segunda-feira, janeiro 29, 2007

LEI DE CAUSA E EFEITO




“Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para fogueira.”
(Leon Tolstoi)



Dois náufragos estavam já havia uma semana numa ilha deserta. Abatidos pelo cansaço, estresse, sede e uma aguda fome, já pressentiam o pior. Um deles, mais desesperado, prostrou-se de joelhos à beira do mar e pôs-se a rezar, como já não fazia desde criança: _ Meu Deus, me ajude por favor. Não quero morrer. Mande-nos socorro... Sei que não tenho sido um ótimo cristão, mas prometo que se for salvo serei uma pessoa melhor. Não serei mais um egoísta, não trairei mais minha mulher, não serei um maledicente, doarei todos os meus bens para instituições de caridade...
_ Ei, para! Gritou o outro náufrago. _ Para de te comprometer que lá vem um barco.
Que figura.
Adeptos ou não de uma teoria ou crença, todos nós temos uma visão do universo e sobre os fenômenos da vida. Essa visão é que explica os fatos e influencia diretamente sobre nosso modo de pensar e agir.
Para muitos o que vale é o esforço do homem. Ele é o senhor do seu destino, independentemente de qualquer coisa. Para outros, somos reféns do destino, já nascemos com sorte ou azar, pouco ou nada importando nossos esforços. Muitos acreditam em milagres, na miraculosa intervenção divina em favor de nossas vidas. Outros ainda acham que o acaso é o senhor da vida e que procurar uma ordem ou razão superior para a vida é pura quimera.
Todas as crenças merecem respeito. Vejamos a visão espírita.
Como funciona o universo?
Ele é aleatório? Irracional? Muda conforme as circunstâncias?
Não, o universo não é aleatório, mas sábio e estável.
Em verdade, o universo é retributivo.
Quer isso dizer que existem leis eternas e imutáveis que criam circunstâncias adequadas para a evolução espiritual, para que avancemos aprendendo.
Uma dessas leis é a lei de causa e efeito.
A melhor explicação para esta lei está no evangelho: “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.”
Ou seja, nossas ações ecoam no universo que, por ser retributivo, devolverá à sua fonte de ação os efeitos - bênçãos ou sofrimentos - correspondentes. Não se planta pimenta para se colher morangos. A cada um segundo suas obras, ensinou Jesus.
A lei de causa e efeito está na base da Justiça Divina.
Não sem razão que Jesus advertiu Pedro, quando este quis reagir à sua prisão: “embainha tua espada Pedro, quem com a espada ferir, com a espada será ferido.”
Então você poderá me questionar: se é assim, por que muitos criminosos levam a vida numa boa? Por que pessoas perversas não têm um fim com proporcional sofrimento? Por que tantas pessoas de bem são vitimadas por padecimentos atrozes?
Ninguém, absolutamente ninguém escapa da Justiça Divina e neste conceito entram as provas e as expiações, assunto a ser tratado noutro momento.
Quando se pratica uma ação, desencadeia-se uma reação retributiva no universo. Ou seja, provoca-se um efeito que inicia curso em direção à sua fonte de ação. Quando, como e através do que ou de quem este efeito se concretizará ninguém sabe dizer. Certo, apenas, é que ele virá, disso não há qualquer dúvida.
Nem acaso, nem destino, retribuição.
Quanto a questão acima, importa entender que a Justiça Divina não se restringe ao plano material. Todos os dias, grupos mediúnicos acessam regiões de expurgo espiritual, onde os efeitos se fazem sentir sobre espíritos comprometidos com as leis divinas, que aprendem o preço das perversidades, do mal. De lá ecoam as vozes que descrevem a força da lei. Não, não é o inferno. Este conceito não está associado a um lugar geográfico, a chifres e chamas, mas ao estado de espírito do ser, feliz ou infeliz com sua condição.
Por isso Paulo, o grande apóstolo, ensinou com precisão: “tudo posso, mas nem tudo me convém.”
Da mesma forma, mas em sentido oposto, quando se pratica o bem, o universo não conspira não. Ele retribui. Por isso, Emmanuel, o guia de Chico Xavier, ensinou: o bem que fazes é teu advogado em todo lugar. Esse o sentido do buscai e achareis, princípio crístico que tem correspondência ao karma das tradições budistas e hinduístas, que em seu conceito oriental, sânscrito, corresponde à acto ou acção.
Três esclarecimentos são importantes para compreensão da dinâmica da lei de causa e efeito: sobre as penas eternas; sobre o caráter não linear da lei de causa e efeito e sobre a lei de compensação.
