás, quando foi escolhido em outra votação gigantesca o Mineiro do Século, em eleição promovida pela revista Isto É . Com 704.030 votos deixou nada menos que Santos Dumont – segundo colocado -, Pelé, Betinho, Carlos Drummond de Andrade e Juscelino Kubitschek para trás.
Desta vez, em votação paralela, uma comissão de 33 personalidades escolheu o jurista, político abolicionista e estadista Ruy Barbosa – bela escolha - como o brasileiro do século. Estranhamente, porém, a revista Época deu a capa à Ruy Barbosa, que obteve 4 votos da Comissão, desconsiderando os quase 10 mil votos recebidos por Chico Xavier, a quem coube discreta janela no canto superior direito da capa. Tudo bem, Chico nunca gostou de evidência, isso é pequeneza nossa.
Deslizes à parte, a eleição de Chico é uma homenagem à sua vida. Os pormenores da eleição do maior brasileiro da história estão na edição n. 434, de 11 de setembro da revista Época. Já algumas informações sobre a vida dessa singular personalidade, estão a seguir e são – para muitos – desconhecidas. Por isso, resolvi postar este artigo.
Afinal, conhecer a história de vida de Chico é vislumbrar do que o espírito humano é capaz. Num período em que a diferença entre bem e mal já não é tão nítida, por causa da relatividade moral, Chico é a história viva da bondade simples, pura, sem afetação ou falso heroísmo.
Para entender a importância de Chico, impõe-se que se amplie o foco e se olhe mais longe. Quando a Espiritualidade Superior antevê época de crise moral, de decadência de valores, providencia a reencarnação de espíritos fortes, dotados de dons ímpares e virtudes bem acima da média da sociedade. Mas não apenas isso. Tais espíritos devem ter granítica solidez de caráter para resistir as tentações envolventes, as armadilhas pérfidas, as mentiras pútridas, as decepções pungentes e as críticas ácidas. Nesse território inóspito, os simples mortais recuariam, desistiriam. Só os espíritos superiores resistem.
A missão é alavancar a evolução da humanidade.
Dura missão. Caminho pedregoso, cheio de espinhos e serpentes, que deve ser percorrido de peito aberto, pés descalços e carregando nos ombros o peso da desconfiança geral. Caminhada árdua e extenuante, cujo único oásis é a paz de espírito.
Não raro, o reconhecimento vem depois, muito depois. Quando vem. A compreensão completa da obra e vida demora muito mais tempo.
Uma dessas reencarnações missionárias iniciou seu curso em 1910, na pacata cidade mineira de Pedro Leopoldo. Apesar do cenário de áspera pobreza, Chico reencarnara com sorriso fácil e energia cativante, mas metido num corpo franzino, frágil. Nascia uma lenda. Podia ser mais um Chico, mas foi quem foi.
Dotado de uma mediunidade prodigiosa, apenas menor que sua humildade e disposição de fazer bem ao próximo, catalisou atenção do mundo todo, de pobres e poderosos, de crentes e céticos, arrancando de todos, ao final de sua existência, confissões surpreendentes de respeito, admiração, júbilo.
Como qualquer médium que cresce em família não espírita, sofreu preconceitos e reprimendas. Seu pai, dedicado vendedor de lotéricas, não aceitava as “esquisitices” do filho. A mãe não compreendia, mas confiava nos relatos do filho. Chico viu a irmã sofrer na pele o peso de uma mediunidade não educada. Viu sua infância passar rápida. Perdeu a mãe cedo, quando tinha apenas 5 anos. Foi entregue pelo pai à madrinha, Maria Rita, em cujas mãos sofreu sucessivas agressões e castigos.
Foi nessa época que Emmanuel se apresentou a ele como guia. Chico aceitou a missão. Emmanuel exigiu disciplina e para começo de trabalho a publicação de 30 livros. Eram os primeiros do total de 409 que deixou psicografados. Sua obra ampliou e revolucionou as informações sobre o que se conhecia sobre vida após a morte, muitas das quais foram confirmadas anos depois por experiências científicas neutras, notadamente as de Transcomunicação Instrumental – TCI, Experiências de Quase Morte – EQM e Terapia de Vidas Passadas – TVP, quase todas conduzidas por não espíritas.
