sábado, janeiro 06, 2007

SOU ASSIM:GENES OU AMBIENTE?




“O Homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira coisas más.” (Mateus 12:31-37)



É comum se ouvir de quem é inflexível a mudanças: sou assim e pronto. Outros vão mais longe: nasci assim. Geralmente, por trás desse discurso está a justificativa para não tentar o novo e a explicação do congelamento do eu.
Voltou à pauta, no âmbito da genética do comportamento, a grande discussão sobre saber até onde nosso repertório de genes influencia no que somos. Muitos pensadores já se pronunciaram sobre o tema. Para uns é a carga genética que determina quem somos. Do outro lado da trincheira, os que acreditam que é o ambiente (cultural, social, histórico, emocional, etc). Freud ficaria perplexo, pois a importância dos traumas de infância, das repressões da sexualidade e da educação perderam espaço para o que se convencionou chamar de determinismo genético. Segundo essa corrente de cientistas, já nascemos condenados a sermos o que somos pela nossa herança genética. Somos apenas projeções de nossos genes.
O livro que fez a síntese inicial dessa teoria é O Gene Egoísta, lançado em 1976, de autoria do biólogo inglês Richard Dawkins. Segundo o livro, somos programados por nossa carga genética a fazer tudo o que for necessário para transmiti-la às próximas gerações. Esse esforço prescindiria de valores éticos e morais. Não, o fim não é a simples perpetuação da espécie, como se defendia até então. É a transmissão egoísta da carga genética do indivíduo.
A teoria – acusada de reducionista genética pela Psicologia Evolutiva – também não explica a sobrevivência da solidariedade e da generosidade. Pela teoria do determinismo genético, nossos genes nos conduziriam a atos egoísticos onde sempre buscaríamos vantagens para podermos sobreviver à seleção natural e transmitir nossos genes. Na generosidade e solidariedade altruísta se faz justamente o contrário. Abre-se mão de algo para fortalecer alguém que poderia ser eliminado pela “seleção natural”. Como explicar, então, que este comportamento não só sobreviva, como se expanda? Eles não têm essa resposta, mas especulam bastante.
Para os deterministas mais extremados, como o biólogo americano James Watson – um dos descobridores da estrutura do DNA, que revolucionou a Ciência -, a burrice, por exemplo, é uma doença. Aliás, é comum a fala de que a educação tem papel periférico no destino das pessoas, se a carga genética não ajudar. Quem tiver de ser um imbecil, um grosso ou um assassino, já estaria previamente condenado – por um jogo fortuito de probabilidades do destino – ao inferno de si mesmo.
Por isso, o mesmo James Watson defende abertamente aborto de bebês com síndrome de Down, sob a afirmação de que “alguns verão a síndrome como sendo a vontade de Deus. Eu a vejo como uma falha biológica: no lugar de ter duas cópias do cromossomo 21, ela tem três, e isso produz a anormalidade. Não vejo propósito no nascimento de quem vai levar uma vida menor, restrita”, comentou à Revista Veja, de 24 de agosto de 2005.
A discussão é atual e importante para todos, não apenas para os cientistas. Esta discussão envolve o modelo de sociedade que queremos. Na medida que a tecnologia avança, novos exames permitem identificar se você é portador de determinado gene, que pode estar associado à violência, por exemplo. Por esta teoria, você terá inclinações agressivas, talvez assassinas e nada mudará isso substancialmente, nem mesmo seu esforço, seus valores ou a educação que você recebeu. Nos foros de Bioética discute-se se essa é uma informação pessoal e, portanto, privada ou se ela é uma informação pública, que não deve ser protegida pelo sigilo, mas usada para proteger a sociedade. O Estado deve se antecipar e com base nas informações genéticas, evitar supostos crimes, impor restrições ou monitorar certos grupos com destino genético definido? Poderia um empresário analisar – mesmo sem consentimento - o mapa genético de uma pessoa antes de empregá-la em sua empresa? E o que falar dos pais em relação a escolha das “características” de personalidade dos filhos? Imagine o romantismo: você lendo o mapa genético de seu noivo antes de aceitar o pedido de casamento? Que maravilha hein?!
