sábado, janeiro 31, 2009

SIM, NÓS PODEMOS TER ESPERANÇAS.


“Se tiveres de chorar por algum motivo que consideres justo, chora trabalhando, para o bem, para que as lágrimas não se te façam inúteis. Nos dias de provação, efetivamente, não seriam razoáveis quaisquer espetáculos de bom humor, entretanto, o bom ânimo e a esperança são luzes e bênçãos em qualquer lugar”.
(Chico Xavier)


Hoje vi fotos estarrecedoras de crianças vitimadas na faixa de Gaza pelo ataque de Israel. Uma delas sobressaía do cenário fúnebre e chocante de dor: um anjinho soterrado esperava ser salvo. No seu olhar havia medo e esperança. E não há nada mais comovente e dignificante do que ver a esperança vencer o medo.
Para quem está bem, a esperança é uma palavra despida de sentido prático e de significação revelante, quiçá uma pérola vocabular para ornamentar um poema. Quem está sofrendo, não se pode permitir tal luxo. Sacudido pelas procelas da dor, naufrago de si mesmo, o sofredor arregimenta seus últimos fiapos de força para agarrar-se à bóia coletiva dos sôfregos: a esperança. Este seu sentido agregador e universal mereceu, por isso, a percuciente avaliação do filósofo da antiguidade Tales de Mileto: a esperança é o único bem comum a todos os homens; aqueles que nada mais têm - ainda a possuem.
Neste início de ano, a posse de Barak Obama foi – para além de qualquer outra conotação possível – uma explosão planetária desse sentimento intrigante, última fortaleza da coragem de seguir em frente.
Hoje, Obama representa, paradoxalmente, a esperança de minorias e maiorias, de moderados e radicais, de pessoas de bem e de devotadas ao mal. Por este fato e também por ser falível, vai causar decepções. Mas vai, por certo, promover uma das experiências mais belas e plenificantes que um ser humano pode vivenciar: a transformação da esperança no júbilo da realização.
A esperança que Obama abrasou em todos os rincões do planeta apenas prova que a fúria da tempestade prepara, com suor e lágrimas, o solo para que a esperança viceje pujante. É na ausência de perspectiva, nos ensaios da impossibilidade, no sacudir do desespero que a esperança revela toda sua grandeza e altivez. É na forja do sofrimento que o trabalho esperançoso espalha luz nas trevas do medo, calor no frio da tristeza, como ensina Chico Xavier. É este sentimento divino que sustenta bilhões de pessoas no mundo, da aurora ao crepúsculo, conduzindo tantos corações chumbados de dores por entre os pântanos da dúvida até o reencontro consigo mesmo, em algum lugar do recôndito de seus espíritos.
Triste daquele que a perdeu no caminho, não só porque a deixou pra trás, mas porque crê, geralmente, que não a pode mais reencontrar. Pior situação, contudo, são dos que roubam e destroem a esperança alheia. Não suspeitam que contas têm a prestar.
Mas se há palavras e atitudes portadoras da morte espiritual, há também o efeito balsâmico na voz mansa que acalenta na hora crítica da luta, quando a alma está na horizontal, à beira da deserção:
_ Não vamos desistir, estamos com você!
Glória aos fomentadores dessa energia vital, que ressuscita ânimos abatidos, eleva o moral despedaçado e faz vibrar a alma em corpos alquebrados, espíritos cansados de insistir, acabrunhados de sofrer seguidas derrotas. É para estes que Mahatma Gandhi exortou o semear da esperança no solo árido do coração daqueles que fizeram dela seu único tesouro:
“Ensaia um sorriso e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança e vive à sua luz.
Enriquece-te de bondade e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor e fá-lo conhecer ao Mundo”.