Primeiro, cumpre esclarecer que não existem penas eternas. Ninguém é condenado ao céu ou ao inferno e de lá não sai mais. Isso seria negar a bondade e misericórdia divina. Como viveria uma mãe no céu sabendo que seu amado filho foi condenado ao inferno eternamente? Essa interpretação serviu para impor a fé pelo medo. Está ultrapassada. Através de outra lei, a da reencarnação, o espírito tem sucessivas chances, recebendo um corpo, uma família, um trabalho e as circunstâncias de sua vida, conforme “suas obras”. Esse conjunto de fatores e circunstâncias serão as mais adequadas à sua evolução. É sua nova chance. Por exemplo, o prepotente reencarnará para ser provado em situações humilhantes, terá fracassos, decepções e freios à sua vaidade, cruzará recorrentemente com pessoas prepotentes – até pela lei de afinidade -, para aprender a ser humilde, manso, simples. O avaro provará as necessidades, a pobreza, a perda de bens, para aprender o desapego. O egoísta será golpeado em sua individualidade e personalismo, provará a solidão, o isolamento, precisará da ajuda de grupos, de equipes, para aprender o valor do conjunto, do repartir, do pensar no outro. Cada um receberá do universo as condições ideais para que cresça. Na medida que se melhora, atrai pessoas e situações afins. Bem atrai o bem, mal atrai o mal. Logo, se aproveita sua nova chance, não precisará passar por tão duras provas e expiações. Assim é a dinâmica geral, com múltiplas variantes e combinações. Ou seja, não há penas eternas, a cada reencarnação, o aluno recebe as lições adequadas a seu grau de evolução.
Outro esclarecimento é que a lei de causa e efeito não é linear. Ou seja, se você fez alguém perder um braço, não necessariamente você perderá um braço. Isso é lei do Talião: olho por olho, dente por dente. A lei de Deus é sábia e bondosa. O universo forja uma dinâmica onde o que importa não é devolver um castigo, uma punição, mas propiciar um crescimento. Quando Jesus advertiu Pedro para que embainhasse sua espada, referia-se ao valor moral de forma figurada. Quem pela espada (orgulho, por exemplo) ferir, pelo orgulho será ferido. A lei dá condições adequadas para que o espírito perceba e entronize, por sua própria vivência – maravilhosa ou tormentosa – as diferenças entre o bem e o mal para saber exercitar seu livre arbítrio. O que importa é a experiência em prol do crescimento, não a punição, o castigo.
Por fim, um derradeiro esclarecimento. Ao contrário do que ensina o Budismo, o carma – resultado da lei de causa e efeito – não é irreversível. Deus, em sua bondade, permitiu-nos amenizar ou mesmo neutralizar o efeito que desencadeamos no universo através da lei de compensação. Podemos compensar nossos atos maus, com novos atos bons. Por isso que Gandhi palestrou com precisão, que um homem que ama neutraliza milhões que odeiam e Jesus assinalou que o amor move montanhas. Não se reportava a um acidente geológico, mas a montanhas de “pecados”, os carmas que geramos. Há quem pense que, sendo assim, pode fazer o que quiser e depois praticar a caridade para compensar. São muitas as mensagens do plano espiritual que vaticinam que o que vale é a intenção. Caridade interesseira é nula.
O espírita-cristão, na medida que conhece a dinâmica do universo, melhor compreende a vida e, embora falível, pensa mil vezes antes de praticar atos que prejudiquem a si, ao próximo, à sociedade, à natureza, pois sabe que dispara efeito no universo que irá alcançá-lo, cedo ou tarde. Portanto, o mal que faz a outrem a si mesmo se faz. Por isso, luta para ser uma pessoa melhor, compreende que a vingança tem efeito bumerangue e lhe atrasa a evolução, aprende a se resignar e não reclamar das dificuldades, sabe que não existe injustiça e que podemos plantar nosso futuro, semeando agora.
Avalie o que você recebeu do universo até este momento e poderás ter superficial noção sobre o que você semeou. Examine o que você está fazendo na atual vida e poderás vislumbrar a futura retribuição que receberás.
Ah, e se você um dia ficar ilhado e for socorrido, não seja ingrato, agradeça, pois embora o universo não seja rancoroso, é sábio e retributivo.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

RADAR




MEDIUNIDADE EM CRIANÇAS

A revista Isto É, desta semana, traz como matéria de capa a mediunidade em crianças e atesta, com razão, o crescimento dos casos e os cuidados pertinentes. Destaque para as participações do médico Sérgio Felipe, Presidente da Associação Médico Espírita de São Paulo e do paraense Nazareno Tourinho, estudioso da doutrina espírita, membro da Academia Paraense de Letras e autor de livro sobre o assunto. Vale conferir.



