terça-feira, novembro 21, 2006

RADAR




PENA OU COMPAIXÃO


Na Revista Universo Espírita deste mês, edição n. 35, foi publicado o artigo Pena ou Compaixão, deste articulista, onde é abordada a diferença entre as duas propostas e respectivas conseqüências. Vale conferir.


3º ENCONTRO AME CEARÁ: “Bioética e Epiritismo”

Nos dias 17, 18 e 19 de novembro próximo, acontecerá, em Fortaleza, o 4º Encontro das AMEs Nordeste e o 3º Encontro da AME Ceará, com o tema "Bioética e Epiritismo".
O evento contará com a presença da Dra. Marlene Nobre(AME Brasil) e do Dr. Gilson Luís Roberto (AME-RS), além dos dirigentes das AMEs Nordeste.Saiba mais:Telefone: (85) 3243-7735 E-mail:
www.amesaopaulo.org.brE-mail: jornada@amesaopaulo.org.br






POR UM MUNDO MELHOR


10 ANOS DE SOCIEDADE ALTERNATIVA

Este final de semana a ONG Sociedade Alternativa comemora 10 anos de muitas histórias belas. Como voluntário, tive a honra de vê-la crescer e ganhar respeitabilidade. A Sociedade Alternativa já trabalhou com portadores de HIV, com idosos, hansenianos, com crianças, com moradores de lixão e de rua e agora investe em adolescentes de Ananindeua através do Projeto Sementes de Cidadania, onde são ministradas palestras, esporte e curso de informática. Tudo é gratuito e todos os trabalhadores são voluntários. A ONG não recebe verba pública, não tem vinculação política, ideológica ou religiosa, mas é muito abençoada por Deus. Abaixo está transcrita na íntegra uma das cartas, de uma jovem (Thayanna) que participa do projeto Sementes de Cidadania, que fala sobre o trabalho.

Carta da jovem Thayanna

“Caros bem feitores da S.A é com grande alegria que escrevo para dá parabéns pelos 10 anos de esforços de todos vocês, pelo trabalho maravilhoso que fizeram e fazem durante esses 10 anos. Participo desse projeto faz 1 ano mas nesse pequeno período pode perceber o quanto o coração de todos vocês é imenso. Tenho muita sorte de poder participar desse projeto que vem mudando a minha vida cada vez mais e para melhor, aprendi muito, tanto para minha carreira profissional, quanto na minha vida pessoal. Não conheço todos vocês da ONG, mas os que conheço, tenho carinho e respeito por todos, desejo que a S.A dure por muitos e muitos anos, que continue ajudando crianças e adolescentes carentes, carentes não só de dinheiro, mas de amor, de carinho. Porque é isso que vocês repassam para gente, é por isso que não pensamos duas vezes antes de desistir de um programa ao domingo, de uma viagem. Pra poder estar firme e forte no projeto. Vocês dão esperança que nós precisamos para acreditar que o mundo pode ser melhor, que ainda existem pessoas que se importam e se preocupam com os outros, que ainda existe solidariedade e que ainda podemos acreditar no amanhã. Obrigado a todos, tenham a certeza de que vocês não vão se arrepender de ter tido tanto trabalho, tenham a certeza de que não foi em vão. Quando vocês mais na frente se depararem com alguns de nós, com homens e mulheres de bem, sentirão um enorme orgulho de ter tido participação nessa formação. Serei eternamente grata a todos vocês. Sinceros agradecimentos. Carinhosamente.
Thayanna.”



Parabéns a todos os que construíram a história da Sociedade Alternativa!






















quarta-feira, novembro 15, 2006

A CIÊNCIA VAI MATAR DEUS?

“Um pouco de filosofia inclina o homem ao ateísmo. Profunda filosofia retorna o homem à religião.”
(Voltaire)