O primeiro desses livros foi o impactante Parnaso do Além Túmulo, publicado em 1932. A obra trazia 59 poemas de 14 poetas já desencarnados. Todos artistas consagrados, como Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Castro Alves e Augusto dos Anjos. A comunidade literária reagiu e a polêmica durou meses, com direito à minuciosa investigação. Ao final, muitos ainda não estavam convencidos que aquele homem, filho de pais analfabetos, que tinha concluído apenas os estudos do primário não era um farsante, mas uma declaração lapidar publicada no editorial do Jornal O Estado de São Paulo descrevia o sentimento da maioria: Se Chico não recebe os textos de espíritos, deveria ter direito a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Chico sempre enfrentou perseguições e desconfiança. Céticos, religiosos, cientistas, intelectuais e oportunistas o cercavam, preparavam armadilhas para flagrá-lo, espalhavam boatos para o desacreditarem. Chico, orientado por Emmanuel, apenas seguia trabalhando.
_ O que o trabalho não resolve, eu também não resolvo Chico. Ensinava Emmanuel.
No meio da desconfiança, havia interesse também. Afinal, Chico era um médium extraordinário. Psicografava de trás pra frente, em línguas estrangeiras que não conhecia, antecipava fatos, descrevia nomes e minúcias insuspeitas de mortos e de cada história particular.
A NASA já havia investigado os dons de Chico. Em 1939, os russos mandaram cientistas para observarem o famoso médium. Propuseram uma viagem para testes em Moscou. Duraria vários meses. Chico se animou. Emmanuel, provavelmente sabedor do uso militar que a Rússia e EUA faziam desses dons, vetou a viagem. Chico insistiu que queria mostrar a pluralidade de sua mediunidade e de quebra construir casas populares com o dinheiro que ofertaram para viagem. Emmanuel foi direto.
_ Se quiser, pode ir. Eu fico.
O médium aceitou a orientação do guia e continuou trabalhando.
Chico sempre respeitou a ciência. Aliás, antecipara futuras descobertas científicas. No hermético livro Evolução em Dois Mundos adiantara, entre outras coisas, que “a matéria é luz coagulada”, conceito que fora confirmado, apenas anos depois, por Jack Sarfatti e David Bohn, cientistas americanos, no livro Space Time and Beyond.
Apesar de seus multifacetados dons, o que tornava Chico Xavier uma pessoa invulgar, única, era sua simplicidade e bondade. Podia ter ficado rico, muito rico. Afinal, foi e ainda é um best-seller. Em vida, seus mais de 400 livros só venderam menos que Jorge Amado, que já foi ultrapassado. Atualmente, Chico só perde para Paulo Coelho. São cerca de 25 milhões de exemplares vendidos. Chico renunciou em cartório os benefícios a si quanto aos direitos autorais e espalhou o bem. Fundou centenas de casas de caridade, beneficiando – segundo estimativas da Federação Espírita do Brasil – cerca de 100 mil famílias.
Mas – talvez - seu maior bem tenha sido consolar mães e pais pungidos de dor, pela perda de entes queridos. Dezenas de caravanas chegavam a cada final de semana em Uberaba e Pedro Leopoldo. Foram milhares de cartas com mensagens de entes queridos recebidas por intermédio do notável médium.
Até hoje milhares de mães e pais guardam com carinho essa benção que Chico intermediou. Algumas mensagens estão em livros e já está em produção um filme sobre mensagens que Chico recebeu.
Uma, entre tantas investigações, descobriu que 42,2% das famílias reconhecem nas mensagens o estilo dos filhos, sendo que 35% afirmam que as assinaturas são idênticas, conclusões muitas vezes confirmadas por perícias grafotécnicas. E o mais surpreendente: 100% das famílias afirmam acerto total dos dados noticiados nas mensagens. Ou seja, em nenhum dos casos investigados houve troca de nomes e sobrenomes, erro de endereços, filiações, detalhes da vida íntima, do círculo de amizades ou das causas e circunstâncias das mortes. A referida pesquisa tornou-se livro: A vida triunfa.
Nunca, repito, nunca uma única fraude.