POR UM MUNDO MELHOR



PESQUISA COM CÉLULAS TRONCO


Esta semana cientistas divulgaram sucesso em técnicas de extração de células tronco do cordão umbilical, poupando, assim, a vida de embriões, o que poria fim à discussão e polêmica sobre esse importante tratamento.
É, de fato, uma descoberta maravilhosa que poderá beneficiar milhões de pessoas com doenças graves, sem prejudicar a vida de outros.

EFEITO ESTUFA


No início desta semana, quando o tempo mostra-se enfurecido no mundo todo, representantes de vários paises europeus vieram a público informar que aumentaram as metas para redução das emissões de gazes causadores do efeito estufa para 20%. Segundo ambientalistas não é o suficiente, mas é um passo relevante.

sábado, janeiro 06, 2007

SOU ASSIM:GENES OU AMBIENTE?




“O Homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira coisas más.” (Mateus 12:31-37)



É comum se ouvir de quem é inflexível a mudanças: sou assim e pronto. Outros vão mais longe: nasci assim. Geralmente, por trás desse discurso está a justificativa para não tentar o novo e a explicação do congelamento do eu.
Voltou à pauta, no âmbito da genética do comportamento, a grande discussão sobre saber até onde nosso repertório de genes influencia no que somos. Muitos pensadores já se pronunciaram sobre o tema. Para uns é a carga genética que determina quem somos. Do outro lado da trincheira, os que acreditam que é o ambiente (cultural, social, histórico, emocional, etc). Freud ficaria perplexo, pois a importância dos traumas de infância, das repressões da sexualidade e da educação perderam espaço para o que se convencionou chamar de determinismo genético. Segundo essa corrente de cientistas, já nascemos condenados a sermos o que somos pela nossa herança genética. Somos apenas projeções de nossos genes.
O livro que fez a síntese inicial dessa teoria é O Gene Egoísta, lançado em 1976, de autoria do biólogo inglês Richard Dawkins. Segundo o livro, somos programados por nossa carga genética a fazer tudo o que for necessário para transmiti-la às próximas gerações. Esse esforço prescindiria de valores éticos e morais. Não, o fim não é a simples perpetuação da espécie, como se defendia até então. É a transmissão egoísta da carga genética do indivíduo.
A teoria – acusada de reducionista genética pela Psicologia Evolutiva – também não explica a sobrevivência da solidariedade e da generosidade. Pela teoria do determinismo genético, nossos genes nos conduziriam a atos egoísticos onde sempre buscaríamos vantagens para podermos sobreviver à seleção natural e transmitir nossos genes. Na generosidade e solidariedade altruísta se faz justamente o contrário. Abre-se mão de algo para fortalecer alguém que poderia ser eliminado pela “seleção natural”. Como explicar, então, que este comportamento não só sobreviva, como se expanda? Eles não têm essa resposta, mas especulam bastante.
Para os deterministas mais extremados, como o biólogo americano James Watson – um dos descobridores da estrutura do DNA, que revolucionou a Ciência -, a burrice, por exemplo, é uma doença. Aliás, é comum a fala de que a educação tem papel periférico no destino das pessoas, se a carga genética não ajudar. Quem tiver de ser um imbecil, um grosso ou um assassino, já estaria previamente condenado – por um jogo fortuito de probabilidades do destino – ao inferno de si mesmo.
Por isso, o mesmo James Watson defende abertamente aborto de bebês com síndrome de Down, sob a afirmação de que “alguns verão a síndrome como sendo a vontade de Deus. Eu a vejo como uma falha biológica: no lugar de ter duas cópias do cromossomo 21, ela tem três, e isso produz a anormalidade. Não vejo propósito no nascimento de quem vai levar uma vida menor, restrita”, comentou à Revista Veja, de 24 de agosto de 2005.
