domingo, outubro 29, 2006

AS VÁRIAS DIMENSÕES DE MARIA – PARTE FINAL.

“O caráter do homem não reside na inteligência, mas sim no coração.”
(Jacobi)


Como dito no artigo anterior, é difícil a reconstituição do perfil de Maria, seja pela falta de informações fidedignas a respeito, sejam pelas polêmicas que muitas vezes orbitam em torno do assunto. Alguns já foram abordados aqui, como o que se refere à maternidade de Maria, se mãe de Deus ou de Jesus?
Em verdade, Jesus não é Deus. Este o criador, Jesus a criatura. É um espírito de escol, puro, muito superior à média evolutiva da humanidade, mas não é Deus. Por ser muito superior e já dominar as potências do espírito, produziu fenômenos extraordinários, o que facilitou a consolidação da idéia no povo de que Jesus era Deus. A rigor, é um dos prepostos de Deus – o mais elevado na hierarquia espiritual que a Terra já recebeu -, encarregado pela evolução do planeta Terra. Foi justamente para alavancar sua missão, que Jesus encapsulou-se na matéria, sob a tutela de Maria, com quem já sabia poder contar.
Outra polêmica comum é se Jesus foi filho único. A Igreja na tradução evangélica fala em filho unigênito (único), enquanto outros exegetas traduzem como filho primogênito (primeiro). A resposta pode ser encontrada na Epístola aos Gálatas e no Evangelho de Marcos, onde as narrativas falam de irmãos de Jesus. Em verdade, há mais, nesta discussão secundária e pouco relevante, tabus e preconceitos nossos, do que qualquer desmerecimento à Maria. Aliás, paga a Igreja, neste particular, o preço por ter criado tanta culpa em relação a sexualidade humana que, por muitos séculos, foi associada a pecado, à impureza. Acaso a grandeza, altivez e superioridade espiritual de Maria fica “manchada” por ter dado luz a outras crianças? Claro que não.
São essas, entre outras, polêmicas que ainda provocam, pontualmente, exageros e radicalismos. Alguns irmãos evangélicos – minoria, é justo consignar - extremaram o discurso e incidentes lamentáveis aconteceram, como aquele no qual um religioso chutou uma imagem de Maria.
Outro dia, ao vivo, milhões de telespectadores puderam acompanhar outro episódio hostil, desta vez com desfecho pitoresco. Um religioso palestrava – repise-se: ao vivo em programa transmitido pela TV - dizendo que Nossa Senhora não tinha qualquer poder e que este cabia apenas a Jesus. _ Vou provar para todos que Maria não tem poder! Alardeou, descendo de seu púlpito em direção ao público. Querendo provar sua teoria, ele se aproxima de um fiel em transe mediúnico obsessivo, que se debatia no chão à vista de todos, e determina com autoridade e dedo em riste: _ Sai em nome de Maria! E repetiu solenemente: _ Eu te ordeno, sai em nome de Maria! Mais que rapidamente o espírito deixa o homem, que sai do transe mediúnico. Diante do desfecho inesperado, o religioso, constrangido e sem graça, lamenta baixinho, deixando-se flagrar pelo áudio: _ Esses espíritos fazem a gente passar cada vergonha...
Contudo, de um modo geral, Maria é reconhecida em sua grandeza por outras religiões. Tome-se, por exemplo, o Islamismo, que exalta sua elevação. O próprio protestantismo, na voz de Lutero, reconhecia a importância de Maria, contestando tão-somente algumas distorções. Com o Espiritismo não é diferente, reconhece-se a elevação de Maria.
No universo tudo evolui. Tudo. E todos devem contribuir para a evolução da obra divina.
Dotados de livre arbítrio, as populações dos orbes avançam em ritmos e rumos diferentes. Nos mundos menos evoluídos e mais materiais, como a Terra, a transição positiva de idéias, tradições e comportamentos é lenta. Por isso, espíritos de alta hierarquia espiritual descem dos cumes dimensionais mais evoluídos em missão sacrificial e de amor, aptos para resistirem à fornalha da carne, de suas tentações e desvios. Vêm dar testemunho e acelerar mudanças, lançando, também, sementes que aguardarão o momento propício para eclosão.
Mas, para que um espírito de altíssima graduação espiritual tenha sucesso sobre as dificuldades da matéria, impõe-se a conjugação de esforços de outros espíritos superiores que o antecedem para preparação do caminho, tal como o agricultor fertiliza a terra para receber a sutil semente grávida de vida.
Dentre todos os espíritos que conjugaram esforços para o êxito da missão de Jesus, Mirian ou - como conhecemos -, Maria foi, quiçá, a mais importante. Espírito de luz, anjo dócil de Deus, aceitou a missão de aninhar em seu útero e lar de amor, o espírito mais evoluído que este planeta já recebeu.
