Trata-se de uma visão de mundo sob a ótica espírita. Um espaço para estudos doutrinários, para análise crítica e reflexões cuidadosas sobre temas complexos e relevantes.
domingo, dezembro 29, 2013
A Força do Pensamento por Diversos Convidados - Programa Transição 214
Esse vídeo traz importantes abordagens sobre a força do pensamento.
Selecionei-o justamente neste momento, porque associa pensamento à mudanças, tema típico do reinício de ciclo na forma de um novo ano.
sexta-feira, novembro 15, 2013
PALAVRA BRANDA
"A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira" (Provérbios - 15:1).
Não há pais que não se
emocionem com as primeiras palavras de seus rebentos, ainda que trôpegas,
imprecisas e arranhadas.
O desabrochar da fala
humana toca-nos também porque é uma marca indelével de nossa condição humana. É
verdade que a comunicação não é atributo exclusivo dos humanos. Outros animais
também se comunicam. Contudo, apenas nossa espécie desenvolveu uma fala tão
complexa, rica e que foi e é um grande propulsor de nossa evolução.
Na medida em que
amadurecemos e nos instruímos vamos dando uso diverso as nossas palavras. Há
quem transforme palavras em música, há quem as combine em lindas poesias, há
quem as organize coerentemente na beleza atraente de grandes histórias literárias,
mas há quem apenas as use para a comunicação cotidiana, sem outras pretensões.
Mas todos nós – por motivos
e em momentos distintos – utilizamos a palavra para machucar, para agredir,
para diminuir outras pessoas, para inflamar a ira. Por um desvio evolutivo, a
palavra passou também a ser arma e das mais letais. Pode provocar danos
sucessivos, cumulativos e profundos, embora nem sempre se possa ver o sangramento
vertido em lágrimas.
E aqui o ponto.
Por que tantas pessoas
utilizam a abençoada capacidade de se comunicar para espalhar sentimentos vis,
para desequilibrar, para atacar impiedosamente outras pessoas, para suscitar a
ira?
Será esta a finalidade
da fala humana?
Por certo não.
Ao darmos uso
equilibrado à palavra, embelezamos o mundo e a nossa vida. Afinal, não é disso
que vivem os grandes artistas, pensadores, cientistas e mestres de todos os
tempos? Eles trabalham a fala para produzir arte, filosofia, ciência e
espiritualidade sublimando nossos sentidos, emoções e a razão.
Por outro lado, quando
duas pessoas se exasperam na suas falas, pode-se sentir o peso da atmosfera ao
redor e o odor fétido da fúria a impregnar palavras cortantes. As emoções
entram em ebulição, os instintos se excitam, a capacidade de pensar serenamente
entra em crise e aos poucos perde-se o controle do que está acontecendo e
também das conseqüências futuras de palavras faladas no calor da discussão.
Então, ainda que sob
ataque da fúria alheia ou do mundo, não a alimente a ira alheia com revides
inadequados e destemperados. Contenha seu instinto ao lembrar-se da sábia
lição: a resposta branda desvia o furor.
domingo, agosto 25, 2013
VEGETARIANISMO E ESPIRITISMO - UM DIÁLOGO POSSÍVEL E NECESSÁRIO
Pela primeira vez abro espaço neste blog para participação de outros escritores.
A convidada é a psicóloga - e querida amiga - Claudia Gelernter, que nos traz um excelente artigo sobre um tema pouco estudado e debatido no meio espírita.
Por dever de lealdade, devo dizer que não sou vegetariano. Sigo buscando, em transição.
Não obstante isso, o fundamento ético da proposta é granítico e precisa ser refletido.
O vídeo acima ilustra o tamanho do desafio e sua importância, complementando os argumentos de Claudia.
VEGETARIANISMO E ESPIRITISMO - UM
DIÁLOGO POSSÍVEL E NECESSÁRIO
Por Claudia Gelernter
Em se tratando de saberes e ações humanas, não existe assunto que não possa (e não deva) ser analisado sob o enfoque Espírita, uma vez que se trata de Doutrina fundamentalmente filosófica, reflexiva, profunda, evolutiva e universal.
Como comenta o Dr. André Luiz Peixinho (FEEB), se compararmos o mundo com um colar de contas, considerando que cada uma de suas peças representa os saberes humanos (Medicina, Psicologia, História, Filosofia, Arte, etc.), entenderemos que o Espiritismo não se enquadra na posição de mais uma destas contas, mas sim como o cordão que as transpassa, devendo ser considerado, portanto, ferramenta essencial para a análise de todos os fenômenos por nós produzidos, sejam eles de ordem individual, social ou ambiental.
Sendo como é [e a partir dos pressupostos que nele se encerram], o Espiritismo nos convoca a um pensamento racional, voltado à busca de respostas congruentes, de acordo com o tempo histórico que vivemos e em comunhão com as ciências e padrões ético-morais genuinamente cristãos.