Quando o mundo presenciou a onda de espiritualidade que varreu paises comunistas após o declínio deste modelo político, que considerava a religião o ópio do povo e combatia a idéia de Deus, logo se percebeu que o brilhante filósofo Friedrich Nietzsche – que decretou a morte de Deus – estava equivocado. Mas, em breve tempo, também logo se percebeu que este assunto seria ciclicamente requentado, noutras palavras e proposições. É o que está acontecendo agora, pelas vozes do zoólogo britânico Richard Dawkins, do neurocientista americano Sam Harris e do pesquisador Daniel C. Dennett que, sem argumentos inovadores, seguem os rastros de Carl Sagan.
A revista Época desta semana, edição nº 443, de 13 de novembro de 2006, traz como matéria de capa a pergunta A Ciência vai Matar Deus? A matéria – muito boa – trata do que se convencionou chamar de Novo Ateísmo. São cientistas prestigiados no meio acadêmico que estão tentando dar fôlego à velha discussão Ciência versus Religião, tendo como discussão de fundo a tese de inexistência de Deus.
Alegam, principalmente, que a crença em Deus é uma herança retrógrada e que os religiosos atrasam a evolução científica e tornaram-se perigosos, na última década, face uma reaproximação do Estado, em várias partes do mundo. Aduzem, ainda, que não há provas concretas da existência de Deus e que o acaso dá a explicação, onde as leis naturais não podem explicar.
Questões como essas são por natureza polêmicas. Futebol e política também são, mas não envolvem a própria visão de mundo e, de tabela, a atitude que cada ser humano adota em vários aspectos de sua vida pública e privada. Portanto, a discussão é mais apaixonada, já que envolve não apenas crença – como somos tentados a achar -, mas sim e principalmente o que somos. Ver negada sua visão de mundo, nesta perspectiva, é ver julgada a própria condução de sua vida, é ver ameaçada sua própria identidade, a essência de si próprio.
Ciência e Religião já atravessaram pungentes crises existenciais – ao preço de muito sofrimento e conflitos -, como a que a física quântica provocou nos físicos clássicos e como a causada no âmbito da Igreja pela queda do sistema geocêntrico.
Nada mais razoável, dessarte, do que buscar respeitar cada visão de mundo na condição de verdade relativa, postura que, não raro, ambos os lados ignoram para dar vazão a extremismos e agressões tão apaixonadas quanto dispensáveis.
Duas inserções preliminares se impõem, antes de analisar a pergunta proposta pela revista. Primeiro é deixar claro que não existe o ente individual chamado Ciência, assim como também não existe Religião, neste enfoque restrito. Há várias Ciências, da mesma forma como existem diversas Religiões. Portanto, quando um grupo de cientistas – por mais respeitável que seja – resolve alardear a sua verdade, esta, a rigor, não é a verdade da Ciência, a menos que seja algo objetivo e consensual, coisa que está longe, muito longe de ser o caso em questão. Aceitar isso, seria o mesmo que aceitar que o Papa falasse em nome do Budismo, do Espiritismo, do Islamismo e do Hinduísmo.
Portanto, não se pode dizer que a Ciência está tentando matar Deus. Não é bem assim. Uma linha de cientistas defende sim idéias atéias, mas geralmente são de campos ligados ao evolucionismo, seja na área biológica, psicológica ou social. Aliás, fina ironia essa, já que Alfred Russel Wallace, o naturalista britânico que estabeleceu as bases do evolucionismo depois aperfeiçoado por Charles Darwin, acreditava em Deus e era simpatizante da doutrina espírita.
Em verdade, deve-se ter claro que nunca as universidades aceitaram tantas teses e pesquisas ligadas a fenômenos espirituais. Os cursos de graduação e pós-graduação em universidades tradicionais já têm na grade curricular disciplinas que abordam tais temáticas com responsabilidade e respeito e já se contam aos milhares os cientistas de renome, como alguns citados na reportagem da revista Época, que defendem com racionalidade tais fenômenos e, em especial, a existência de Deus. Portanto, é inadequada a afirmação de que a Ciência tenta matar Deus. Atualmente, as parcerias e frentes de conciliação entre Ciência e Religião são muito mais amplas e crescentes do que os front de batalha.
A segunda inserção é que não é exato associar rigidamente Deus à Religião, não obstante isso seja quase inevitável. Em verdade, há religião sem Deus e há Deus sem religião. No Budismo não existe a figura de Deus e, no segundo caso, cada vez mais cresce o número de pessoas que – sem religião – acreditam apenas em Deus. Noutro giro, importa dizer que embora a crença monoteísta seja a mais popular no planeta, ainda existem centenas de Deuses cultuados mundo a fora, sob os mais variados títulos e perfis. Então, convém perguntar: Qual Deus tais cientistas querem matar?