A missão para além de sacrificial – porque exigia a descida de uma dimensão superior -, era também arriscada. Mesmo diante de uma missão divina, as leis que regem a matéria devem ser respeitadas e delas não podem esquivar-se os espíritos evoluídos que, ficam assim, vulneráveis às vicissitudes próprias da carne. Quer isso dizer que Maria devia fazer, rigorosamente, sua parte. Um desvio do plano, poderia inviabilizar a redenção crística.
Maria deveria viver no mundo, mas sobrepairando-lhe, em plenitude divina, preparando seu corpo, sua mente e seu lar para ambientar a poderosa luz divina que se encarceraria na carne para romper o véu da matéria densa e anunciar, noutras letras e tons, a vida celeste.
Ao contrário do que alguns exegetas especulam, Jesus e Maria se relacionavam muito bem, mesmo porque ambos já conheciam o plano divino, apenas submerso no inconsciente de Jesus por causa da barreira material.
Pode-se perceber simbolicamente a importância de Maria nos estratégicos momentos da vida de Jesus, descritos nos Evangelhos. Ela aparece no nascimento e morte de Jesus – firme aos pés da cruz -, e quando ele revela ter despertado espiritualmente, ensinando no Templo ainda criança, bem como quando publicamente fez seu primeiro “milagre”.
No planejamento espiritual, cumpria postar espíritos colaboradores próximos a Jesus. Por isso, a providência divina também uniu Maria por laço de parentesco com Isabel, que já idosa engravidou e trouxe à carne outro espírito superior encarregado dos últimos preparativos para chegada do Cristo: João Batista – a voz que clamava no deserto -, que mais tarde o batizou e deu início à parte final de sua missão.
É, por certo, o encontro das duas mulheres grávidas, uma das mais belas passagens bíblicas do Novo Testamento, registrada por Lucas (1:39,48):
“E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá, e entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel, e aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo. E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto de teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte de meu Senhor lhe foram ditas. Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; Porque atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada.”
Como se pode notar, eis a passagem evangélica que dá base à oração conhecida por Ave Maria que, adaptada pelo Catolicismo, troca “Mãe de meu Senhor” por “Mãe de Deus.”, na versão de nossos irmãos.
Jesus encontrou na doçura, dedicação, bondade e altivez da mãe as condições necessárias para despertar, sem intervenções indevidas, todas as incomensuráveis potências de seu espírito puro, ainda então se recobrando do mergulho pesado, embotador e sofrível na carne.
E é assim que devemos devotar-nos a Maria, como espírito de luz, portadora de um amor que a blindou contra as dificuldades da carne, permitindo-lhe uma dedicação extrema, mas dócil e altiva, tudo em prol da missão do Cristo.
É justamente esta natureza dócil e amável de Maria, que a habilitou a capitanear um trabalho duro, áspero, incansável no plano espiritual. Através da sublime mediunidade de Yvonne A. Pereira, o espírito Camilo Cândido Botelho noticia no livro Memórias de um Suicida, que Maria coordena a Legião dos Servos de Maria, equipe de abnegados servidores espirituais que auxiliam os suicidas.
Só pode compreender a relevância da missão mariana quem conhece as dificuldades que os suicidas têm de enfrentar quando despertam no plano espiritual. Não por acaso a força do culto mariano em Belém, cidade que por muitos anos esteve entre as três cidades com maior índice de suicídio no Brasil. Exato dizer, portanto, que Maria tutela esta cidade, entre tantas outras.
Em verdade, Maria é o arrimo de muitos sofredores, é a esperança a muitos desesperados, é a mãe de muitos órfãos do sistema, é o colo dos infantes espirituais que de tropeço em tropeço caem e, no fundo do poço, sentem o calor maternal a acalentá-los, o amor incondicional a reanimá-los.
Chico Xavier tributava pública veneração à Maria. Certa vez, Chico estava triste. Perseguido, injustiçado, fatigado de tanto trabalhar pediu a Emmanuel, seu guia, que interpelasse a mãe de Cristo. Queria ouvir algo, uma mensagem de alento, uma palavra motivadora. Tempo depois Emmanuel reaparece e Chico, ansioso, questiona: Que tal Emmanuel? Falou com ela? Emmanuel confirmou. _ O que ela falou? _ Tudo passa Chico, tudo passa.
Afinal, quem não precisa desta mensagem consoladora?

2 comentários:

Aline disse...

Magnífico artigo. Sou Católica e fiquei maravilhada com esta abordagem espiríta de Nossa Senhora. Parabéns ao escritor.

Patrícia Munick disse...

Realmente é muito lindo. Uma justa homenagem a nossa Grande Mãe. Só conhece o seu poder e a força do seu amor quem experimenta! Assista ao vídeo no You Tube: Maria e o Anjo. É lindo!