domingo, agosto 31, 2008

CAUSALIDADE: VIDA EM CONSTRUÇÃO

“A sua existência na Terra é um livro que estás escrevendo.” (Emmanuel, por Chico Xavier)




Nada está isolado.
Estamos mergulhados em um oceano de vibrações que se agitam sob o comando de nossos pensamentos e emoções. Mais que isso. Cada um de nós está atado a todos. O outro é nossa contra-face, é o espelho que faz refletir os efeitos que direcionamos a ele. Isso vale para o bem e para o mal.
Todas as grandes tradições espirituais revelam, por trás de seus dogmas e rituais, a verdadeira identidade do universo: retributividade, que encontra na singela fala do Mestre Jesus sua explicação exata: “a cada um segundo suas obras”, ou ,noutro dizer,”a semeadura é livre, mas e colheita é obrigatória”.
Intérpretes desavisados viram nestas passagens a certeza que Deus fica nos julgando o tempo todo. É preciso crer, para ser assim, que o universo não tem leis estáveis, mas contínuos juízes divinos, cheios de subjetividade e, por isso, passíveis de injustiça, conforme se mude a perspectiva de análise dos fatos.
O universo é regido por leis imutáveis e justas, porque são de origem divina, pura. Dentre tais leis, está a lei de causa e efeito que explica o mecanismo de retributividade que programa, dá movimento, intensidade e direção aos efeitos provocados por nossos pensamentos, emoções, ações e omissões. Eis o fluxo de causalidade que nos liga ao passado e forja, a cada instante, o futuro.
Quer isso dizer que a todo momento estamos recebendo como eco do passado os efeitos de atos praticados- nesta ou noutra encarnação-, bem como estamos a cada instante, desenhando nosso futuro com o nosso comportamento atual.Ou seja, somos reflexos de ontem e projetos do amanhã. Nossos atos ecoam na eternidade, semeando felicidade onde o bem planta luz ou plantando sofrimento onde o mal semeia trevas. Em suma: não existe causalidade cega ou, noutra dicção, o acaso não existe. O sempre brilhante Léon Denis[1] ensina:

“Cada um desses atos, cada uma das volições do nosso pensamento, segundo a força que os impulsiona, executa sua evolução e volta com os seus efeitos, bons ou maus, para a fonte que os produziu. O mal, do mesmo modo que o bem, torna ao seu ponto de partida em razão da afinidade de sua substância.”

Inconscientes do funcionamento do universo, hesitamos perturbados e confusos quando ruge a tempestade, viciados na equivocada cultura de se preocupar com os efeitos, sem estudar suas causas.
Pragmaticamente. Espiritualizar-se é não gerar causas negativas e, simultaneamente, semear luz. Por isso, o Rabi sempre advertia os que se beneficiavam com suas curas: ”não voltes a pecar (gerar causas negativas), para que algo pior não te aconteça”.

A respeito da causalidade, o Dalai-Lama[2] ensina com simplicidade:

“No budismo, o princípio da causalidade é aceito como uma lei natural. Ao lidar com a realidade, é preciso levar essa lei em consideração. Por exemplo, no caso de experiências do dia-a-dia, se houver certos tipos de acontecimentos que a pessoa não deseje, o melhor método de garantir que tais acontecimentos não ocorram consiste em certificar-se de que não mais se dêem as condições causais que normalmente propiciam aquele acontecimento. De modo análogo, caso se deseje que ocorra um acontecimento ou experiência específica, a atitude lógica a tomar consiste em procurar e acumular as causas e condições que dêem ensejo a ele.
O mesmo vale para experiências e estados mentais. Quem deseja a felicidade deveria procurar as causas que a propiciam; e se não desejamos o sofrimento, o que deveríamos fazer é nos certificarmos de que as causas e condições que lhe dariam ensejo não mais se manifestem. É muito importante uma apreciação desse princípio causal.”

Ou seja, de nada adianta querer fugir da dor e do sofrimento se não eliminarmos as causas. Descobri-las e combatê-las é indispensável. Não apenas isso, temos de semear luz e felicidade. Eis a mensagem de esperança ensinada pelo Cristo: “_ Ajuda-te e o céu te ajudará.”



[1] DENIS, Léon. Depois da Morte. Editora FEB. 22ª Edição, pg. 238.
[2] LAMA, Dalai. A Arte da Felicidade, editora Martins Fonte, 2000, pg. 43.