Diante deste ponto fundamental, sentimo-nos impulsionados a discutir, embora que de forma ainda superficial, a questão do vegetarianismo como opção alimentar, e - mais que isso – como uma ‘filosofia de vida’.
O VEGETARIANISMO DISCUTIDO EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS
O Espiritismo nasce para o mundo em abril de 1857, através de um livro contendo perguntas e respostas, intitulado “O Livro dos Espíritos”. Nele, encontramos diversas questões, referentes aos mais variados assuntos, respondidas pelos Espíritos Superiores assim como por Allan Kardec que, de forma brilhante, enriquece a obra com seus apontamentos lúcidos, coerentes.
Considerando a alimentação um tema relevante, Kardec propõe a seguinte pergunta aos Espíritos:
723. A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza?
E os Espíritos respondem:
“Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização.”
Se analisarmos esta questão em separado de outras que se seguem e que serão destacadas mais adiante, entenderemos que é lícito – necessário, até - que o homem se alimente da carne animal a fim de conseguir as energias necessárias para a execução de seu trabalho no mundo.
Entretanto, como toda a obra Espírita genuína, não devemos e nem podemos prescindir do caráter evolutivo dela mesma. Disse Kardec que o Espiritismo deveria ser revisto e ajustado aos conhecimentos trazidos pela ciência humana, devendo caminhar de mãos dadas com ela, desde que seus axiomas [do Espiritismo] não fossem feridos.
E, quais são estes axiomas?
São, basicamente: o amor como caminho; a evolução como meta; a razão como bússola e a reencarnação como instrumento pedagógico.
Pois bem, em se tratando de questões alimentares, sabemos que a ciência da nutrição é bastante recente na história humana. Só em 1902 surgiu o Curso de nível Universitário na formação de dietistas – os precursores da nutrição - e é somente em 1946 que a Organização Mundial da Saúde (OMS), com sede em Genebra, inicia a divulgação e execução de programas específicos ligados à produção e estudos sobre alimentos, marcando o aperfeiçoamento profissional da nutrição.
Portanto, não se trata de ciência existente na época de Kardec. Sendo assim, seria impossível aos homens encarnados naquele tempo o acesso aos conhecimentos nutricionais necessários a fim de desvendarem as propriedades dos alimentos disponíveis na natureza.
Só muito recentemente esta ciência demonstrou que encontramos no reino vegetal todos os nutrientes necessários para a promoção e manutenção de nossa saúde, sendo desnecessário a uso de produtos de origem animal em nossa dieta cotidiana.
Portanto, entendemos que seria leviano da parte dos Espíritos da codificação, afirmarem que o Espiritismo condena o consumo de carne, pois as informações sobre as alternativas nutricionais eram quase inexistentes naquele tempo.
Entretanto, isso não se aplica nos dias de hoje.
Além deste fator, devemos levar em conta o nascimento de outras ciências que, assim como a nutrição, surgiram posteriormente à formação do Espiritismo e que dizem respeito ao meio ambiente.
Cabe-nos, então, seguir adiante no próprio Livro dos Espíritos, agora na questão 724 proposta por Kardec:
724. Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação?
“Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.”
Diversos estudos sobre questões ambientais têm apresentado evidencias robustas de que o consumo de carne animal acaba por gerar problemas de ordem ambiental, além de complicações físicas para o consumidor.
Em pesquisa realizada pela nutricionista Aline Martins de Carvalho, da FSP (Faculdade de Saúde Pública da USP), descobriu-se que “o consumo excessivo de carne foi verificado em grande parte da população pesquisada, com aumento significativo ao longo dos anos, relacionado com pior qualidade da dieta em homens e considerável impacto ambiental”. Concluiu ainda, que “as carnes vermelhas e processadas têm sido relacionadas com aumento do risco de câncer de cólon e reto, doenças cardiovasculares, diabetes e ganho de peso” (p. 01, 2012). Tal dissertação resultou no artigo científico “Excessive meat consumption in Brazil: diet quality and environmental impacts”, publicado na revista científica inglesa Public Health Nutrition.
O IMPACTO AMBIENTAL E O CONSUMO DE CARNE
Apontados como grandes vilões do aquecimento global, a pecuária e o consumo de carne estão sendo cada vez mais debatidos por biólogos, ambientalistas, vegetarianos, além de diversos movimentos sociais.
Em entrevista cedida ao Instituto Humanitas, o biólogo Sérgio Greiff explica que “A carne é responsável por grande impacto ambiental. Áreas naturais (florestas, matas, cerrados, campinas etc.) precisam ser devastadas para a abertura de pastos. Muitas pessoas associam a devastação nas florestas tropicais ao corte de madeira. Na verdade, a contribuição das madeireiras para essa devastação nem se compara à devastação causada pela pecuária, pois as madeireiras selecionam apenas as árvores que interessam para o corte. Já o pecuarista precisa se livrar das árvores indiscriminadamente”.
Diante destas evidências, a resposta oferecida pelos Espíritos na questão 724 de O Livro dos Espíritos coloca-nos em cheque, uma vez que deixa claro que a privação da carne em prol do coletivo é relevante, meritória.