Ressalte-se, ainda, que jamais recebeu um único centavo por causa de sua dedicação. Viveu uma vida simples, sustentada pela ínfima aposentadoria que recebia do Ministério da Agricultura.
Foi muitas vezes homenageado por seus trabalhos caritativos. Sua fama alastrou-se, apesar de sua discrição. Em 1981, mais de 2 milhões de assinaturas aderiram à campanha nacional que indicou Chico Xavier ao prêmio Nobel da Paz, coordenada pelo ex-diretor global Augusto César Vannucci. Entre os adesos estavam artistas famosos como Elis Regina, Tony Ramos e Lima Duarte. Aliás, a casa de Chico era uma peregrinação de artistas. Os cantores Roberto Carlos, Fábio Júnior, Vanusa e Wanderléia estiveram lá. Xuxa e Risoleta Neves, viúva de Tancredo Neves, também. O maior atacante da seleção brasileira de vôlei, Giba, que fora beneficiado por intervenção espiritual que lhe garantiu a carreira esportiva, também esteve com Chico, entre tantos outros.
Chico concorreu ao Nobel da Paz com João Paulo II, mas quem levou o Nobel foi o Alto Comissariado da ONU para refugiados.
Chico tinha uma energia contagiante. Não sou de muitas lágrimas, mas nunca consegui as conter quando ele aparecia na televisão. Não havia explicação, simplesmente me emocionava ao ver um gigante enclausurado naquele corpinho frágil, curvo, mas incansável.
O jornalista Marcel Souto Maior – que além de não ser espírita, é cético -, autor dos festejados livros As Vidas de Chico Xavier e Por Trás do Véu de Isis sentiu na pele o que eu sempre senti. Pouco tempo antes de Chico desencarnar, o jornalista esteve em Uberaba. Tentou falar com Chico, mas ele já estava muito debilitado e isolado por um círculo de amigos. Numa das noites na cidade, o jornalista resolveu ir até o Grupo Espírita da Prece. Para sua surpresa Chico apareceu, fato que não acontecia há tempos. Corpo abatido, caminhava amparado pelos amigos. O sorriso aberto estava lá, como sempre. De repente, Marcel Souto Maior se viu chorando descontroladamente. Não sabia o pôr que, nem conseguia parar. Parecia uma reação instintiva do corpo, tal como o movimento da respiração diante do ar. No primeiro livro seu citado acima, narra a luta contra as lágrimas “_Desabavam à minha revelia, aos borbotões, sem nenhum controle.”
Acho que quem conheceu Chico nunca praticou esportes radicais. Não precisava. Bastava estar perto de Chico, eram fortes emoções.
Quando deixou a matéria em 30 de junho de 2002, o Brasil que - comemorava o quinto título mundial de futebol – parou para chorar a perda de um ilustre brasileiro, talvez o maior de todos. Para mim foi e é, por certo. Foi decretado feriado em Uberaba e luto oficial por 3 dias no Estado de Minas Gerais. O Presidente Fernando Henrique divulgou nota oficial ressaltando o valor de Chico. O corpo do líder espírita foi velado por 120 mil pessoas e exigiu a mobilização da polícia e dos bombeiros.
Esta eleição, onde Chico Xavier foi considerado o segundo maior brasileiro de todos os tempos, impõe reflexões: como pode um homem simples, matuto do interior de Minas, filho de pais analfabetos, que nunca usou os meios de comunicação para se promover, que nunca exigiu gratidão, que fugia dos holofotes e das polêmicas, se tornar um gigante ao ponto de ser reconhecido pelo povo brasileiro mais importante que ídolos e expoentes como Ayrton Senna, Pelé, Padre Antônio Vieira, Oscar Niemeyer, Tom Jobim, José Bonifácio, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Tiradentes, Santos Dumont, Tancredo Neves, Machado de Assis, dentre tantos brasileiros que tornaram nosso país melhor. O que Chico tem a mais: Chico tornou o mundo melhor.
Óbvio que jamais aceitaria um elogio desses. Enquanto a maioria das pessoas fica mendigando elogios, reconhecimento, aplausos e gratidão, Chico Xavier se diminuía. Sempre que alguém começava a desfilar afagos, Chico desviava com bom humor: sou apenas um cisco, Cisco Xavier.