Melhor focando pode-se afirmar que é a visão antropomórfica de Deus, cheio de características e tendências humanas, que está nitidamente em declínio e a Ciência, realmente, a combaterá, com justas razões. Essa, aliás, era a visão da qual Albert Einstein se esquivava, não da idéia de um Criador, de uma Inteligência ordenadora do Universo.
À propósito, a primeira questão do Livro dos Espíritos é dedicada ao tema. Kardec inaugura a grande obra perguntando: “Que é Deus?”. Note-se que Kardec não pergunta “Quem é Deus?”, visão antropomórfica, nem pergunta “O que é Deus?”, visão materialista. Em resposta os espíritos superiores respondem: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”
Conforme se verá à frente, a informação dos espíritos está em consonância com a proposição mais moderna do universo autoconsciente, para usar uma expressão cunhada por Amit Goswami, físico indiano, Ph.D em física quântica. Feitas tais considerações e dada a visão espírita de Deus, vejamos vários aspectos do tema, notadamente algumas reflexões em contraponto ao Novo Ateísmo.
Sobre acusações e desconfianças recíprocas, há excessos e razões de ambos os lados da discussão.
Quando ateus alegam que milhares de pessoas morreram e morrem por causa de guerras religiosas, acaso estão errados? Não, eles estão certos. Mas estão errados os religiosos quando lembram àqueles que a Ciência que desvendou o poder dos átomos, foi a mesma que desenvolveu a malfadada bomba atômica, militarizou a Ciência, praticou a guerra suja, matando milhares com dores atrozes, através de gazes tóxicos e de agentes biológicos, em guerras religiosas e não religiosas? Não! Acaso, uma é menos reprovável que outra?
Quando os céticos lembram que muitas maldades foram feitas em nome de Deus, não há como negar. A história está aí e o noticiário a confirma todos os dias. Olvidam, no entanto, que a ciência nazista fez bizarros experimentos científicos com humanos em nome da Ciência, praticou a eugenia, e era representada, à época, por vários cientistas ganhadores do prêmio Nobel, não sendo demais lembrar que ainda hoje estouram, vez por outra, denúncias sobre o tráfico de órgãos humanos em países pobres, sobre o uso indevido de fetos humanos para fins inescrupulosos e de experimentos duvidosos com cobaias humanas, tudo sob os auspícios de cientistas bem conceituados mundo a fora. Denunciando este submundo da Ciência, Andrew Goliszek escreveu o impactante livro Cobaias Humanas – a história secreta do sofrimento provocado em nome da ciência. Ainda assim, quem pode negar os benefícios que a Religião e Ciência oferecem à humanidade?
Os ateus combatem com vigor xiita e ar heróico fraudes de charlatães que lucram à custa da crença alheia, mas não atentam que isso, com não menos freqüência, acontece no meio científico, onde pesquisas mal conduzidas são aplicadas em remédios que entram e saem do mercado por comprovados danos à saúde pública. Em fevereiro de 2004, a prestigiada revista Science divulgou com barulho o suposto sucesso da pesquisa do coreano Woo-Suk-Hwang, que teria conseguido a produção inédita de células-tronco embrionárias clonadas a partir de células adultas de pacientes sadios. Tratava-se de um avanço revolucionário para o futuro do tratamento à base de células-tronco, o que levou esperança a milhares de pessoas no mundo. No final de 2005, início de 2006 o mundo ficou estarrecido com a descoberta da fraude, através da manipulação de dados. Imediatamente a comunidade científica admitiu, a contragosto e constrangida, que mesmo os mais rigorosos controles de pesquisas são vulneráveis a fraudes, campo que os cientistas céticos adoram combater, com soberba, quando se fala em fenômenos espirituais. Tais fatos nos autorizam concluir que todas as pesquisas científicas de céticos e de religiosos são fraudes?
Quando ateus reclamam de extremismos que impediram a Ciência progredir, a preço de perseguições a cientistas notáveis, acaso isso não existe? Existe sim, por certo e muitos são e foram os casos, que o diga Galileu e Giordano Bruno. Menos verdade não é, contudo, que também cientistas de renome foram vítimas de preconceito e perseguição no meio acadêmico por defenderem idéias deístas, holísticas e\ou religiosas. Basta citar o festejado Sir William Crookes, no século XIX e, mais recentemente, os físicos Fritjof Capra e Amit Goswami, o psicólogo Raymond Moody e um dos fundadores da Psicologia Transpessoal, Dr. Stalislav Grof, entre tantos outros que foram hostilizados e viram as portas das academias se fecharem por defenderem idéias que desagradavam o senso comum da comunidade científica. Devemos, então, imputar a culpa a apenas um dos lados?
Ateus combatem o que acham ser a espoliação de mentes e vidas à custa da ignorância para manter benefícios e privilégios a religiosos. Jesus já havia combatido nesta arena. Os cientistas, contudo, não são exatamente modelos de humildade e desprendimento. Lembremos que a Ciência cobra preço de muitas vidas, especialmente em países pobres que não podem pagar patentes, nem conseguem arcar com o custo dos tratamentos de ponta. Hoje já se sabe, pela boca de especialistas e cientistas respeitados, que a indústria farmacêutica investe mais em marketing do que em pesquisas – especialmente em relação a doenças típicas do Terceiro Mundo - e que um dos maiores clientes da Ciência é a indústria da guerra, mas pouca gente se incomoda com isso. Por causa disso, devemos desacreditar os bons religiosos e cientistas?