Levando-se em conta que nos tempos de Kardec os conhecimentos sobre nutrição eram totalmente restritos, privar-se de carne consistia, portanto, em ação grandiosa, altamente altruísta. Porém, nos dias de hoje, com todos os recursos de que dispomos, entendemos que tal ação sai do âmbito da ampla generosidade para tornar-se um dever.
Além disso, realizando pequeno exercício filosófico, devemos alinhar nossos saberes com a questão de amarmos Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. [ensinamento fundamental proposto pelo Cristo como sendo o resumo da Lei e dos Profetas].
Como amar a Deus se confinamos, privamos e matamos suas criaturas pelo prazer efêmero de nosso paladar, ocasionando tantos transtornos à nossa volta?
VEGETARIANISMO E ESPIRITISMO - UM DIÁLOGO NECESSÁRIO
Outra munição frequentemente utilizada pelos Espíritas ainda defensores do carnivorismo apoia-se no fato de que o médium brasileiro Francisco Cândido Xavier consumia carne, enquanto encarnado.
Construindo suas idéias em premissas infundadas, afirmam: “Chico Xavier era carnívoro e Hitler era vegetariano, então...”
Com relação a esta situação, temos alguns pontos a considerar.
Primeiramente, necessário compreender que Hitler não se tornou vegetariano por questões morais, mas sim por conta de um problema de saúde, na área gástrica, segundo seus biógrafos. Conta-se, ainda que ele “roubava” carne da cozinha, costumeiramente, o que denota seu conflito nesta questão.
Quanto ao médium, faz-se necessário separar a obra ditada pelos Espíritos de suas ações, pois temos, ao longo de seus escritos mediúnicos, inúmeros apontamentos em defesa do vegetarianismo.
Vejamos:
O Espírito Irmão X, em seu texto intitulado “Preparação para a Morte”, buscando cooperar com os irmãos que logo mais atravessarão os portões do além túmulo, inicia dizendo sobre a necessidade primordial de nos abstermos do consumo de produtos de origem animal a fim de facilitarmos nosso ingresso no Plano Espiritual. Recomendou-nos ele:
“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia.
Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais.
O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição.
O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.”
No livro Missionários da Luz, capítulo 4, o Espírito André Luiz, descreve o ambiente de um matadouro aos leitores, dizendo estar junto de Alexandre, um benevolente instrutor, que o faz compreender a questão do vampirismo espiritual, naquele caso resultante das ações criminosas dos homens junto aos animais. Comenta o instrutor de André que no futuro da humanidade o estábulo será tão sagrado quanto um lar terrestre.
Entretanto, comenta que na atualidade, infelizmente “Os seres inferiores e necessitados do Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis”.
Oras, nem poderia ser de outra forma, dada a maneira como tratamos estes seres.
Alexandre continua seus ensinamentos, afirmando que nossos irmãos animais “aceitam o cutelo no matadouro, quase sempre com lágrimas de aflição, incapazes de discernir com o raciocínio embrionário onde começa a nossa perversidade e onde termina a nossa compreensão”.
E, colocando-nos de frente com a questão paradoxal que nos envolve a existência, comenta:
“Se não protegemos nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como germens frágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusarmos largamente de sua incapacidade de defesa e conservação, como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?”
Neste ponto nevrálgico, relembramos a Oração Pela Paz, atribuída ao querido Francisco de Assis, que nos convoca a sermos instrumentos de paz, de amor.
Parece-nos impossível conseguirmos apoio do mais alto se nos posicionamos nas esferas mais baixas da vida.
E, colocando-nos a par sobre nosso papel diante desta urgente questão, afirmou que “(...) na qualidade de filhos endividados para com Deus e a Natureza, devemos prosseguir no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos, para a nova era em que os homens cultivarão o solo da Terra por amor e utilizar-se-ão dos animais, com espírito de respeito, educação e entendimento”.
Neste trecho fica explicito a convocação ao trabalho de educação dos seres, levando as informações de que dispomos, a fim de alterarmos o cenário no mundo.
Prosseguindo com nossos estudos, citaremos agora o Espírito Emmanuel, no livro “O Consolador”, com suas explicações que, por serem longas, porém necessárias, serão copiadas abaixo, na íntegra:
“A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana.
É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esse valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.
Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores.”
Poderíamos destacar ainda outros trechos de textos assinados por Espíritos que ditaram suas idéias através de Francisco Candido Xavier, porém consideramos desnecessário, uma vez que praticamente todos buscaram nos impulsionar para a mesma direção – a do vegetarianismo consciente.
Entendemos, ainda, que o fato de ter consumido carne durante sua última existência, em nada diminuiu a grandeza do trabalho realizado por Francisco Cândido Xavier, que deixou certamente vasto legado de informações e exemplos superiores.
Cabe-nos, entretanto, como nos ensinava o mestre comum, Allan Kardec, seguir adiante, de mãos dadas com os novos saberes que nos são apresentados, reforçados e confirmados por diversas áreas do conhecimento humano.