Salve Chico.

terça-feira, setembro 12, 2006

RADAR

Chico Xavier, o maior brasileiro de todos os tempos.



Pode parecer pretensão exagerada, mas este foi o resultado da eleição promovida pela revista Época, cujos detalhes estão na edição de n. 434, de 11 de setembro de 2006. A escolha foi feita pelos leitores da revista. Chico Xavier teve quase o dobro de votos do segundo colocado, Airton Senna. Rui Barbosa foi o escolhido como o maior brasileiro de todos os tempos por um grupo de pensadores. Chico deixou expoentes respeitáveis e ídolos nacionais para trás, bem atrás.
Pelo significado e relevância da eleição, o maior médium do Brasil será o tema do próximo artigo deste blog. Aguardem.



Comemorações do centenário da União Espírita Paraense.


A livraria André Luiz da União Espírita Paraense foi objeto de matéria publicada no jornal O Liberal, de domingo 10 de setembro de 2006. Falou-se um pouco sobre o centenário da UEP e da riqueza literária da livraria, que participará da Feira Pan-Amazônica do Livro, que inicia na próxima sexta-feira, dia 15. Confirmou-se, também, a data da Feira do Livro Espírita, que acontecerá no período de 2 a 10 de dezembro, na Praça da República.
Vale a pena conferir.



2º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita.


No período de 07 a 10 de setembro aconteceu o 2º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita, na Universidade Santa Cecília – Santos/SP, promovido pela Associação Brasileira de Pedagogia Espírita – ABPE. A pós-doutoroda Dora Incontri, autora de vários livros sobre a disciplina, fala sobre o Congresso na edição n. 33, desse mês, da revista Universo Espírita.

sábado, setembro 02, 2006

PERDOAR É DIFÍCIL, MAS...

“O que não me destrói me torna mais forte.”
(Martin Luther King Jr.)


Já faz mais de 10 anos, talvez 12 ou 15. O estádio Mangueirão em Belém estava absolutamente lotado. Havia cerca de 50 mil pessoas. O jogo estava sendo transmitido pela Rede Globo em rede nacional e o Remo vencia de 1 a 0 o poderoso Corinthians, então cheio de estrelas da seleção. A vitória garantiria a classificação à outra fase da Copa do Brasil. O Remo estaria entre os oito melhores times do país. O resultado era uma surpreendente zebra. Tudo era alegria na arquibancada e minha voz já faltava de tanto cantar. Por volta dos 40 minutos do segundo tempo, o Remo faz uma substituição. Entra um habilidoso atacante. Aos 48 minutos – 3 após o tempo regulamentar – um escanteio contra o Remo. A torcida não parava de cantar. Tínhamos em campo o melhor zagueiro de toda história do clube paraense e o goleiro estava num dia de gala. A lógica era: bateu o escanteio, a zaga tira a bola e o juiz acaba o jogo. Simples. A bola cruza a área e após uma rebatida sobra para o jovem e talentoso atacante que acabara de entrar. Tranqüilo – pensei – agora é só tirar. Ele dominou a bola e mais que rapidamente chutou. Um silêncio opressor tomou conta do estádio. Podia-se ouvir o coração do jovem atacante bater acelerado. Olhei pro meu irmão ao lado para confirmar e ele confuso falou: _ Não acredito! Um sussurro fúnebre ergueu-se da arquibancada perplexa. No campo o brilhante zagueiro azulinho estava com as mãos na cabeça. O goleiro de joelhos, paralisado. A bola, assustada, no fundo das redes. Infelizmente o rapaz fez um gol contra. Aliás, um golaço. Era o fim. Nunca me achei um torcedor fanático. Sempre soube perder e minha tristeza sempre foi muito superficial e passageira. Mas nesse dia estava arrasado. Era um momento especial para nosso time. A torcida fazia uma festa pacífica e linda. Como pode um atacante (que tem por função fazer gol no adversário) entrar faltando poucos minutos para o final e fazer um gol contra? Mal dormi. Acordei cedo para assistir o telejornal. Queria ouvir sua explicação, olhar nos seus olhos. Para ser sincero, queria vê-lo chorando, sofrendo, desesperado (Não, não era um obsessor, era eu mesmo). Alguns minutos depois ali estava ele, na tela, com uma tranqüilidade insuportável. “_ Infelizmente aconteceu, faz parte. Agora é bola pra frente.”. Como é que é?! Faz parte?! Bola pra frente?! Que conversa é essa! Nem uma única lágrima. Passei muito tempo lembrando aquela entrevista. Uns dois anos depois, eis que o rapaz aparece na TV. Tinha se tornado pastor evangélico. Qual foi minha reação? _ É tu tens que rezar muito mesmo para apagar teus pecados! Credo, ainda estava com raiva, tanto tempo depois. Perdão então... nem pensar.