Ateus preferem o pragmatismo, alegam que todos devem ter direito à realidade, à verdade nua e crua, doa o que doer e tecem críticas ácidas ao que chamam viver em sonhos e numa vida futura. Não observam, todavia, que é a própria Ciência que comprovou que, em média, os religiosos são mais felizes e tem provado os muitos e diversos benefícios da espiritualidade na vida cotidiana. Por que então não dar sentimento à Ciência e racionalidade à Religião?
Quando ateus reclamam que os religiosos acreditam em tudo sem raciocinar, isso é mentira? De regra não. Infelizmente, criou-se essa barreira e muitos apenas se preocupam com a fé, mesmo que irracional. Contudo, diferente não é o caso dos ateus, não raro tão ou mais radicais que religiosos, pois negam, peremptória e açodadamente, tudo, sem sequer se dar o trabalho de investigar a fundo, com imparcialidade e distância, o que – como proposição científica – é dever primeiro, intransponível e inconciliável com qualquer pré-julgamento. Ou seja, os ateus crêem tanto na razão absoluta que a desprezam. Seria o caso de se perguntar: bom senso e humildade faria mal a ateus e religiosos?
Quando ateus rechaçam furtivas ao mistério da fé ante o inexplicável, esquecem que adoram alegar que a Ciência, quando em igual situação, apenas não detém todas as respostas agora, mas que em algum momento no futuro (vejam a contradição subjetiva deste tipo de fé) haverá explicação. Não apenas isso, a tudo que não têm explicação, atribuem ao ente poderoso por eles cultuado: o Acaso. Não já passou da hora de enfrentar as limitações do conhecimento humano?
Como se vê, a Ciência, com toda sua importância e beleza, é limitada, comete erros e exige fé.
Calha com exatidão o belíssimo e lapidar texto-carta O Credo da Ciência do impar filósofo e educador catarinense Huberto Rohden, no seu mais festejado livro De Alma para Alma, in verbis:
“Meu caro amigo. Recebi tuas felicitações – muito obrigado.
Atingi o “vértice da pirâmide” – dizes.
Enchi de mil conhecimentos o espírito – é verdade.
Cinge-me a fronte o laurel de doutor – sou acadêmico.
Entretanto – não me iludo...
Quase todo o humano saber – é crer...
Nossa ciência - é fé.
Creio no testemunho dos historiadores – porque não presenciei o que referem.
Creio na palavra dos químicos e físicos – porque admito que não se tenham enganado nem me queiram enganar.
Creio na autoridade dos matemáticos e astrônomos – porque não sei medir uma só das distâncias e trajetórias siderais.
Tenho de crer em quase todas as teses e hipóteses da ciência – porque ultrapassam os horizontes da minha capacidade de compreensão.
Creio até nas coisas mais cotidianas – na matéria e na força que me circundam...
Creio em moléculas e átomos, em elétrons e prótons – que nunca vi...
Creio nas emanações do radium e nas partículas do helium – enigmas ultramicroscópicos.
Creio no magnetismo e na eletricidade – esses mistérios de cada dia.
Creio na gravitação dos corpos sidéreos – cuja natureza ignoro.
Creio no princípio vital da planta e do animal – que ninguém sabe definir.
Creio na própria alma – esse mistério dentro do Eu.
Não te admires, meu amigo, de que eu, formado em ciências naturais, creia piamente em tudo isso...
Admira-te antes de quem afirme só admitir o que compreende – depois de tantos atos de fé cotidiana.
O que me espanta é que homens que vivem de atos de crença descreiam de Deus – “por motivos científicos”.
Homem! Tu, que não compreendes o artefato – pretendes compreender o Artífice?
Que Deus seria esse que em tua inteligência coubesse?
Um mar que coubesse numa concha de molusco – ainda seria mar?
Um universo encerrado num dedal – que nome mereceria?
O Infinito circunscrito pelo finito – seria Infinito?
Convence-te, ó homem, desta verdade: só há duas categorias de seres que estão dispensados de crer: os da meia-noite – e os do meio-dia...
As trevas noturnas do irracional – e a luz meridiana da Divindade...
O insciente – e o onisciente.
Aquele por incapacidade absoluta – este por absoluta perfeição...
O que oscila entre a treva total do insciente e a luz integral do onisciente – deves crer...
Deves crer, porque a fé se move nesse mundo crepuscular, eqüidistante do vácuo e da plenitude, da meia-noite e do meio-dia...”

Após esse arrebatamento de idéias, a passagem evangélica de Mateus, 11:25 fica mais clara: “Disse, então, Jesus estas palavras: “Graças te rendo, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos.”
A humanidade agradeceria, se as mãos ora ocupadas com pedras, fossem entrelaçadas, para melhorarmos Ciência e Religião.