Ademais, como destacado anteriormente, o Espiritismo, em seu aspecto moral de justiça, amor e caridade, sempre condenou os excessos. Uma vez comprovada a não necessidade da morte do animal para nosso sustento, devemos trilhar outros caminhos, mais sensatos, corretos, éticos.
Por fim, compreendemos que a evolução do planeta passa, invariavelmente, pela questão alimentar.
Este salto, importante e fundamental, ocorrerá a partir da mudança de cada um, reconhecendo nos animais o próprio Criador em sua expressão de amor e benevolência.
E então, congruentes com a Lei Maior, certamente trilharemos por caminhos mais tranquilos, repletos de cooperação e crescimento.
Trabalhemos por isso!
Claudia Gelernter
claudiagelernter@uol.com.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CARVALHO, A. M.; Tendência temporal do consumo de carne no município de São Paulo: estudo de base populacional – ISA Capital 2003/2008; dissertação de mestrado; FSP – USP; 2012. Disponível em http://www5.usp.br/17464/estudo-da-fsp-relaciona-consumo-excessivo-de-carne-com-impacto-ambiental/acessado em 21 de agosto de 2013.
HUMANITAS; O impacto ambiental do consumo de carne. Entrevista especial com Sérgio Greif e depoimento de Sonia Montaño, disponível em http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/10451-o-impacto-ambiental-do-consumo-de-carne-entrevista-especial-com-sergio-greif-e-depoimento-de-sonia-montano, acessado em 19 de agosto de 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, FEB, Rio de Janeiro, 1994 – Questões 723 3 724.
XAVIER, F. C.; O Consolador, por Emmanuel, Ed FEB, Rio de Janeiro, 21ª edição, 1998.
_____________ Missionários da Luz, Espírito Andre Luiz, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 2005.
_____________ Treino para a Morte, Espírito Irmão X, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 2002.
Em se tratando de saberes e ações humanas, não existe assunto que não possa (e não deva) ser analisado sob o enfoque Espírita, uma vez que se trata de Doutrina fundamentalmente filosófica, reflexiva, profunda, evolutiva e universal.
Como comenta o Dr. André Luiz Peixinho (FEEB), se compararmos o mundo com um colar de contas, considerando que cada uma de suas peças representa os saberes humanos (Medicina, Psicologia, História, Filosofia, Arte, etc.), entenderemos que o Espiritismo não se enquadra na posição de mais uma destas contas, mas sim como o cordão que as transpassa, devendo ser considerado, portanto, ferramenta essencial para a análise de todos os fenômenos por nós produzidos, sejam eles de ordem individual, social ou ambiental.
Sendo como é [e a partir dos pressupostos que nele se encerram], o Espiritismo nos convoca a um pensamento racional, voltado à busca de respostas congruentes, de acordo com o tempo histórico que vivemos e em comunhão com as ciências e padrões ético-morais genuinamente cristãos.
Diante deste ponto fundamental, sentimo-nos impulsionados a discutir, embora que de forma ainda superficial, a questão do vegetarianismo como opção alimentar, e - mais que isso – como uma ‘filosofia de vida’.
O VEGETARIANISMO DISCUTIDO EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS
O Espiritismo nasce para o mundo em abril de 1857, através de um livro contendo perguntas e respostas, intitulado “O Livro dos Espíritos”. Nele, encontramos diversas questões, referentes aos mais variados assuntos, respondidas pelos Espíritos Superiores assim como por Allan Kardec que, de forma brilhante, enriquece a obra com seus apontamentos lúcidos, coerentes.
Considerando a alimentação um tema relevante, Kardec propõe a seguinte pergunta aos Espíritos:
723. A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza?
E os Espíritos respondem:
“Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização.”
Se analisarmos esta questão em separado de outras que se seguem e que serão destacadas mais adiante, entenderemos que é lícito – necessário, até - que o homem se alimente da carne animal a fim de conseguir as energias necessárias para a execução de seu trabalho no mundo.
Entretanto, como toda a obra Espírita genuína, não devemos e nem podemos prescindir do caráter evolutivo dela mesma. Disse Kardec que o Espiritismo deveria ser revisto e ajustado aos conhecimentos trazidos pela ciência humana, devendo caminhar de mãos dadas com ela, desde que seus axiomas [do Espiritismo] não fossem feridos.
E, quais são estes axiomas?
São, basicamente: o amor como caminho; a evolução como meta; a razão como bússola e a reencarnação como instrumento pedagógico.
Pois bem, em se tratando de questões alimentares, sabemos que a ciência da nutrição é bastante recente na história humana. Só em 1902 surgiu o Curso de nível Universitário na formação de dietistas – os precursores da nutrição - e é somente em 1946 que a Organização Mundial da Saúde (OMS), com sede em Genebra, inicia a divulgação e execução de programas específicos ligados à produção e estudos sobre alimentos, marcando o aperfeiçoamento profissional da nutrição.