A discussão é atual e importante para todos, não apenas para os cientistas. Esta discussão envolve o modelo de sociedade que queremos. Na medida que a tecnologia avança, novos exames permitem identificar se você é portador de determinado gene, que pode estar associado à violência, por exemplo. Por esta teoria, você terá inclinações agressivas, talvez assassinas e nada mudará isso substancialmente, nem mesmo seu esforço, seus valores ou a educação que você recebeu. Nos foros de Bioética discute-se se essa é uma informação pessoal e, portanto, privada ou se ela é uma informação pública, que não deve ser protegida pelo sigilo, mas usada para proteger a sociedade. O Estado deve se antecipar e com base nas informações genéticas, evitar supostos crimes, impor restrições ou monitorar certos grupos com destino genético definido? Poderia um empresário analisar – mesmo sem consentimento - o mapa genético de uma pessoa antes de empregá-la em sua empresa? E o que falar dos pais em relação a escolha das “características” de personalidade dos filhos? Imagine o romantismo: você lendo o mapa genético de seu noivo antes de aceitar o pedido de casamento? Que maravilha hein?!
Atualmente, ainda prevalece a teoria da tabula rasa. Trocando em miúdos, olha-se à criança como uma folha de papel em branco, sem tendências, sem projetos. É a educação e suas vivências psico-emocionais que moldarão sua personalidade, observando-se naturalmente os condicionamentos os históricos, culturais, etc. Esse modelo foi influenciado pela obra do filósofo inglês John Lock (1632-1704), que defende a idéia de que o ser humano não traz nenhuma característica inata, percepção aditada por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e sua teoria do “bom selvagem”, onde se ressalta que é a sociedade que degenerava o homem.
Segundo a teoria do determinismo genético, ao revés, somos um livro já escrito e que vai sendo publicado na medida que vamos vivendo a vida e vivenciando o que somos. Já nascemos prontos, o tempo apenas revela.
É, por certo, um reducionismo simplista do ser humano, que depõe o acaso do trono materialista e coroa o gene como o senhor da vida.
Nenhuma coisa, nem outra.
Kardec – muitos anos antes do calor dessa discussão – já havia perguntado aos Espíritos Superiores que o orientavam na Codificação da Doutrina Espírita. Vejamos:
Questão 846. Sobre os atos da vida nenhuma influência exerce o organismo? E, se essa influência existe, não será exercida com prejuízo do livre-arbítrio?
“É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria, que pode embaraçar-lhe as manifestações. Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não dá a faculdade. Além disso, cumpre se distingam as faculdades morais das intelectuais. Tendo um homem o instinto do assassino, seu próprio Espírito é, indubitavelmente, quem possui esse instinto e quem lho dá; não são seus órgãos que lho dão. Semelhante ao bruto, e ainda pior do que este, se torna aquele que nulifica o seu pensamento, para só se ocupar com a matéria, pois que não cuida mais de se premunir contra o mal. Nisto é que incorre em falta, porquanto assim procede por vontade sua.”
A Ciência tem avançado muito em descobertas, mas o modelo materialista distorce a interpretação dos mecanismos que ela descobre. Vejamos breve explicação comparativa. A reencarnação vem sendo cada vez mais estudada pela Ciência e atestada. Através da Terapia de Vidas (ou Vivências) Passadas têm-se avançado nas descobertas e já se pode desenhar, linhas gerais, a dinâmica que influencia na herança genética que temos e que receberemos nas próximas reencarnações.
José – fixemos um exemplo - em uma reencarnação passada era um guerreiro persa violento e cruel, morreu pela espada. Renasce, tempos depois, na condição de senhor feudal. Ainda traz consigo personalidade agressiva e o corpo ostenta deficiência física equivalente aos males que causou e em razão do tipo de morte que sofreu. Mesmo assim, como senhor feudal é impiedoso e continua cruel. Morre e renasce, décadas mais tarde, na condição de mulher pobre e oprimida, mas de temperamento quente. E as reencarnações se sucedem, ofertando ao espírito que mergulha na carne condições adequadas para que ele expie, aprenda, retifique condutas e evolua. Este espírito – que muda de corpo, mas é o mesmo, único, indivíduo – tem o livre-arbítrio para mudar a roda de reencarnações. Pode aprender a controlar sua agressividade, educar-se, ser mais generoso, mas tem liberdade para continuar perverso, vingativo, irascível. Seus atos, em sucessivas reencarnações, reverberam através da lei de causa e efeito em seu corpo espiritual (perispírito) que é, em verdade, o molde do corpo material ou físico.