Agora já o perdoei. Aquilo foi apenas um gol. Um acidente sim, promovido pelo nervosismo de um jovem profissional. Só isso. A inferioridade era minha, não dele.
Sei que meu caso era simples. Há transtornos, dramas e prejuízos causados por outras pessoas que envolvem situações mais sérias e complexas.
Certa vez ouvi um rapaz no Centro Espírita dizer que a felicidade passa necessariamente pelo perdão. Poucas assertivas me fizeram pensar tanto como esta. Ele tem razão.
Um dos fatores mais determinantes à evolução espiritual é o perdão. Mensagens do plano espiritual e pesquisas científicas confirmam os benefícios do perdão. Quem perdoa é leve, livre, versátil, tem um sistema imunológico mais saudável e tem índice de felicidade maior. Ao revés, quem tem muita dificuldade de perdoar é tenso, embotado, instável, adoece mais e sente-se mais infeliz.
Jesus insistiu muito sobre essa lição. Ela está em várias passagens da Bíblia. Ele sabia de nossa necessidade e, principalmente, sobre a dificuldade que muitos sentem de perdoar.
Perdoar não é um ato, uma palavra. O perdão é o final de um processo mais ou menos longo – dependendo da evolução e vontade do espírito – que culmina com uma redenção: de quem perdoa e de quem é perdoado. É a maior expressão da liberdade, pois quem perdoa liberta-se do passado e de pesos emocionais desnecessários, que com o tempo se transformam em prisão.
Esse processo inicia-se com a disposição de enfrentar o assunto. Muitas pessoas sequer cogitam a possibilidade de perdoarem seus desafetos. Fixam obsessivamente o fato que as machucou e alimentam mágoas, ressentimentos, raiva, ódio e desejos de vingança. Um calabouço, cuja chave para liberdade está à mão. Portanto, o primeiro passo é abrir-se. É experimentar, tentar superar essas barreiras emocionais, visualizar a vida que existe além dos muros do cárcere.
Mas não basta abrir-se, importante também se desarmar. Às vezes a pessoa até aceita falar a respeito, mas já tem sua opinião formada, suas verdades imutáveis, sua questão fechada, sua justificativa para não perdoar. Finge ouvir as ponderações contrárias, mas não as considera realmente. Sua inflexibilidade sabota o processo do perdão. Depois dirá que tentou, quando na verdade, nunca esteve disposto a ir em frente.
O mais importante passo é buscar compreender o que aconteceu. Não a palavra, o ato ou a situação – isoladamente - que lhe machucou. É preciso ampliar o enfoque. Voltar um pouco, nos fatos e na história das pessoas envolvidas. Lá atrás sempre se encontram motivos que explicam muita coisa, embora possa ser confortável para você dizer que “isso não justifica.”
Quem agride, desrespeita, machuca o outro está precisando de ajuda. Muitas vezes a agressão é o estágio final de uma enfermidade do espírito. Não raro é um grito pedindo apoio, atenção, socorro. Quando se procura perceber a pessoa e seus dramas – por trás do ato em si – ver-se-á que o comportamento dela, por mais reprovável que seja, tem um motivo. Pode não justificar, mas lhe dá humanidade.
Imprescindível, outrossim, é não julgar. Jesus advertiu que quem julga o outro a si próprio está julgando e estabelecendo os critérios de julgamento. Quanto mais duros formos com as faltas alheias, mas as nossas serão valorizadas no Tribunal Divino.