Portanto, não se trata de ciência existente na época de Kardec. Sendo assim, seria impossível aos homens encarnados naquele tempo o acesso aos conhecimentos nutricionais necessários a fim de desvendarem as propriedades dos alimentos disponíveis na natureza.
Só muito recentemente esta ciência demonstrou que encontramos no reino vegetal todos os nutrientes necessários para a promoção e manutenção de nossa saúde, sendo desnecessário a uso de produtos de origem animal em nossa dieta cotidiana.
Portanto, entendemos que seria leviano da parte dos Espíritos da codificação, afirmarem que o Espiritismo condena o consumo de carne, pois as informações sobre as alternativas nutricionais eram quase inexistentes naquele tempo.
Entretanto, isso não se aplica nos dias de hoje.
Além deste fator, devemos levar em conta o nascimento de outras ciências que, assim como a nutrição, surgiram posteriormente à formação do Espiritismo e que dizem respeito ao meio ambiente.
Cabe-nos, então, seguir adiante no próprio Livro dos Espíritos, agora na questão 724 proposta por Kardec:
724. Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação?
“Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.”
Diversos estudos sobre questões ambientais têm apresentado evidencias robustas de que o consumo de carne animal acaba por gerar problemas de ordem ambiental, além de complicações físicas para o consumidor.
Em pesquisa realizada pela nutricionista Aline Martins de Carvalho, da FSP (Faculdade de Saúde Pública da USP), descobriu-se que “o consumo excessivo de carne foi verificado em grande parte da população pesquisada, com aumento significativo ao longo dos anos, relacionado com pior qualidade da dieta em homens e considerável impacto ambiental”. Concluiu ainda, que “as carnes vermelhas e processadas têm sido relacionadas com aumento do risco de câncer de cólon e reto, doenças cardiovasculares, diabetes e ganho de peso” (p. 01, 2012). Tal dissertação resultou no artigo científico “Excessive meat consumption in Brazil: diet quality and environmental impacts”, publicado na revista científica inglesa Public Health Nutrition.
O IMPACTO AMBIENTAL E O CONSUMO DE CARNE
Apontados como grandes vilões do aquecimento global, a pecuária e o consumo de carne estão sendo cada vez mais debatidos por biólogos, ambientalistas, vegetarianos, além de diversos movimentos sociais.
Em entrevista cedida ao Instituto Humanitas, o biólogo Sérgio Greiff explica que “A carne é responsável por grande impacto ambiental. Áreas naturais (florestas, matas, cerrados, campinas etc.) precisam ser devastadas para a abertura de pastos. Muitas pessoas associam a devastação nas florestas tropicais ao corte de madeira. Na verdade, a contribuição das madeireiras para essa devastação nem se compara à devastação causada pela pecuária, pois as madeireiras selecionam apenas as árvores que interessam para o corte. Já o pecuarista precisa se livrar das árvores indiscriminadamente”.
Diante destas evidências, a resposta oferecida pelos Espíritos na questão 724 de O Livro dos Espíritos coloca-nos em cheque, uma vez que deixa claro que a privação da carne em prol do coletivo é relevante, meritória.
Levando-se em conta que nos tempos de Kardec os conhecimentos sobre nutrição eram totalmente restritos, privar-se de carne consistia, portanto, em ação grandiosa, altamente altruísta. Porém, nos dias de hoje, com todos os recursos de que dispomos, entendemos que tal ação sai do âmbito da ampla generosidade para tornar-se um dever.
Além disso, realizando pequeno exercício filosófico, devemos alinhar nossos saberes com a questão de amarmos Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. [ensinamento fundamental proposto pelo Cristo como sendo o resumo da Lei e dos Profetas].
Como amar a Deus se confinamos, privamos e matamos suas criaturas pelo prazer efêmero de nosso paladar, ocasionando tantos transtornos à nossa volta?
VEGETARIANISMO E ESPIRITISMO - UM DIÁLOGO NECESSÁRIO
Outra munição frequentemente utilizada pelos Espíritas ainda defensores do carnivorismo apoia-se no fato de que o médium brasileiro Francisco Cândido Xavier consumia carne, enquanto encarnado.
Construindo suas idéias em premissas infundadas, afirmam: “Chico Xavier era carnívoro e Hitler era vegetariano, então...”
Com relação a esta situação, temos alguns pontos a considerar.
Primeiramente, necessário compreender que Hitler não se tornou vegetariano por questões morais, mas sim por conta de um problema de saúde, na área gástrica, segundo seus biógrafos. Conta-se, ainda que ele “roubava” carne da cozinha, costumeiramente, o que denota seu conflito nesta questão.
Quanto ao médium, faz-se necessário separar a obra ditada pelos Espíritos de suas ações, pois temos, ao longo de seus escritos mediúnicos, inúmeros apontamentos em defesa do vegetarianismo.