Como se dá esta moldagem? Todo e qualquer ato repercute no corpo espiritual para sublimá-lo – tornando-o reluzente, são, ágil e leve como provam as visões de “Santos” – ou para lhe causar lesões em sua constituição energética intima, como provam as visões de espíritos inferiores que se confundem com demônios, tamanha a degradação do perispírito ou do modelo organizador biológico, expressão cunhada do saudoso mestre Hernani Guimarães Andrade. Estas lesões estão associadas a herança genética e confirmam o ditado mente sã corpo são. O que os geneticistas chamam defeito, o espírita chama de carma. Assim, a sabedoria divina dá – conforme ensina a Bíblia - a cada um conforme suas obras e ao mesmo tempo estabelece controles de condutas para que o espírito não se complique ainda mais. O irritado terá de controlar-se porque sua herança genética lhe impõe pressão alta. O vingativo de tantas encarnações receberá um coração debilitado, para conter sua cólera. O glutão de outrora pode vir com a herança genética da diabetes. O gênio perverso do passado pode vir autista e assim por diante.
Não estou com isso dizendo que todo autista foi um gênio perverso. É apenas um exemplo didático. A sabedoria divina tem dinâmica própria e complexa, cujas combinações multiplicam-se ao infinito.
A Ciência ao ler o mapa genético do autista dirá: ele é autista por ser portador de um gene defeituoso e os mais extremistas dirão que é uma existência sem proveito. O espírita verá o mesmo mapa genético e o associará ao mapa cármico para concluir: este irmão é um espírito em evolução que foi abençoado com uma limitação ou doença física que lhe dará melhores condições para exercer seu livre-arbítrio e assim garantir sua evolução espiritual.
Essa é a grande diferença de percepções. Uma acanhada à matéria, reducionista e simplista, a outra - a espírita -, é ampla, lógica, simples.
Portanto, não se deve confundir o efeito com a causa. Os órgãos não nos dão as faculdades do espírito. É neste que reside as potências da alma, cujos órgãos são apenas instrumentos que as externam, plena ou limitadamente conforme situação do perispírito, molde do corpo físico.
Ainda sobre esta questão, Kadec perguntou aos Espíritos Puros:
Questão 369. O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
“Os órgãos são instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”
Como se vê, é o Espírito que molda o corpo e aciona – conforme o carma e atitudes – as características físicas e a condição saudável ou enferma do soma.
Isto explica porque algumas pessoas tendo genes de determinadas doenças, não as desenvolvem. Ou seja, é a atitude do espírito encarnado combinado com a reversibilidade ou não de seu carma que ativarão ou não os genes defeituosos. Eles estão lá, moldados, adormecidos, mas é pela via do espírito que a matéria dinamiza-se e revela-se para nossa felicidade ou sofrimento.
Sobre o livre-arbítrio e as tendências que o espírito traz consigo ao aprisionar-se na carne, Kardec questiona:
Questão 845. Não constituem obstáculos ao exercício do livre-arbítrio as predisposições instintivas que o homem já traz consigo ao nascer?
“As predisposições instintivas são as do Espírito antes de encarnar. Conforme seja este mais ou menos adiantado, elas podem arrastá-lo à prática de atos repreensíveis, no que será secundado por Espíritos que simpatizam com essas disposições. Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder.”
Resumindo: pelo que já olhamos, os genes determinam o olho, mas não o olhar à frente.
Nem página em branco, nem livro escrito.
Somos reflexos de ontem e projetos do amanhã.
Ou seja, somos história viva, artífices de nós mesmos. Não somos, nem seremos, estamos em construção.
Diante do culto materialista do determinismo genético ao novo Deus Gene, caberia pitoresca oração:
Gen nosso que é o Céu.
Santificado seja o teu código
Venha a nós o nosso jeito
Já que não temos mais vontade
Aqui na Terra ou no Céu
O Genoma nosso de cada dia nos daí hoje.
Perdoai as nossas crenças
Assim como perdoamos a educação e o livre-arbítrio
Nos deixai cair em tentação,
Pois já não há mal.
Ah Gene.