Fundamental é ter humildade. Muitas vezes nós que demos causa, outrora, a um início de desentendimento que, mais tarde, motivou a situação que nos desagradou, mas esquecemos e imputamos toda responsabilidade ao outro. É mais fácil, mais cômodo. Reconhecer o próprio erro é muito difícil. Mais fácil é apontar “o cisco no olho do outro.” Essa característica humana fez Confúcio, o grande mestre e filósofo chinês, lamentar: “Acho que devo abandonar as esperanças. Ainda estou para conhecer o homem que, ao ver os próprios erros, seja capaz de se criticar internamente.”
Não raro por trás da negativa de perdão há menos dano real e muito orgulho. Quase sempre é o orgulho que impede que perdoemos. Aliás, muitas vezes a pessoa até se convence que tudo foi um mal entendido ou um mal menor, mas recusa-se a “dar o braço a torcer”, prefere procurar outros motivos para manter a posição, ao invés de ser mais humilde e buscar uma reaproximação. Um pouquinho de humildade não faz mal para ninguém. Facilite a reconciliação. Interprete o pedido de desculpas ou simples sinais implícitos de gentilezas como um pedido de perdão. Para demonstrar nosso amor, não precisamos dizer eu te amo. Por que exigimos que a pessoa verbalize o pedido de perdão? Ele pode estar num sorriso amável, no silêncio respeitoso, no olhar compassivo, na gentileza gratuita. Disse o magistral escritor Machado de Assis: “Não levantes a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.”
Jesus, a quando de sua prisão, advertiu Simão Pedro para que guardasse a espada (Mateus: 26, 52 a 53): “Embainha de novo tua espada! Porque todos aqueles que usam da espada, pela espada perecerão.”
Não deixe que sua imaginação alimente suas mágoas e aumente os fatos. O ressentimento se alimenta de fatos que não ocorreram, de palavras que não foram ditas, de gestos que não se expressaram, de situações inexistentes. Vale a dica do humanista Guerdjef, que foram colocadas no Instituto Francês de Ansiedade e Stress de Paris: “Diferencie problemas reais de imaginários e elimine os imaginários, porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mais importantes.”
Jorge Luiz Borges, o mais brilhante escritor argentino, no seu belíssimo poema Instantes, também pondera: “Se eu pudesse viver novamente (...) teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.”
Em verdade, devemos valorizar nossos desafetos. Todos somos filhos de Deus. Portanto, por mais que isso lhe incomode, seu desafeto também tem procedência e a centelha divina e, não raro, tem muitas virtudes, algumas das quais você sequer desconfia e outras tantas que você ainda não adquiriu. Você pode ser mais evoluído em algumas coisas e seu desafeto bem mais evoluído que você em outras. Portanto, ele tem aspectos apreciáveis. Ele errou, mas não é o próprio erro. É preciso olhar o outro como um todo e não resumi-lo a um deslize. Noutro quadrante, muitas vezes – entenda isso – o seu desafeto está com a razão. Sim, o que ele falou ou fez machucou – talvez o jeito, o momento -, mas no fundo é pro seu bem. Aliás, poucos amigos conseguem nos melhorar tanto quanto nossos maiores inimigos. Amigos são tolerantes, os desafetos não descansam, nos forçam a melhorarmos, a buscarmos mais e, ainda, nos fazem ser mais vigilantes. É verdade que muito dessas melhoras é “só pra não dá o gostinho”, mas – apesar disso - se não fossem eles, estaríamos piores. Pela lógica, devíamos é ser gratos a esse adversários. Eles são ótimos instrumentos evolutivos.
Não sem razão, que o hábil poeta francês Vitor Hugo, assinalou com sutileza em seu festejado poema Desejo: “Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.”
Entenda que seu desafeto não precisa ser seu amigo, mas tampouco precisa ser seu inimigo mortal. Não haja de cabeça quente. Se você ainda não consegue perdoar, esqueça. Não fique valorizando, justificando seu ressentimento, pois isso só lhe dá mais força. E – em hipótese alguma – se vingue. A vingança não é um prato para se comer frio. É um compromisso para ser pagar noutra temperatura.