Atualmente, ainda prevalece a teoria da tabula rasa. Trocando em miúdos, olha-se à criança como uma folha de papel em branco, sem tendências, sem projetos. É a educação e suas vivências psico-emocionais que moldarão sua personalidade, observando-se naturalmente os condicionamentos os históricos, culturais, etc. Esse modelo foi influenciado pela obra do filósofo inglês John Lock (1632-1704), que defende a idéia de que o ser humano não traz nenhuma característica inata, percepção aditada por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e sua teoria do “bom selvagem”, onde se ressalta que é a sociedade que degenerava o homem.
Segundo a teoria do determinismo genético, ao revés, somos um livro já escrito e que vai sendo publicado na medida que vamos vivendo a vida e vivenciando o que somos. Já nascemos prontos, o tempo apenas revela.
É, por certo, um reducionismo simplista do ser humano, que depõe o acaso do trono materialista e coroa o gene como o senhor da vida.
Nenhuma coisa, nem outra.
Kardec – muitos anos antes do calor dessa discussão – já havia perguntado aos Espíritos Superiores que o orientavam na Codificação da Doutrina Espírita. Vejamos:
Questão 846. Sobre os atos da vida nenhuma influência exerce o organismo? E, se essa influência existe, não será exercida com prejuízo do livre-arbítrio?
“É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria, que pode embaraçar-lhe as manifestações. Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não dá a faculdade. Além disso, cumpre se distingam as faculdades morais das intelectuais. Tendo um homem o instinto do assassino, seu próprio Espírito é, indubitavelmente, quem possui esse instinto e quem lho dá; não são seus órgãos que lho dão. Semelhante ao bruto, e ainda pior do que este, se torna aquele que nulifica o seu pensamento, para só se ocupar com a matéria, pois que não cuida mais de se premunir contra o mal. Nisto é que incorre em falta, porquanto assim procede por vontade sua.”
A Ciência tem avançado muito em descobertas, mas o modelo materialista distorce a interpretação dos mecanismos que ela descobre. Vejamos breve explicação comparativa. A reencarnação vem sendo cada vez mais estudada pela Ciência e atestada. Através da Terapia de Vidas (ou Vivências) Passadas têm-se avançado nas descobertas e já se pode desenhar, linhas gerais, a dinâmica que influencia na herança genética que temos e que receberemos nas próximas reencarnações.
José – fixemos um exemplo - em uma reencarnação passada era um guerreiro persa violento e cruel, morreu pela espada. Renasce, tempos depois, na condição de senhor feudal. Ainda traz consigo personalidade agressiva e o corpo ostenta deficiência física equivalente aos males que causou e em razão do tipo de morte que sofreu. Mesmo assim, como senhor feudal é impiedoso e continua cruel. Morre e renasce, décadas mais tarde, na condição de mulher pobre e oprimida, mas de temperamento quente. E as reencarnações se sucedem, ofertando ao espírito que mergulha na carne condições adequadas para que ele expie, aprenda, retifique condutas e evolua. Este espírito – que muda de corpo, mas é o mesmo, único, indivíduo – tem o livre-arbítrio para mudar a roda de reencarnações. Pode aprender a controlar sua agressividade, educar-se, ser mais generoso, mas tem liberdade para continuar perverso, vingativo, irascível. Seus atos, em sucessivas reencarnações, reverberam através da lei de causa e efeito em seu corpo espiritual (perispírito) que é, em verdade, o molde do corpo material ou físico.
Como se dá esta moldagem? Todo e qualquer ato repercute no corpo espiritual para sublimá-lo – tornando-o reluzente, são, ágil e leve como provam as visões de “Santos” – ou para lhe causar lesões em sua constituição energética intima, como provam as visões de espíritos inferiores que se confundem com demônios, tamanha a degradação do perispírito ou do modelo organizador biológico, expressão cunhada do saudoso mestre Hernani Guimarães Andrade. Estas lesões estão associadas a herança genética e confirmam o ditado mente sã corpo são. O que os geneticistas chamam defeito, o espírita chama de carma. Assim, a sabedoria divina dá – conforme ensina a Bíblia - a cada um conforme suas obras e ao mesmo tempo estabelece controles de condutas para que o espírito não se complique ainda mais. O irritado terá de controlar-se porque sua herança genética lhe impõe pressão alta. O vingativo de tantas encarnações receberá um coração debilitado, para conter sua cólera. O glutão de outrora pode vir com a herança genética da diabetes. O gênio perverso do passado pode vir autista e assim por diante.