Vejamos:
O Espírito Irmão X, em seu texto intitulado “Preparação para a Morte”, buscando cooperar com os irmãos que logo mais atravessarão os portões do além túmulo, inicia dizendo sobre a necessidade primordial de nos abstermos do consumo de produtos de origem animal a fim de facilitarmos nosso ingresso no Plano Espiritual. Recomendou-nos ele:
“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia.
Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais.
O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição.
O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.”
No livro Missionários da Luz, capítulo 4, o Espírito André Luiz, descreve o ambiente de um matadouro aos leitores, dizendo estar junto de Alexandre, um benevolente instrutor, que o faz compreender a questão do vampirismo espiritual, naquele caso resultante das ações criminosas dos homens junto aos animais. Comenta o instrutor de André que no futuro da humanidade o estábulo será tão sagrado quanto um lar terrestre.
Entretanto, comenta que na atualidade, infelizmente “Os seres inferiores e necessitados do Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis”.
Oras, nem poderia ser de outra forma, dada a maneira como tratamos estes seres.
Alexandre continua seus ensinamentos, afirmando que nossos irmãos animais “aceitam o cutelo no matadouro, quase sempre com lágrimas de aflição, incapazes de discernir com o raciocínio embrionário onde começa a nossa perversidade e onde termina a nossa compreensão”.
E, colocando-nos de frente com a questão paradoxal que nos envolve a existência, comenta:
“Se não protegemos nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como germens frágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusarmos largamente de sua incapacidade de defesa e conservação, como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?”
Neste ponto nevrálgico, relembramos a Oração Pela Paz, atribuída ao querido Francisco de Assis, que nos convoca a sermos instrumentos de paz, de amor.
Parece-nos impossível conseguirmos apoio do mais alto se nos posicionamos nas esferas mais baixas da vida.
E, colocando-nos a par sobre nosso papel diante desta urgente questão, afirmou que “(...) na qualidade de filhos endividados para com Deus e a Natureza, devemos prosseguir no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos, para a nova era em que os homens cultivarão o solo da Terra por amor e utilizar-se-ão dos animais, com espírito de respeito, educação e entendimento”.
Neste trecho fica explicito a convocação ao trabalho de educação dos seres, levando as informações de que dispomos, a fim de alterarmos o cenário no mundo.
Prosseguindo com nossos estudos, citaremos agora o Espírito Emmanuel, no livro “O Consolador”, com suas explicações que, por serem longas, porém necessárias, serão copiadas abaixo, na íntegra:
“A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana.
É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esse valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.
Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores.”
Poderíamos destacar ainda outros trechos de textos assinados por Espíritos que ditaram suas idéias através de Francisco Candido Xavier, porém consideramos desnecessário, uma vez que praticamente todos buscaram nos impulsionar para a mesma direção – a do vegetarianismo consciente.
Entendemos, ainda, que o fato de ter consumido carne durante sua última existência, em nada diminuiu a grandeza do trabalho realizado por Francisco Cândido Xavier, que deixou certamente vasto legado de informações e exemplos superiores.
Cabe-nos, entretanto, como nos ensinava o mestre comum, Allan Kardec, seguir adiante, de mãos dadas com os novos saberes que nos são apresentados, reforçados e confirmados por diversas áreas do conhecimento humano.
Ademais, como destacado anteriormente, o Espiritismo, em seu aspecto moral de justiça, amor e caridade, sempre condenou os excessos. Uma vez comprovada a não necessidade da morte do animal para nosso sustento, devemos trilhar outros caminhos, mais sensatos, corretos, éticos.
Por fim, compreendemos que a evolução do planeta passa, invariavelmente, pela questão alimentar.
Este salto, importante e fundamental, ocorrerá a partir da mudança de cada um, reconhecendo nos animais o próprio Criador em sua expressão de amor e benevolência.
E então, congruentes com a Lei Maior, certamente trilharemos por caminhos mais tranquilos, repletos de cooperação e crescimento.
Trabalhemos por isso!
Claudia Gelernter
claudiagelernter@uol.com.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CARVALHO, A. M.; Tendência temporal do consumo de carne no município de São Paulo: estudo de base populacional – ISA Capital 2003/2008; dissertação de mestrado; FSP – USP; 2012. Disponível em http://www5.usp.br/17464/estudo-da-fsp-relaciona-consumo-excessivo-de-carne-com-impacto-ambiental/acessado em 21 de agosto de 2013.
HUMANITAS; O impacto ambiental do consumo de carne. Entrevista especial com Sérgio Greif e depoimento de Sonia Montaño, disponível em http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/10451-o-impacto-ambiental-do-consumo-de-carne-entrevista-especial-com-sergio-greif-e-depoimento-de-sonia-montano, acessado em 19 de agosto de 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, FEB, Rio de Janeiro, 1994 – Questões 723 3 724.
XAVIER, F. C.; O Consolador, por Emmanuel, Ed FEB, Rio de Janeiro, 21ª edição, 1998.