Não há dúvida que um dos episódios mais marcantes sobre o assunto envolve o comerciante Massataka Ota. Três homens seqüestraram e mataram – no mesmo dia - seu filho, Ives Ota, de 8 anos. O seqüestro aconteceu no dia 29 de agosto de 1997. Em 2002, o Fantástico começou a exibir um quadro chamado Hora da Verdade, onde a vítima e o criminoso eram colocados frente a frente. Massataka Ota decidiu que ia participar do programa. Queria provar para si mesmo que podia perdoar os seqüestradores e libertar-se dos sentimentos que estavam destruindo sua vida. Antes, orou muito para fortalecer-se para o momento. Dias depois ele estava frente a frente com Adelino Donizete Esteves no presídio de Avaré, onde este cumpre pena. “No momento em que fiquei frente a frente com ele, não senti raiva, simplesmente conversei. Eu disse a ele: 'É duro para um pai vir aqui. É fácil salvar um amigo, é difícil salvar um inimigo. Mas eu estou aqui pra te salvar. Eu conheci sua filha de cinco anos, e quero que você saiba que desejo para ela o contrário do que você fez com o meu filho. Quero que ela cresça, que tenha um casamento muito feliz e tenha muitos filhos. Os olhos dele começaram a lacrimejar, e aí ele me falou que ia cumprir a pena dele direitinho. Saí do presídio com o meu coração limpo.” Hoje Massataka Ota ensina: “A vingança é uma ilusão.” Pode-se dizer que ele tem as características de um homem de bem, decantadas no Capítulo XVII, item 3, do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado. É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.” Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.”
A espiritualidade superior não cansa de repetir: pague o mal com o bem. De alguma forma e em algum momento a vida lhe dará oportunidade de ser gentil, útil ou bondoso com seu desafeto. Não perca essa oportunidade. Mas não faça isso para se mostrar superior, faça como uma chance de reconstruir a relação, ainda que noutro nível. O notável Francis Bacon ensina: “A mais alta vingança de uma injúria é o esquecimento.”
Não perca tempo. O perdão nos liberta, nos alivia, tira um peso da alma e lhe traz novos horizontes. Por isso Shakespeare o glorificou: “O perdão cai como um chuva suave do céu na terra. É duas vezes bendito: bendito ao que dá e bendito ao que recebe.” Existe, à propósito, um texto belo onde Madre Tereza de Calcutar responde a perguntas diretas. Duas chamam atenção: “Qual o pior sentimento? _ O rancor. Qual o sentimento mais belo? _ O perdão.”
Certa vez um repórter perguntou à Gandhi se ele tinha perdoado um agressor. Mahatma Gandhi respondeu: _ Não perdoei. Todos ficaram surpresos e ele completou: “_ Não perdoei porque nunca me senti ofendido.”
Marco Aurélio (121-180 d.C), o imperador filósofo, que conduziu Roma a seu último período de glórias, foi vítima de uma tentativa fracassada de conspiração. Sem que soubesse, a conspiração foi descoberta, reprimida e seu mentor executado. Ficou muito triste quando soube, por ter perdido a chance de perdoar o inimigo. Quando lhe entregaram a correspondência do conspirador, ele a queimou sem lê-la e mais tarde deixou sublime lição a respeito: “Sempre que você se desentender com alguém, lembre que em pouco tempo você e outro estarão desaparecidos.”
Cada um levará consigo apenas o que fizeram de suas vidas. De muitas atitudes nos arrependeremos, de outras não. Uma destas é perdoar. Vale a citação de Malba Tahan:
“Nunca te arrependerás:- De teres freado a língua, quando pretendias dizer o que não convinha....- De teres pensado antes de falar.......- De teres perdoado aos que te fizeram mal....- De teres suportado com paciência faltas alheias....- De teres sido cortês e honesto com tudo e com todos.”
Por fim, devo confessar que também já fiz um gol contra. Para ser sincero, mais de um. Também não chorei . Na verdade, todos nós fazemos gols contra na vida. Não adianta ficar remoendo o passado. Vale a lição do ex-desafeto jogador: “bola pra frente.” (Quem diria que anos depois a mesma situação serviria como aprendizado).
Sei que é difícil, mas é preciso avançar. Fiquemos com o roteiro que o espírito André Luis nos concedeu através de Chico Xavier: “Jesus ilumina o caminho, mas quem tem que percorrê-lo somos nós.”