Não estou com isso dizendo que todo autista foi um gênio perverso. É apenas um exemplo didático. A sabedoria divina tem dinâmica própria e complexa, cujas combinações multiplicam-se ao infinito.
A Ciência ao ler o mapa genético do autista dirá: ele é autista por ser portador de um gene defeituoso e os mais extremistas dirão que é uma existência sem proveito. O espírita verá o mesmo mapa genético e o associará ao mapa cármico para concluir: este irmão é um espírito em evolução que foi abençoado com uma limitação ou doença física que lhe dará melhores condições para exercer seu livre-arbítrio e assim garantir sua evolução espiritual.
Essa é a grande diferença de percepções. Uma acanhada à matéria, reducionista e simplista, a outra - a espírita -, é ampla, lógica, simples.
Portanto, não se deve confundir o efeito com a causa. Os órgãos não nos dão as faculdades do espírito. É neste que reside as potências da alma, cujos órgãos são apenas instrumentos que as externam, plena ou limitadamente conforme situação do perispírito, molde do corpo físico.
Ainda sobre esta questão, Kadec perguntou aos Espíritos Puros:
Questão 369. O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
“Os órgãos são instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”
Como se vê, é o Espírito que molda o corpo e aciona – conforme o carma e atitudes – as características físicas e a condição saudável ou enferma do soma.
Isto explica porque algumas pessoas tendo genes de determinadas doenças, não as desenvolvem. Ou seja, é a atitude do espírito encarnado combinado com a reversibilidade ou não de seu carma que ativarão ou não os genes defeituosos. Eles estão lá, moldados, adormecidos, mas é pela via do espírito que a matéria dinamiza-se e revela-se para nossa felicidade ou sofrimento.
Sobre o livre-arbítrio e as tendências que o espírito traz consigo ao aprisionar-se na carne, Kardec questiona:
Questão 845. Não constituem obstáculos ao exercício do livre-arbítrio as predisposições instintivas que o homem já traz consigo ao nascer?
“As predisposições instintivas são as do Espírito antes de encarnar. Conforme seja este mais ou menos adiantado, elas podem arrastá-lo à prática de atos repreensíveis, no que será secundado por Espíritos que simpatizam com essas disposições. Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder.”
Resumindo: pelo que já olhamos, os genes determinam o olho, mas não o olhar à frente.
Nem página em branco, nem livro escrito.
Somos reflexos de ontem e projetos do amanhã.
Ou seja, somos história viva, artífices de nós mesmos. Não somos, nem seremos, estamos em construção.
Diante do culto materialista do determinismo genético ao novo Deus Gene, caberia pitoresca oração:
Gen nosso que é o Céu.
Santificado seja o teu código
Venha a nós o nosso jeito
Já que não temos mais vontade
Aqui na Terra ou no Céu
O Genoma nosso de cada dia nos daí hoje.
Perdoai as nossas crenças
Assim como perdoamos a educação e o livre-arbítrio
Nos deixai cair em tentação,
Pois já não há mal.
Ah Gene.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se a teoria dos geneticistas estivesse correta, seria muito fácil implantar uma sociedade justa e honesta, bastaria ir eliminando os seres humanos "geneticamente" maus.

Acredito que a discussão deveria se basear em valores vividos, reais, pois na minha humilde opinião, todos, sem exceção, temos todos os genes "bons ou ruins", nossa vida é que faz com este ou aquele se sobressaia, graças ao nosso livre arbítrio, que é uma dádiva de Deus.

Só Ele que nos deu a vida e ainda mandou seu Filho para compartilhar conosco na terra e ser cordeiro imolado, sabe o que cada um de nós é ou não capaz de ser, mas mesmo assim, nos permite escolher o que vamos ser.

Anônimo disse...

Nós temos um determinismo sim, o da evolução espiritual. Concordo plenamente com as suas palavras. Parabéns!

Julio Amandia