_____________ Missionários da Luz, Espírito Andre Luiz, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 2005.
_____________ Treino para a Morte, Espírito Irmão X, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 2002.
terça-feira, julho 30, 2013
UMA LINDA LIÇÃO SOBRE MORRER E VIVER
Gostaria
de dizer para você que viva como quem
sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito.
(Chico
Xavier)
Em
2009, Zach Sobiech era um adolescente de 14 anos, da cidade de Lakeland, no
estado de Minesota, Estados Unidos, quando foi diagnosticado com um câncer raro
nos ossos, mais comum em crianças.
Seu
tratamento envolveu 10 cirurgias e 20 sessões de quimioterapia. Não obstante o
esforço, em março de 2012, os médicos tinham chegado ao limite do tratamento
disponível. Ou seja, Zach – então com 17 anos – só teria mais um ano de vida.
O
menino teve, então, de enfrentar um dilema para o qual ninguém está realmente
preparado: o que fazer com seu último ano de vida?
O documentário
acima mostra qual atitude que Zach escolheu e porque ele se tornou um sucesso
mundial com sua música “Clouds”, que em poucas semanas se tornou um viral no
Youtube e ultrapassou 4 milhões de visualizações, tendo, inclusive, ganhado
versões cover de sua música de despedida, cantadas por celebridades americanas.
Segue
trecho da música, em tradução livre:
We could go up, up, up (nós poderíamos ir pro
alto, alto, alto)
And take that little ride (e dar aquele passeio)
And sit there holding hands
(e sentar aqui dando as mãos)
And everything would be
just right (e tudo ficaria bem)
And maybe someday i’ll see you again (e talvez
algum dia eu te verei de novo)
We’ll float up in the
clouds and we’ll never see the end (vamos flutuar nas nuvens e nunca veremos
o fim)
And we’ll go up, up, up (e
iremos pro alto, alto, alto)
But i’ll fly a little higher (mas eu vou voar um
pouco mais alto)
We’ll go up in the clouds because the view is a
little nicer (vamos por cima das nuvens, porque a vista de lá é melhor)
Up here my dear (porque aqui, meu amor)
It won’t be long now, it won’t be long now (não
vai durar muito, não vai mais durar muito)
O
jovem Zach deixou a matéria em 20 de maio de 2013 e um valioso testemunho sobre
morrer e viver para os que ficam.
Poderia
discorrer longamente sobre vários aspectos dessa bela história. Mas os leitores
deste blog saberão refletir com os vídeos acima. Até porque o exemplo é mais
forte que as palavras.
domingo, julho 28, 2013
HERMÍNIO C MIRANDA: UM PENSADOR DIFERENCIADO.
A razão escraviza todas as mentes que
não são suficientemente fortes para a dominarem.
Os estudiosos do
Espiritismo ainda sentem a perda recente de um dos mais profícuos pensadores
espíritas: Hermínio C. Miranda, que desencarnou em 08 de julho de 2013, aos 93 anos.
Em minha avaliação
pessoal – obviamente limitada e sujeita a erro – coloco-o ombreando pensadores
de escol como os saudosos Herculano Pires e Hernani Guimarães Andrade. Não que
estes sejam melhores do que tantos outros talentosos e brilhantes. São apenas
diferentes, pela forma como construíram suas obras, todas alicerçadas em vastas
pesquisas, experimentações e pontuadas com legítima originalidade, fugindo do
lugar-comum para flertar com a vanguarda das possibilidades, das novas
descobertas, de novéis especulações filosóficas e doutrinárias, sem perder
conexão com a essência da doutrina.
Por isso, não poderia
deixar de consignar esta singela homenagem a este ser humano que tão bem
cumpriu sua missão nesta existência.
Desde a primeira obra
que li desse autor, logo percebi que se tratava de um escritor diferenciado.
Arguto em suas percepções, detentor de um refinado tirocínio que o habilitou a desenvolver
um sólido senso crítico, a construir argumentos judiciosos e reconstruir
histórias como poucos.
Profundo conhecedor das
minúcias da mediunidade, foi referência teórica para milhares de médiuns e
estudiosos.
Ganhou meu respeito,
também, por nunca ter ficado confinado nos limites de sua área central de
conhecimento. Transitava bem por outras áreas, não raro indo empoderar-se de sabedoria
em literatura estrangeira, quase sempre desconhecida aqui, aspecto este que o
fez trilhar também na senda de traduções para compartilhar tesouros com seus
leitores e estudiosos.
Nunca buscou destaque,
trabalhou silenciosamente como um escritor sério, compenetrado e versátil,
fluindo espantosamente bem entre temas tão diversos, que só um conhecimento
enciclopédico permite.
Segundo a Wikipédia[1], eis os títulos de sua
obra:
·
A dama da noite (coleção "Histórias que os
espíritos contaram")
·
A irmã do vizir (coleção "Histórias que os
espíritos contaram")
·
A memória e o tempo
·
A reencarnação na Bíblia
·
A reinvenção da morte (incorporada ao
livro As duas faces da vida)
·
Alquimia da mente
·
As duas faces da vida
·
As mãos de minha irmã (coleção
"Histórias que os espíritos contaram", anteriormente intitulado Histórias
que os espíritos contaram)
·
As marcas do Cristo, publicada em dois
volumes
·
As mil faces da realidade espiritual
·
As sete vidas de Fénelon (série
"Mecanismos secretos da história")
·
Autismo, uma leitura espiritual
·
Candeias na noite escura
·
Condomínio espiritual
·
Cristianismo: a mensagem esquecida
·
Diálogo com as sombras
·
Diversidade dos carismas
·
Eu sou Camille Desmoulins (com Luciano dos
Anjos), publicada também em francês com o título Je suis
Camille Desmoulins
·
Guerrilheiros da intolerância
·
Hahnemann, o apóstolo da medicina espiritual
·
Lembranças do futuro (incorporada ao
livro As duas faces da vida)
·
Memória cósmica
·
Nas fronteiras do além
·
Nossos filhos são espíritos
·
O estigma e os enigmas
·
O evangelho gnóstico de Tomé
·
O exilado (coleção "Histórias que os
espíritos contaram")
·
O pequeno laboratório de Deus (anteriormente
intitulada Negritude e genealidade)
·
O que é fenômeno anímico (série
"Começar")
·
O que é fenômeno mediúnico (série
"Começar")
·
Os cátaros e a heresia católica
·
Reencarnação e imortalidade
·
Sobrevivência e comunicabilidade dos espíritos
·
Swedenborg, uma análise crítica
Além destas, Herminio traduziu e
comentou as seguintes obras:
·
A história triste, publicada em três volumes (de Patience Worth,
psicografado por Pearl Lenore Curran)
Por certo, a espiritualidade está em festa.
Que ele nos inspire e
que outros sigam seu exemplo de amor ao estudo e ao Espiritismo.
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HERMÍNIO C MIRANDA,
PENSADOR ESPÍRITA
segunda-feira, março 04, 2013
FILOSOFIA ESPÍRITA
“Sua força está na sua
filosofia, no apelo que faz à razão e ao
bom senso.” (Allan Kardec, Conclusão, Livro dos Espíritos)
O Espiritismo tem
tríplice aspecto: o religioso, o científico e o filosófico.
Já tivemos grandes
expoentes no âmbito religioso como Chico Xavier, no científico como Hernani
Guimarães Andrade e no filosófico como J. Herculano Pires.
Como se sabe, no Brasil
o aspecto religioso vicejou.
Os aspectos científico e
filosófico nem tanto.
E isso tem tido alguns
efeitos negativos.
Nenhum demérito ao
aspecto religioso. É imprescindível, essencial, belo. Ou seja, a questão não é
diminuir a aspecto religioso, é investir no desenvolvimento dos outros
aspectos.
A ciência dá potência à
pesquisa. A filosofia à razão.
São olhos da mente.
Sem pesquisa e sem
razão, o Espiritismo perde muito de seu formato original, de sua peculiaridade
inovadora e revolucionária.
Não só.
Abre espaço para a
expansão de uma religiosidade vulnerável, inclusive a fanatismos e misticismos.
Impede, por outro lado, o desenvolvimento do pensamento crítico e de avanços em
áreas importantes do conhecimento humano, no ponto de interseção da ciência e
da espiritualidade.
Será que os espíritas
conhecem a fundo obra de Hernani Guimarães Andrade ou a de J. Herculano Pires?
Será que conhecemos o pensamento filosófico de Sócrates e Platão, colaboradores
da codificação no plano espiritual?
Temos de debater sobre
filosofia e ciência dentro dos centros espíritas e penso que não podemos cair
na tentação de intelectualismos abstratos. Vale, neste ponto, a máxima estóica:
“conhecimento sem ação transforma-se em vaidade.” Convém, portanto, avançarmos
na sistematização da filosofia e ciência espírita e conectá-la à vida prática,
aos acontecimentos e às tendências.
Quando um terrorista for
submetido à tortura é preciso que o espírita tenha a capacidade de refletir
criticamente sobre o fato. O mesmo vale para crianças que assaltam, para robôs
que matam e para pesquisas sobre a crise ambiental ou sobre experiências de
quase morte.
A reflexão crítica só
pode ser completa se integrar os três aspectos. Angular o problema pelo prisma
espiritual, pelo filosófico e pelo científico.
O espírita não pode se
tornar um mero repetidor do que lhe dizem. Um crente ignorante da fé que
professa. Precisa aprender a pensar por si mesmo, a ser realmente racional para
que sua fé seja também sua convicção.
Não há como resolver o
problema das distorções à doutrina, da falta de conteúdo ou da resistência de
se ler livros mais densos sobre filosofia e ciência espírita, sem avançarmos na
atenção dos aspectos filosóficos e científicos da doutrina.
Pensemos nisso.
Afinal, ensinou Kardec: fé
inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face em qualquer época da
humanidade.
Mas como encará-la sem
os olhos da mente...?
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